'Bolsonaro francês' é acusado de 'covardia política' ao instrumentalizar atentados de 2015

 

Um pôster publicitário do jornalista de extrema direita e polemista Eric Zemmour, em 9 de novembro de 2021 em Willer-sur-Thur, leste da França. Sebastien Bozon AFP
 Por RFI

O polemista francês de extrema direita Éric Zemmour, apelidado informalmente de "Bolsonaro francês" por parte de seus críticos, despertou uma onda de indignação na França neste domingo (14), entre sobreviventes, familiares das vítimas dos atentados de 2015 e na classe política francesa. As acusações do polemista contra o ex-presidente François Hollande, insinuando uma ligação entre os terroristas e os migrantes, e sua aparição no Bataclan no sexto aniversário dos atentados, chocaram o país.

Zemmour, que não esconde suas ambições presidenciais, foi ao Bataclan na noite de sábado, onde reiterou suas críticas ao ex-chefe de Estado da França, François Hollande (2012-2017):  "Ele sabia que haveria terroristas e não protegeu os franceses, além de ter tomado uma decisão criminosa ao deixar as fronteiras abertas", disse Zemmour a repórteres.

Na sexta-feira (12) em Bordeaux, no sul da França, Zemmour argumentou que “o governo estava ciente do perigo e preferia que os franceses morressem em vez de impedir que 'migrantes' viessem para a França”.

François Hollande reagiu com veemência neste domingo na Rádio J contra declarações "infundadas, indecentes e indignas". "Os terroristas de 13 de novembro vieram da Bélgica, eles são belgas ou franceses", disse Hollande, lembrando as medidas tomadas para "controlar as chegadas de fora" da União Europeia (UE).

“É indecente entrar na frente do Bataclan e falar de uma guerra de civilização em frente ao próprio prédio onde aconteceram os assassinatos, enquanto se usa a própria linguagem dos terroristas”, observou também o ex-presidente francês. E é "indigno porque sugere que aqueles que lideraram a França são criminosos", acrescentou François Hollande, convidando a colocar Eric Zemmour e aqueles que o seguem à "deriva" do "pacto republicano".

O então primeiro-ministro francês [da época dos atentados], Manuel Valls, destacou no Twitter as “mentiras destiladas por esta personagem cujo único propósito é semear dúvidas e ódio”.

Família Le Pen apoia Zemmour

Marion Maréchal, sobrinha de Marine Le Pen e amiga de Eric Zemmour, disse por sua vez ao canal Europe 1-Cnews-Les Echos neste domingo que não acreditava "em nenhum momento que houvesse a intencionalidade de François Hollande de causar a morte de alguém, “mas que sua irresponsabilidade na época era uma irresponsabilidade criminosa”.

Arthur Dénouveaux, presidente da associação de vítimas Life for Paris, descreveu Eric Zemmour no Twitter como um “profanador de sepulturas”: “Nenhum político jamais havia feito discursos em 13 de novembro em um dos locais alvejados pelos terroristas”.

“É covardia política usar essas vítimas. Não é possível usar informações falsas, infundadas e injustas para reacender essa dor”, denunciou na televisão francesa Samia Maktouf, uma advogada de 40 anos de partes civis no julgamento dos atentados, que acontece neste momento em Paris.

"Ninguém quer ouvir este tipo de palavras em um momento de contemplação do passado", disse também Marlène Schiappa, Ministra da Cidadania, no site Franceinfo neste domingo.

“A sua palavra de charlatão é suja e indigna do nosso país”, afirmou também o vice-presidente do Parlamento francês, Hugues Renson (LREM), no Twitter, entre outros membros eleitos da maioria de Emmanuel Macron.

Com informações da AFP

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