Thierry Meyssan: A Nova Ordem Mundial que preparam a pretexto da guerra na Ucrânia
REDE VOLTAIRE | PARIS (FRANÇA) | 29 DE MARÇO DE 2022
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Este artigo dá seguimento a :
1. « A Rússia quer obrigar os EUA a respeitar a Carta das Nações Unidas », 5 de Janeiro de 2022.
2. « Washington prossegue o plano da RAND no Cazaquistão, a seguir na Transnístria », 11 de Janeiro de 2022.
3. « Washington recusa ouvir a Rússia e a China », 18 de Janeiro de 2022.
4. « Washington e Londres, atingidos de surdez », 1 de Fevereiro de 2022.
5. « Washington e Londres tentam preservar a sua dominação sobre a Europa », 8 de Fevereiro de 2022.
6. “Duas interpretações do processo ucraniano”, 16 de Fevereiro de 2022.
7. «Washington canta vitória, enquanto seus aliados se retiram », 22 de Fevereiro de 2022.
8. «A Rússia declara guerra aos Straussianos», 3 de Março de 2022.
9. «Um bando de drogados e de neo-nazis», 5 de Março de 2022.
10. «Israel aturdido pelos neo-nazis ucranianos», 8 de Março de 2022.
11 « Ucrânia : a grande manipulação », 22 de Março de 2022.
As operações militares da Rússia na Ucrânia desenrolam-se desde há mais de um mês e as operações de propaganda da OTAN desde há um mês e meio.
Como sempre, a propaganda de guerra dos Anglo-Saxónicos é coordenada a partir de Londres. Os Britânicos adquiriram desde a Primeira Guerra mundial uma mestria sem equivalente. Em 1914, eles conseguiram convencer a sua própria população que o Exército alemão havia praticado violações em massa na Bélgica e que era dever de todos os Britânicos ir em socorro destas pobres mulheres. Fora uma versão mais limpa que evocar a tentativa do Kaiser Wilhelm II em rivalizar com o Império colonial inglês. No fim do conflito, a população britânica exigiu que se indemnizasse as vítimas. Procuraram contá-las e deu-se conta que os factos haviam sido extraordinariamente exagerados.
Desta vez, em 2022, os Britânicos conseguiram convencer os Europeus que em 24 de Fevereiro os Russos atacaram a Ucrânia para a invadir e anexar. Moscovo (Moscou-br) tentaria reconstituir a União Soviética e aprestar-se-ia a atacar sucessivamente todas as sua antigas possessões. Esta versão é mais edificante para os Ocidentais que evocar a « armadilha de Tucídides » —eu voltarei a ela—. Na realidade, as tropas de Kiev atacaram a sua própria população do Donbass, em 17 de Fevereiro à tarde. Depois a Ucrânia agitou um pano vermelho diante do touro russo com o discurso do Presidente Zelenski face aos dirigentes políticos e militares da OTAN reunidos em Munique, no decurso do qual ele anunciou que o seu país ia dotar-se da arma atómica para se proteger da Rússia.
Não acreditam ? Eis aqui os dados da OSCE na fronteira de Donbass. Já não havia combates há meses, mas os observadores da Organização neutra observaram, a partir da tarde de 17 de Março, 1. 400 explosões por dia. De imediato, as províncias rebeldes de Donetsk e Luhansk, que continuavam a considerar-se ucranianas, mas pretendiam a autonomia no seio da Ucrânia, evacuaram mais de 100. 000 civis para os proteger. A maioria recuaram para o interior do Donbass, outros fugiram para a Rússia.
Em 2014 e 2015, quando uma guerra civil opôs Kiev a Donestk e a Lugansk, as destruições materiais e humanas eram apenas assuntos internos da Ucrânia. No entanto, com o decorrer do tempo, a quase totalidade da população ucraniana do Donbass encarou emigrar e adquiriu a dupla nacionalidade russa. Por consequência o ataque de Kiev contra a população do Donbass, em 17 de Fevereiro, era um ataque contra cidadãos ucraniano-russos. Assim, Moscovo trouxe-lhes socorro, de urgência, a partir de 24 de Fevereiro.
A cronologia é indiscutível. Não foi Moscovo que quis esta guerra, mas sim Kiev, apesar do preço previsível que terá de pagar. O Presidente Zelensky colocou deliberadamente o seu povo em perigo e carrega sozinho a responsabilidade pelo que ele padece hoje em dia.
