Fernando Brito: O incrível ‘jornalismo’ brasileiro nem liga para R$ 30 bi
Por Fernando Brito - no Tijolaço
Imagine se Lula, presidente , fosse a um evento de sindicalistas e anunciasse que estava disposto a dar , de uma só vez, um prejuízo de R$ 30 bilhões à Petrobras, para instalar uma CPI sobre os leilões de concessão de exploração de petróleo no Brasil.
Deixo ao leitor e à leitora da fácil tarefa de imaginar a tempestade de críticas e acusações que desabaria na mídia.
Agora veja como Bolsonaro fez exatamente isso, num encontro de evangélicos, anunciando que a maior empresa pública do país, que perdeu quase R$ 30 bilhões em valor acionário, iria perder mais 30 bi com a CPI que ele quer instalar contra os dirigentes que ele próprio nomeou para comandar a petroleira, e isso há apenas três meses.
Pois acredite o leitor que, na primeira página da edição deste domingo dos maiores jornais do país – Folha, O Globo e Estadão – não há (perdoe as necessárias maiúsculas) literalmente NADA sobre o assunto.
Será que foi o feriadão? O frio? Será que não dava para escrever 30 linhas sobre isso? O tal Adriano Pires, que era arroz de festa para criticar uma política de contenção de preços nos governos do PT terá viajado e desligado o celular? É comum um presidente da República pedir uma CPI sobre um empresa que ele próprio comanda há 3 anos e meio e diretores que ele próprio indicou, há meros 90 dias?
R$ 30 bi, ou melhor, R$ 60 bi são “uma merreca”, mesmo sendo mais do que se gasta com o “Auxílio Brasil”?
E os fundos de pensão norte-americanos que ele acusa de estarem enriquecendo (e estão) com uma política de preços nefasta, não têm nada a dizer? Não são os jornais brasileiros que dizem que a tal “paridade de preços internacionais” é a única forma correta de gerir a maior e mais importante empresa brasileira?
Perco meu tempo e o de quem lê com estas perguntas. A mídia empresarial brasileira e, por extensão, os interesses empresariais que ela defende estão muito ocupados em achar problemas em Lula e dissertar, com o alto saber jurídico que a fez idolatrar Sergio Moro, que o ex-presidente” é inocente, mas não foi inocentado”, curiosíssima construção que abole o velhíssimo princípio da presunção de inocência que aquela turma da Revolução Francesa, no século 18, “criou para proteger bandido”, não é?
Calam, porque chegam a salivar de ansiedade em ver a grande empresa brasileira, aquela que poderia nos defender neste momento de inflação e de recessão, ser arruinada, depois de ter enchido as burras do capital, para ser vendida na bacia das almas.
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