Programa de acolhimento de refugiados afegãos de Boris Johnson é um “fracasso chocante”

 

Foto de EPA/NEIL HALL, Lusa.

 Por Esquerda.Net

A operação foi lançada por Boris Johnson a 29 de agosto com o anunciado propósito de ajudar refugiados afegãos que chegam ao Reino Unido, oferecendo apoio para que possam “reconstruir as suas vidas, encontrar trabalho, procurar educação e integrar-se nas suas comunidades locais”.

No entanto, a falta de resposta habitacional traduziu-se numa outra realidade: hotéis estão a servir como acomodação temporária de emergência para 7.000 refugiados afegãos. E representantes do Ministério da Administração admitem que esta situação se pode prolongar por meses.

Um médico que trabalha com estes refugiados, citado pelo The Guardian (link is external), descreve um cenário de desespero e saturação: “Não aguento mais. Tenho que sair deste quarto [de hotel]”, foi um dos desabafos que reproduziu.

Um “fracasso chocante”: é assim que, por sua vez, um autarca local descreve o programa do Governo. O vereador Danny Thorpe, da autarquia de Greenwich, sudeste de Londres, disse que a falta de apoio governamental quando 700 afegãos chegaram à região em agosto foi "imperdoável". “Esta foi uma das falhas do Governo mais chocantes que já encontrei”, frisou.

De acordo com Thorpe, “houve um grande descompasso entre a retórica dos governantes e as suas ações para apoiar essas pessoas”.

Quando a autarquia de Greenwich alertou o Governo de que faltava leite para os bebés refugiados, a resposta foi a de que o mesmo seria entregue “em alguns dias”. Em Sheffield, onde uma criança afegã de cinco anos morreu após a queda de uma janela de hotel em agosto, logo após chegar ao Reino Unido, a autarquia expressa a sua preocupação sobre a adequação dos hotéis para acolher refugiados afegãos.

“Confusão” é a expressão utilizada pela Associação de Governo Local, que representa 328 das 333 autarquias na Inglaterra, bem como por Jill O'Leary, diretora-médica da Helen Bamber Foundation, que acusa o Governo de não ter em conta a vulnerabilidade destas pessoas.

Um porta-voz da organização não governamental (ONG) Medact fala em situações de acolhimento “clinicamente perigosas”. E um médico de família denuncia que encontrou uma criança com deficiência desnutrida que não tinha sido registada nas autoridades médicas.

Por outro lado, o Governo defende-se: “A maior e mais rápida evacuação de emergência do Reino Unido na história recente ajudou mais de 15.000 pessoas a ficarem seguras, e os hotéis continuam a ser uma medida temporária para ajudar a acomodar aqueles que trouxemos para cá. Vai levar tempo para encontrar um lar permanente para todos, mas estamos a trabalhar urgentemente com os nossos parceiros para esse efeito”.

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