Porque é que ele agiu assim? Desde o início do seu mandato, Volodymyr Zelensky prosseguiu o apoio do Estado ucraniano, que começara com o seu antecessor Petro Poroshenko, aos desvios de fundos, perpetrados pelos seus patrocinadores norte-americanos, e aos extremistas do seu país, os banderistas. O Presidente Putin qualificou os primeiros de « bando de drogados » e os segundos de « bando de neo-nazis » [1] Não só Volodymyr Zelensky declarou publicamente que não queria resolver o conflito do Donbass aplicando os Acordos de Minsk, mas também proibiu aos seus concidadãos falar russo na escola e na administração e, pior, assinou uma lei racial, em 1 de Julho 2021, excluindo de facto os Ucranianos que reivindicam sua origem eslava do gozo dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais.
O Exército russo invadiu primeiro o território ucraniano, não a partir do Donbass, mas a partir da Bielorrússia e da Crimeia. Destruiu todas as instalações militares ucranianas utilizadas pela OTAN durante anos e atacou os regimentos banderistas. Agora, dedica-se a esmaga-los no Leste do país. Os propagandistas de Londres e das suas quase 150 agências de comunicação, um pouco por todo o mundo, asseguram-nos que, repelido pela gloriosa Resistência ucraniana, o derrotado Exército russo abandonou seu objectivo inicial de tomar Kiev. Ora, nunca, jamais, disse o Presidente Putin que a Rússia tomará Kiev, derrubará o Presidente eleito Zelensky e ocupará o seu país. Pelo contrário, sempre disse que os seus objectivos de guerra eram desnazificar a Ucrânia e eliminar os stocks (estoques-br) de armas estrangeiras (as da OTAN). É exactissimamente o que ele faz.
A população ucraniana sofre. Descobrimos que a guerra é cruel, que sempre mata inocentes. Hoje, somos abafados pelas nossas emoções e, como ignoramos o ataque ucraniano de 17 de Fevereiro, atira-mo-nos aos russos que qualificamos erradamente de « agressores ». Não sentimos a mesma compaixão pelas vítimas da guerra simultânea no Iémene, os seus 200. 000 mortos, dos quais 85. 000 crianças, mortas de fome. Mas a verdade é que os Iemenitas não são aos olhos dos Ocidentais « mais do que árabes ».
Mas o facto de sofrer não deve a priori ser interpretado como prova de que se tem razão. Tal como os inocentes os criminosos também sofrem.
O Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), quer dizer, o tribunal interno das Nações Unidas, foi accionado pela Ucrânia e ordenou à Rússia, em 16 de Março, como medida cautelar, para cessar a guerra e retirar as suas tropas [2]. Ora, tal como eu acabo de mostrar o Direito dá razão à Rússia.
Como é possível uma tal manipulação do Tribunal ? A Ucrânia evocou o facto de o Presidente Putin ter declarado, durante o seu discurso sobre a operação militar russa, que as populações do Donbass eram vítimas de um « genocídio ». Ora, ela negou esse « genocídio» e acusou a Rússia de ter indevidamente usado esse argumento. No Direito Internacional, a palavra genocídio já não designa a erradicação de uma etnia, mas um massacre ordenado por um governo. No decorrer dos últimos oito anos, 13. 000 a 22. 000 civis foram mortos no Donbass, segundo nos referirmos às estatísticas do governo ucraniano ou às do governo russo. A Rússia, que enviou a sua argumentação por escrito, argumentou que não se baseia na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, mas no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas autorizando a guerra em legítima defesa — o que o Presidente Putin explicitamente declarou durante o seu discurso—. O Tribunal não procurou verificar o que quer que fosse. Agarrou-se apenas ao desmentido ucraniano. Concluiu, portanto, que a Rússia havia indevidamente utilizado a Convenção como argumento. Além disso, como a Rússia não julgou necessário fazer-se representar fisicamente no Tribunal, este aproveitou a sua ausência para lhe impor uma medida cautelar aberrante. A Rússia, segura de seus justos direitos, recusou-se a cumprir e reclama um julgamento de mérito que não será proferido antes do final de Setembro.
