'A Tartaruga' do Neruda lembra tantas coisas que foram belas, mas que se fossilizaram
A tartaruga que andou tanto tempo e tanto viu com seus antigos olhos, a tartaruga que comeu azeitonas do mais profundo mar, a tartaruga que nadou sete sĆ©culos e conheceu sete mil primaveras, a tartaruga blindada contra o calor e o frio, contra os raios e as ondas, a tartaruga amarela e prateada com severos lunares ambarinos e pĆ©s de rapina, a tartaruga ficou aqui dormindo e nĆ£o sabe De tĆ£o velha se foi pondo dura, deixou de amar as ondas e foi rĆgida como o ferro de passar Fechou os olhos que tanto mar, cĆ©u, tempo e terra desafiaram, e dormiu entre as outras pedras. Pablo Neruda, (1904/1973)