Fernando Brito: Tarcísio, o degolador das estradas

 Por Fernando Brito - no Tijolaço

Se o Brasil não tivesse tanta gente fanatizada, o virtual candidato do bolsonarismo em São Paulo, Tarcísio de Freitas estaria não só derrotado eleitoralmente como sendo investigado em inquérito policial para apuração do crime que cometeu ao dizer a caminhoneiro que vai revogar normas de segurança no trânsito que podem, simplesmente, matar motoristas e passageiros nas estradas brasileiras.

Reportagem do UOL revela áudios gravados por Freitas em grupos de whatsapp de caminhoneiros bolsonaristas, onde ele diz que está orientando a Polícia Rodoviária a fazer “vista grossa” a irregularidades graves em veículos de 40 toneladas que circulam no país.

“Combinei com o diretor-geral da PRF [Silvinei Vasques] que montaremos um grupo de trabalho para fazer um ‘revogaço’ de normas, deve revogar uma série de normas vigentes no Contran (Conselho Nacional de Trânsito) para eliminar o que está enchendo o saco, gerando autuação e não contribui para a segurança”, diz Freitas. Além do “revogaço”, Tarcísio afirma que a PRF vai “dar um tempo nas fiscalizações desnecessárias”, como a de caminhões arqueados. “Vamos focar na fiscalização daquilo que é importante: bebida, rebite, essas coisas. Mas esse negócio de ficar vendo altura de traseira de caminhão, fita refletiva e etc, acho que não é o caso agora nesse momento.”

Caminhão arqueado, para quem não sabe, é “moda” entre grupos de caminhoneiros bozolóides e consiste em levantar, com calços e molas, a traseira dos caminhões, por vezes em mais de um metro, abrindo uma “boca de jacaré” para engolir carros e até outros caminhões em colisões traseiras.

Não vai acontecer? Em 2019, 16.802 acidentes com veículos de cargas, o que representa 25% de todos os acidentes na malha federal.

Mês passado, em S. José dos Pinhais, dois caminhões de traseira levantada e dirigidos por pai e filho, engavetaram-se, com a morte do segundo e da sua mulher . A “fiscalização desnecessária” poderia ter evitado isso, porque as alterações são facilmente visíveis pela PRF, mas não era “o caso agora nesse momento.”

Para quê isso?

Ora, pela “liberdade individual” de alguns caminhoneiros que “acham bonito” arrebitar a traseira de seus “brutos” e aos quais o ministro bolsonarista acha que deve ser dado o direito de armarem uma guilhotina mortal nos seus caminhões.

Porque, afinal, é preferível perder a cabeça (dos outros) do que a liberdade, não é?

Tarcísio, um engenheiro, sabe perfeitamente do risco, mas assume esta loucura para agradar o eleitorado bolsonarista com o qual conta se eleger governador de São Paulo.. É portanto, conscientemente, alguém que expõe vidas a risco para tirar proveito disso.