Dito tudo isto, só podemos compreender a duplicidade dos Ocidentais ao por os acontecimentos no seu contexto. Desde há uma dezena de anos, os politólogos norte-americanos garantem-nos que o aumento de poderio da Rússia e da China conduzirá a uma guerra inevitável. O politólogo Graham Allison criou para tal o conceito de « armadilha de Tucídides » [3]. Ele fazia referência às Guerras do Peloponeso que opuseram Esparta a Atenas no século IV A.C. O estratega e historiador Tucídides chegou à conclusão que as guerras se tornaram inevitáveis quando Esparta, que dominava a Grécia, percebeu que Atenas estava a formar um império e poderia substituir essa hegemonia. A analogia é forte, mas falsa: se Esparta e Atenas eram cidades gregas vizinhas, os Estados Unidos, a Rússia e a China nem sequer têm a mesma cultura.
A título de exemplo, a China recusa a proposta de concorrência comercial formulada pelo Presidente Biden. Ela opõe-lhe a sua tradição de «ganhador-ganhador». Ao fazê-lo, não faz referência a contratos comerciais rentáveis para ambas as partes, mas à sua História. O « Império do Meio » tinha uma população muitíssimo grande. O Imperador era forçado a delegar a sua autoridade ao máximo. Ainda hoje, a China é o país mais descentralizado do mundo. Quando ele emitia um decreto, este tinha consequências práticas em certas províncias, mas não em todas. O Imperador devia, pois, assegurar-se de que cada governador local não considerasse seu decreto sem sentido e não esquecesse a sua autoridade. Oferecia então uma compensação aos que não eram visados pelo decreto para que se sentissem sempre sujeitos à sua autoridade.
Desde o início da crise ucraniana, a China não só adopta uma posição não-alinhada, mas protege o seu aliado russo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Erradamente, os Estados Unidos temem que Pequim envie armas a Moscovo. Isso nunca aconteceu, mesmo que haja uma ajuda logística nas refeições preparadas para os soldados, por exemplo. A China observa como as coisas decorrem e infere daí como elas se passarão quando tentar recuperar a província rebelde de Taiwan. Pequim declinou gentilmente as ofertas de Washington. Pensa a longo prazo e sabe, por experiência, que se deixar destruir a Rússia, será de novo pilhada pelos Ocidentais. A sua salvação só é possível com a Rússia, mesmo que um dia vá contestá-la por causa da Sibéria.
Voltemos à armadilha de Tucídides. A Rússia sabe que os Estados Unidos querem apagá-la da cena. Ela antecipa uma possível invasão/destruição. Ora, o seu território é imenso e a sua população não é suficientemente numerosa. Ela não pode defender as suas fronteiras demasiado grandes. Ela tem, desde o século XIX, imaginado defender-se esquivando-se dos seus inimigos. Quando Napoleão, depois Hitler, a atacaram, deslocou a sua população sempre cada vez mais para o Leste. E queimou as suas próprias cidades antes da chegada do invasor. Este viu-se incapaz de aprovisionar as suas tropas. Teve que enfrentar o inverno sem meios e, finalmente, bater em retirada. Esta estratégia de « terra queimada » só funcionou porque nem Napoleão, nem Hitler tinham bases logísticas nas proximidades. Assim a Rússia moderna sabe que não poderá sobreviver se as armas norte-americanas forem armazenadas na Europa Central e Oriental. Foi por isso que, no fim da União Soviética, a Rússia exigiu que a OTAN jamais se estendesse para o Leste. O Presidente francês, François Mitterrand, e o Chanceler alemão, Helmut Köhl, que conheciam a História, exigiram pois que os Ocidentais assumissem esse compromisso. Durante a reunificação alemã, eles redigiram e assinaram um Tratado garantindo que a OTAN nunca cruzaria a linha Oder-Neisse, quer dizer, a fronteira germano-polaca.
A Rússia fez registar este compromisso por escrito em 1999 e 2010 com as Declarações da OSCE de Istambul e de Astana. Mas os Estados Unidos violaram-na em 1999 (adesão da República Checa, da Hungria e da Polónia à OTAN), em 2004 (Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia, Eslováquia e Eslovénia), em 2009 (Albânia e Croácia), em 2017 (Montenegro) e ainda em 2020 (Macedónia do Norte). O problema não é que todos esses Estados se tenham aliado a Washington, mas que tenham armazenado armas norte-americanas no seu território. Ninguém critica que estes Estados tenham escolhido os seus aliados, mas Moscovo acusa-os de servir de base traseira ao Pentágono na preparação para um ataque à Rússia.
