Homens mais ricos do país agem para privatizar Eletrobras e lucrar com isso

 

Processo sobre venda do controle da Eletrobras deve ter semana decisiva no TCU - Marcelo Camargo /Agência Brasil

Por Vinicius Konchinski - no Brasil de Fato

O Tribunal de Contas da União (TCU) retoma nesta quarta-feira (18) o julgamento do processo sobre a privatização da Eletrobras, e alguns dos homens mais ricos do Brasil devem monitorar atentamente a decisão da corte sobre o futuro da estatal.

Seis dos 22 maiores bilionários do país são acionistas da Eletrobras. Parte deles, aliás, atua para que o controle da maior empresa de energia do país passe do Poder Público para o capital privado para que assim eles possam ficar ainda mais ricos.

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Jorge Paulo Lemann, por exemplo, é dono de uma parte relevante da Eletrobras. Ele já tem uma fortuna de cerca de R$ 75 bilhões e também é o brasileiro mais rico da atualidade, de acordo com ranking da revista Forbes.

Sua empresa, a 3G Capital, detém cerca de 11% de um tipo das ações preferenciais da Eletrobras, algo avaliado em cerca de R$ 760 milhões, segundo a própria companhia. As ações preferenciais, conforme marcado em seu nome, têm preferência no recebimento de dividendos da estatal.

Os dividendos são parte dos lucros de uma empresa distribuídos a acionistas. Só nos primeiros três meses deste ano, a Eletrobras lucrou R$ 2,7 bilhões –69% a mais do que no mesmo período do ano passado. Lemann ficará com parte disso. Mas não só ele.

Seus sócios na 3G Capital também são donos de parte da Eletrobras. Marcel Herrmann Telles tem fortuna de cerca de R$ 47 bilhões e é o terceiro mais rico do Brasil; Carlos Alberto Sicupira tem R$ 40 bilhões, quinto mais rico; Alexandre Behring, com R$ 5,1 bilhões, é o nono mais rico.

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Todos, junto com Lemann, atuaram para privatização da Eletrobras. A 3G Capital indicou Elvira Cavalcanti Presta para o conselho de administração da empresa em 2018, enquanto a empresa de preparava para a capitalização. Em 2019, Elvira virou diretora financeira e de relações com investidores. Durante 2021, chegou a presidir a companhia por dois meses.

Segundo a advogada Elisa Alves, que representa o Coletivo Nacional dos Eletricitários em ações judiciais contra a venda da Eletrobras, a 3G Capital provavelmente será uma das compradoras de ações da Eletrobras caso o governo as ponha à venda. Com maior participação na empresa, homens entre os ricos do país devem pressionar a administração da empresa por mais lucros e mais dividendos.

Procurada pelo Brasil de Fato, a 3G Capital não se pronunciou sobre seu eventual interesse na privatização da Eletrobras.

Banqueiro elege rumos da estatal

Por meio do Banco Clássico, o bilionário José João Abdalla Filho, o Juca Abdalla, também é um dos maiores acionistas da Eletrobras. O 18º homem mais rico do Brasil, ao fim de 2021, ele tem mais de 5% de todas as ações ordinárias da estatal, avaliadas em mais de R$ 1,6 bilhões. Todo seu patrimônio foi estimado em R$ 13 bilhões pela Forbes.

As ações ordinárias dão direito a voto sobre os rumos da Eletrobras. Depois de instituições ligadas ao governo federal, Abdalla é quem mais tem capital votante na estatal. Seu voto teve peso considerável na assembleia que aprovou a privatização da empresa, realizada em fevereiro deste ano.

E já teve ainda mais. Quando a desestatização foi anunciada, em 2017, Abdalla tinha 12% da Eletrobras. Eram tantas ações que só a valorização delas por conta das notícias da privatização Abdalla deixaram R$ 1 bilhão mais rico.

Abdalla, aliás, fez crescer sua fortuna justamente comprando ações de empresas estatais em processo de privatização. Em 2020, ele era dono de cerca de 10% da Engie. Essa empresa cresceu no Brasil ao comprar a Gerasul, privatizada em 1998.

Abdalla também é dono de cerca de 1% da Petrobras. No mês passado, indicou-se e foi eleito para o Conselho de Administração da estatal, aumentando a pressão de acionistas minoritários pela alta dos preços dos combustíveis e do lucro da companhia.

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Procurada pelo Brasil de Fato por meio do Banco Clássico, Abdalla não se pronunciou sobre seus negócios envolvendo a Eletrobras e a Petrobras.

Investidor atua com banco

Quem também lucrou com notícias sobre a privatização da Eletrobras foi Lírio Parisotto, 22º colocado na lista dos mais ricos do Brasil, com fortuna de R$ 11 bilhões. Parte desse patrimônio está aplicado no fundo de investimentos Geração Futuro L Par, que aplica em ações da estatal e rendeu 121% em 12 meses encerrados em junho de 2021.

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Parisotto chegou a ser denunciado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por supostamente ser destinatário de informações privilegiadas sobre a privatização da estatal por conta de sua amizade com o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que foi favorável à venda em votação no Congresso. Parisotto sempre negou qualquer benefício com a amizade.

Seu fundo de investimento é “abrigado” pela corretora Geração Futuro, ligada ao Banco Genial. O Banco Genial foi contratado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estruturação da venda do controle governamental da Eletrobras.

A participação da Genial, acionista da Eletrobras, na privatização da empresa já foi questionada em ação judicial movida pelo Coletivo Nacional dos Eletricitários. Procurado pelo Brasil de Fato, o Banco Genial não se pronunciou sobre o assunto.

“Quem está interessado na Eletrobras são os bancos nacionais e internacionais, que inclusive já têm participação na estatal”, afirmou Leonardo Maggi, membro da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que é contra a privatização. “Eles já controlam boa parte do setor elétrico brasileiro.”

A advogada Elisa Alves confirma esse interesse do setor financeiro na Eletrobras devido a sua alta lucratividade, a qual deve aumentar caso ela deixe de ser uma estatal e passe a operar somente visando o máximo retorno aos seus acionistas.

O Ministério das Minas e Energia informou ao Brasil de Fato que a privatização da Eletrobras é necessária para que a empresa, sob controle privado, possa manter investimentos no país.

“A Eletrobras tem capacidade de gerar 30% da energia e detém 44% das linhas de transmissão do país, mas não dispõe de capital para investir e se manter nesse patamar. A empresa precisa ser capitalizada. Seu controlador, a União, não consegue fazer os aportes necessários”, informou o órgão.

“Considerando que a economia brasileira atingirá níveis de crescimento mais elevados e, consequentemente, haverá aumento de demanda de energia, o quanto antes a Eletrobras estiver capitalizada, mais capacidade ela terá de participar de novos investimentos”, complementou o MME.

O Ministério da Economia e a própria Eletrobras não se pronunciaram.


Edição: Rodrigo Durão Coelho

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