Católico, conservador e pró-Europa: quem é o homem que pretende desbancar Orbán na Hungria
Pela primeira vez, os partidos de oposição na Hungria conseguiram negociar uma grande aliança para tentar colocar um fim no "reinado" de Viktor Orbán, que governa o país desde 2010. A frente é ampla, realmente ampla, com partidos que vão da esquerda à extrema-direita e cujo grande objetivo é destronar o primeiro-ministo conservador. Na liderança desta chapa, um homem de 49 anos, pai de sete filhos, católico e pró-Europa: Peter Marki-Zay.
De Romain Lemaresquier, da RFI.
Desconhecido do cenário europeu e sem partido, Marki-Zay será o candidato único que tentará derrotar Orbán nas eleições legislativas previstas para abril de 2022.
Formado em engenharia elétrica, Marki-Zay vem ganhando terreno em seu país desde 2018, quando, contra todas as expectativas, derrotou o candidato do Fidesz, partido de Orbán, e ganhou a prefeitura de uma cidade de 45 mil habitantes.
"Peter Marki-Zay é uma figura política muito interessante. Até agora, ele era um forasteiro, não fazia parte da oposição tradicional. Ele trabalhou para empresas nos Estados Unidos, no Canadá. Depois voltou à Hungria e conquistou o cargo de prefeito de uma cidade de médio porte, Hodmezovasarhely”, explica a cientista política húngara Andrea Virag.
Para que sua vitória fosse possível, ele conseguiu atrair votos de todo o espectro político, da esquerda e da extrema-direita. E este será novamente seu desafio contra Orbán.
Da esquerda à direita e da direita à esquerda
Católico praticamente, culturalmente conservador e economicamente um pouco mais liberal e pró-mercado que os políticos da oposição, ele foi apenas o terceiro colocado no primeiro turno das primárias da oposição. No entanto, com a desistência do prefeito de Budapeste, convencido de que Peter Marki-Zay teria maiores chances de vencer o Fidesz, o candidato “outsider” foi para o segundo turno das primárias.
No enfrentamento direto, venceu a líder de esquerda Klára Dobrev com um discurso fortemente anticorrupção.
A luta, no entanto, apenas começa agora. À frente de uma coalização de seis partidos, as negociações para formar uma lista única entre participantes com ideias tão diferentes não será fácil.
“Estamos em uma eleição de lista e é uma eleição proporcional. Então como será composta esta lista, que será a que enfrentará Viktor Orbán e Fidesz? Esta lista será suficientemente atrativa para todo o eleitorado, com probabilidade de votar contra Orbán?", questionsa Catherine Horel, historiadora e especialista em política húngara.
Projeto para a Hungria? Um país sem Orbpan
Para Andrea Virag, a chance de vitória contra Orbán dependerá da capacidade de Peter Marki-Zay de convencer os indecisos: "No momento e dada a situação, a oposição e o governo têm aproximadamente o mesmo número de eleitores. Portanto, as eleições de 2022 serão certamente disputadas com o voto indeciso e Peter Marki-Zay poderia muito bem contar com esses votos”, considera.
MZP, como é conhecido, é pro-Europa e quer que seu país adote como moeda o euro e se torne um membro mais pró-ativo da União Europeia.
Muito diferente de Viktor Orbán em questões de imigração, políticas sociais ou luta contra a pobreza, MZP quer atrair eleitores em torno de um único ponto comum: o desejo de pôr um fim ao governo do Fidesz.
Um partido que, como seu líder, começa a ter dúvidas sobre sua capacidade de se manter no poder. “Desde o ano passado quando perdeu o controle de Budapeste e com o enorme progresso feito pela oposição nas eleições municipais, sentimos que as coisas estão quentes em torno de Viktor Orbán", observa a historiadora Catherine Horel.
Como resultado, Orbán tem se mostrado cada vez mais agressivo. Um sinal de que está com medo da ameaça Marki-Zay para as próximas eleições.
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