Em Outubro de 2021, a Straussiana [4] Victoria Nuland, a número 2 do Departamento de Estado veio a Moscovo intimar a Rússia a aceitar a colocação de armas dos EUA na Europa Central e Oriental. Ela prometeu que em contrapartida Washington investiria na Rússia. Depois ameaçou a Rússia se esta não aceitasse a sua oferta e acabou concluindo que faria julgar o Presidente Putin perante um Tribunal internacional. Moscovo respondeu enviando, em 17 de Dezembro, uma proposta de Tratado garantindo a paz na base do respeito pela Carta das Nações Unidas. Foi o que provocou a tempestade actual. Porque respeitar a Carta, baseada no princípio da igualdade e da soberania dos Estados, supõe reformar a OTAN cujo funcionamento está pelo contrário baseado numa hierarquia entre os seus membros. Apanhados na « armadilha de Tucídides », os Estados Unidos fomentaram então a actual guerra na Ucrânia.
Se admitirmos que o seu fim é o de riscar a Rússia da cena internacional, torna-se clara a forma como os Anglo-Saxónicos reagem à crise ucraniana. Eles não buscam repelir militarmente o Exército russo, nem incomodar o governo russo, mas em fazer desaparecer qualquer traço da cultura russa no Ocidente. E acessoriamente, tentam enfraquecer a União Europeia.
Começaram com o congelamento dos bens dos oligarcas russos no Ocidente; uma medida que foi aplaudida pela população russa que os considera ilegítimos beneficiários da pilhagem da URSS. Depois, impuseram às empresas ocidentais cessar suas actividades na Rússia. Por fim, continuaram cortando o acesso dos bancos russos aos bancos ocidentais (o sistema SWIFT). No entanto, se estas medidas financeiras foram desastrosas para os bancos russos (mas não para o governo russo), as medidas contra as empresas que trabalham na Rússia são, pelo contrário, favoráveis à Rússia, que recupera os seus investimentos a um custo menor. Além disso, a Bolsa de Valores de Moscovo, que havia estado fechada de 25 de Fevereiro (o dia seguinte à resposta russa) até 24 de Março, registou uma alta logo após a sua reabertura. É certo que o índice RTS caiu no primeiro dia 4,26%, mas ele mede sobretudo valores especulativos, pelo contrário o índice IMOEX, que mede a actividade económica nacional, aumentou 4,43%. Os verdadeiros perdedores das medidas ocidentais são os membros da União Europeia que cometeram a estupidez de as tomar.
Já, em 1991, o Straussiano Paul Wolfowitz escrevia num relatório oficial que os Estados Unidos deviam impedir que qualquer potência se pudesse desenvolver a ponto de rivalizar com eles. À época, a URSS estava em fanicos. Assim ele designou a União Europeia como o potencial rival a abater [5]. Foi exactissimamente o que ele fez em 2003, assim que se tornou o número 2 do Pentágono, interditando a Alemanha e a França de participar na reconstrução do Iraque [6]. Era também aquilo de que falava Victoria Nuland, em 2014, quando deu como instruções ao embaixador dos EUA em Kiev « mandar a União Europeia apanhar no cú » (sic) [7].
Hoje, a União Europeia é intimada a parar as suas importações de hidrocarbonetos russos. Se obedecer a esta injunção (liminar-br), a Alemanha será arruinada e com ela toda a União. Isto não será um dano colateral, mas fruto de um pensamento estruturado, expresso de forma clara desde há trinta anos.
O mais importante para Washington é excluir a Rússia de todas as organizações internacionais. Conseguiu já, em 2014, excluí-la do G8. O pretexto não foi a independência da Crimeia (que esta reclamava desde a dissolução da URSS, vários meses antes de a Ucrânia considerar a sua própria independência), mas a sua adesão à Federação da Rússia. A pretensa agressão à Ucrânia fornece um pretexto para a excluir do G20. A China fez notar de imediato que ninguém podia ser excluído de um fórum informal que não dispõe de estatutos. Pouco importa, o Presidente Biden voltou à carga em 24 e 25 de Março na Europa.
Washington multiplica os contactos para excluir a Rússia da Organização Mundial do Comércio. De qualquer forma, os princípios da OMC ficam já minados pelas « sanções » unilaterais aplicadas pelos Ocidentais. Tal decisão seria prejudicial para ambos os lados. É aqui que convêm fazer referência aos escritos de Paul Wolfowitz. Com efeito, ele escrevia em 1991 que Washington não deve procurar ser o melhor no que faz, mas ser o primeiro em relação aos outros. Isso implica que, salientava ele, para manter sua hegemonia, os Estados Unidos não devem hesitar em aleijar-se, se fizerem muito pior aos outros. Nós vamos todos arcar com as despesas desta maneira de pensar.
