O passado no presente não pode ser futuro

 


 Por Fernando Brito - no Tijolaço

No artigo que escreve hoje na Folha, expondo seu “programa de governo” – o papel, como se sabe, aceita tudo – o governador de São Paulo, João Doria, faz uma apoteótica convocação:

(…)o debate de 2022 não deve ser entre Jair Bolsonaro e Lula. Ele deve ser entre passado e futuro. Entre recessão e desenvolvimento. Entre desilusão e esperança.

Muito bem, tudo muito bom.

Mas como caminhar para o futuro se esquecemos como e porque estamos voltando ao pior do passado? As cenas e situações dantescas, que fomos superando em anos de esforços, voltaram a nos assombrar por conta das escolhas que este país foi levados tomar pelas suas elites e instituições, na ânsia de derrotar Lula e o PT.

Ou não foi isso que, a partir de certo momento, tornou a política um “vale-tudo” com este fim? Uma selvageria que não teve pruridos em se associar, até no próprio nome, com um personagem como Jair Bolsonaro, sobre cujo ódio e o desprezo aos seres humanos nunca foi escondido, nem sequer discreto.

Doria, com o ‘Bolsodoria’ com o qual traiu Geraldo Alckmin, e Sergio Moro, com a ávida corrida a fazer-se de superministro da Justiça foram parte inseparável da ascensão deste fantasma que agora dizem querer esconjurar.

Deles, como de parte da mídia que vive a exigir “autocrítica” aos petistas e a Lula, nunca se ouve uma palavra de arrependimento por terem tornado a disputa política algo que jamais poderia ter descambado para o apoio a um autoritário e fascista.

Entre Jair Bolsonaro e Lula” não é uma escolha a fazer, apenas. É a escolha que fizeram no processo eleitoral de 2018, no qual o lavajatismo de ambos impediu o povo brasileiro de fazer, retirando o ex-presidente da disputa com razões que, hoje se vê, eram falsas e ardilosas.

Sim, precisamos voltar no tempo para, paradoxalmente, não continuar caminhando para o passado monstruoso que se estampa na reportagem que o site da Folha traz em sua capa, hoje, e que se reproduz acima, junto com a capa da Veja, em 1998, com o retrato abjeto da fome que tínhamos deixado para trás.

Não será simplesmente com um chapéu de couro que se manifestará solidariedade aos que morrem de fome no Nordeste, nem aos que catam lixo por todo o país, mesmo na rica São Paulo.

A boa escolha também se faz com os erros repelidos, mas disso eles querem distância. E, sem arrependimento, não se recebe o perdão.

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