Fernando Brito: Os caminhoneiros e os aprendizes de feiticeiro
Por Fernando Brito - no Tijolaço
Se há uma categoria de profissionais bolsonarista é, sem dúvida, a dos caminhoneiros.
Trata-se de uma situação para lá de estranha: são ao mesmo tempo trabalhadores e microempresários, misturados a empresários nada pequenos, os das transportadoras, donas de mais de 60% dos caminhões que circulam com cargas no país.
Todos eles estão insatisfeitos com a política de combustíveis e greve com a tolerância e até o apoio do patrão a gente costuma saber que “dá certo”.
O aumento de 9% do diesel que vige a partir de hoje é mais que suficiente para comer o reajuste do frete, semana passada, em 5,4%
Principalmente quando o “piquete de greve” é feito com caminhões de 20 toneladas.
Não é possível prever, pelo fato de serem dispersos, se os caminhoneiros atenderão ao chamado para uma paralisação de lideranças que misturam interesses profissionais e políticos, como é marca dos transportadores desde os protestos contra Dilma Rousseff, quando sofriam problemas muito menores do que os de hoje.
Mas há uma sucessão de pequenos protestos, em terminais e rodovias, que mostram um ânimo crescente em participar: mais da metade, 54% em todo o país. Mais do que o suficiente para causar uma baita confusão nas estradas.
As lideranças dos caminhoneiros foram “escanteadas” pelo bolsonarismo, que preferiu apostar em personagens “faxes” ou duvidosos, como este tal “Zé Trovão”, que acba de se entregar à Polícia, e em figurações feitas por frotistas ligados ao agronegócio, levando caminhões à Esplanada dos Ministérios, para o que virou o anticlímax do golpe, com a cartinha de Michel Temer.
Bolsonaro, até agora, não foi além de prometer o vale-diesel, que ainda não tem data nem forma para acontecer.
Está produzindo uma atmosfera de alta octanagem, e vai apressar a formalização de mais uma carga fiscal que não foi discutida com ninguém, mas apenas mais um coelho tirado da rota cartola de bondades governamentais.
Tarcísio de Freitas, ministro que seria o responsável pela área, provoca:
“O que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. A turma que financiou 2018 tá fora. Nosso único desafio é não deixar bloquear rodovia. Se não deixar bloquear rodovia, com o excesso de oferta [de caminhões] que nós temos, se meia dúzia de caras pararem de trabalhar, qual vai ser o efeito pra nós em termos de mercado? Zero, nenhum.”
Então teve uma turma que financiou 2018 e que agora está fora? E isso garante que caminhoneiros de verdade não reclamarão dos prejuízos que estão tendo?
Repito, é difícil prever, mas que isso tem cheiro de confusão provocada por aprendizes de feiticeiro que invocaram as carretas para o golpe e agora que elas não bloqueiem rodovias em defesa de seus próprios bolsos.
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