O mais importante para os Straussianos é excluir a Rússia das Nações Unidas. Isso não é possível respeitando a Carta das Nações Unidas, mas Washington não se incomodará muito com isso. Desde logo, entrou em contacto com todos os Estados membros da ONU, com poucas excepções. Tendo já a propaganda anglo-saxónica conseguido fazê-los confundir alhos com bugalhos, estão todos convencidos que um membro do Conselho de Segurança se lançou numa guerra de conquista contra um dos seus vizinhos. Se Washington conseguir convocar uma Assembleia Geral extraordinária da ONU e modificar os estatutos, atingirá os seus objectivos.
Uma espécie de histeria apoderou-se do Ocidente. Caça-se tudo o que é russo sem pensar em quaisquer ligações com a crise ucraniana. Interditam artistas russos de se apresentar, mesmo que sejam reputados opositores do Presidente Putin. Aqui uma universidade proíbe no seu currículo o estudo do herói anti-soviético Soljenitsyn, ali outra proíbe o escritor do debate e do livre arbítrio, Dostoiévski (1821-1881), que se opôs ao regime czarista. Aqui desprograma-se um maestro porque ele é russo e acolá retira-se Tchaikovsky (1840-1893) do repertório. Tudo o que é russo deve desaparecer da nossa consciência, tal como outrora o Império Romano arrasou Cartago e destruiu metodicamente todos os traços da sua existência, a ponto de hoje não sabermos muito sobre essa civilização.
Em 21 de Março, o Presidente Biden não se escondeu. Perante uma plateia de chefes de empresas declarou : « Este é o momento em que as coisas mudam. Vai haver uma Nova Ordem Mundial e nós devemos dirigi-la. E devemos unir o resto do mundo livre para fazer isso » [8]. Esta nova Ordem [9] deverá cortar o mundo em dois blocos herméticos ; um corte como nós jamais conhecemos, sem comparação possível com a “cortina de ferro” da Guerra Fria. Certos Estados, como a Polónia, julgam perder muito com isto tal como os outros, mas também ganhar um pouco. Assim, o General Waldemar Skrzypczak acaba de reclamar que o enclave russo de Kaliningrad se torne polaco [10]. Com efeito, após o corte do mundo, como poderá Moscovo comunicar com este território ?
Alva
1] Ver o nono artigo desta série : « Um bando de drogados e de neo-nazis », 5 de Março de 2022.
[2] «Allégation de génocide au titre de la Convention pour la prévention et la répression du crime de génocide», Ordonnance, Cour internationale de Justice, 16 mars 2022.
[3] "The Thucydides Trap: Are the U.S. and China Headed for War?", Graham T. Alllison, The Atlantic, September 24, 2005. Destined For War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?, Graham T. Allison, Mariner Books; (2017).
[4] Para compreender quem são os Straussianos, ver o oitavo artigo desta série « A Rússia declara guerra aos Straussianos », 5 de Março de 2022.
[5] Este documento foi revelado em « US Strategy Plan Calls For Insuring No Rivals Develop », Patrick E. Tyler, New York Times, March 8, 1992. Ver também os extractos publicados na página 14 : « Excerpts from Pentagon’s Plan : "Prevent the Re-Emergence of a New Rival" ». Informações suplementares são apresentadas em « Keeping the US First, Pentagon Would preclude a Rival Superpower » Barton Gellman, The Washington Post, March 11, 1992.
[6] « Instructions et conclusions sur les marchés de reconstruction et d’aide en Irak », par Paul Wolfowitz, Réseau Voltaire, 10 décembre 2003.
[7] «Conversación entre la secretaria de Estado adjunta y el embajador de Estados Unidos en Ucrania », por Andrey Fomin, Oriental Review (Rusia) , Red Voltaire , 8 de febrero de 2014.
[8] «Remarks by President Biden Before Business Roundtable’s CEO Quarterly Meeting», White House, March 21, 2022.
[9] “História da «Nova ordem mundial»”, Pierre Hillard, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Outubro de 2013. «El proyecto de Nuevo Orden Mundial tropieza con las realidades geopolíticas», por Imad Fawzi Shueibi, Red Voltaire , 18 de agosto de 2012.
[10] “Polonia reclama Kaliningrado”, Red Voltaire, 26 de marzo de 202
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Thierry Meyssan
Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II.
Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).
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