A Internacional da Perversão, por Julio A. Muriente Pérez
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Por Julio A. Muriente Pérez - Carta Maior da Resumen Latinoamericano
Porque é a natureza do imperialismo que bestializa os homens, que os
transforma em feras sanguinárias que estão prontas para massacrar,
assassinar, destruir até a última imagem de um revolucionário, de um
apoiador de um regime que caia sob sua bota ou que lute por sua
liberdade. E lembremo-nos sempre de que não se pode confiar no
imperialismo, nem um tantinho assim. (Ernesto Che Guevara)
O
que têm em comum Jeanine Añez, Marine Le Pen, Santiago Abascal / Vox,
Donald Trump, Mario Vargas Llosa, María Corina Machado, Leopoldo López,
Álvaro Uribe, Isabel Díaz Ayuso, José María Aznar, os chefes do PAN do
México, Nayib Bukele, Jair Bolsonaro, Mauricio Macri, Príncipe Mohamed
bin Salman, Alberto e Keiko Fujimori, Sebastián Piñera, Benjamin
Netanyahu, Iván Duque e outros personagens de mesma notoriedade e de
diferente latitudes?
Eles se distinguem por graus acadêmicos de universidades de prestígio, prêmios Nobel, presidências, vidas ricas e altaneiras, contas bancárias volumosas, aristocracia fulgurante; uma representação primorosa de gente culta, iluminada e chique, vaidosa, eloquente e glamorosa, extremamente religiosa, elegante e bem alimentada, que monopoliza as capas da mídia planetária, assim como o mundo do espetáculo da grande política; na revista Hola ou na CNN; no El País, Le Monde ou The New York Times. Um ou outro figura em uma empresa offshore no Panamá ou nas Ilhas Virgens Britânicas.
O crème de la crème, o melhor da civilização ocidental
Mas não é tanta a ternura; nem a limpeza; nem a inocência. Escondidos atrás dessa fachada incólume está sua verdadeira condição de golpistas, agentes repressores e torturadores, promotores de discriminação racial, cultural, étnica e nacional, furiosos anticomunistas para quem o melhor comunista ou lutador social é aquele que está morto, amigos e amigas da guerra - eles continuam a promover “as guerras justas” da civilização contra a barbárie - e a destruição do meio ambiente, inimigos da perspectiva de gênero e do aborto, genocidas gozosos, escrivães da violência e agressão, chauvinistas insuportáveis, manipuladores inescrupulosos, extremistas confessos e arrogantes que acreditam seriamente que podem dispor do planeta à vontade e com total impunidade, revivificadores de um discurso sombrio, de algumas ideias perversas que têm custado terrível sofrimento e morte à humanidade.
Gente má
Essas são algumas das cabeças visíveis do fascismo do século 21. Algumas vezes tiveram o pudor de ajustar suas ideias e intenções retrógradas. Agora que dizem que se sentem ameaçados pelos povos em luta, lançam-se para impor a sua vontade. Só falta colocarem a faixa com a suástica no ombro. E nem isso.
Impunidade e concertação; nada de improvisação; nenhuma casualidade. Cálculo e premeditação. Uma mistura contraditória inegável de furtividade, torpeza e intolerância os distingue, vítimas de sua soberba, que os delata. Assim são eles.
Não é por acaso que o aristocrata Vargas Llosa arremeta contra a Venezuela em seus infames artigos ou contra o presidente Pedro Castillo - do Peru, um país que ele renegou por muito tempo e, agora, se tornou um aliado oportunista do genocida e corrupto Fujimori -, ao mesmo tempo que o indesejável Bolsonaro entrega a selva amazônica à dilapidação ecocida ou promove tambores de golpe e matanças em toda parte.
Não é por acaso que enquanto o belicista Trump ameaça todo o planeta e turve a democracia representativa, o fascista Piñera, o genocida Duque e Uribe e o golpista Añez lhe fazem coro entusiasmado. Enquanto o príncipe Mohamed bin Salman mata jornalistas e dissidentes, Netanyahu massacra palestinos.
Não é por coincidência que enquanto o detestável José María Aznar enche a boca de insolências contra o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador - Mas você, como se chama? ... - o fascista do Vox, Santiago Avascal, se reúne com parte da liderança do PAN para anunciar em grande estilo a assinatura conjunta da chamada Carta de Madrid, uma proclamação solene contra o avanço do comunismo na Iberoesfera, em defesa da liberdade, da democracia e da propriedade privada.
Não foi por acaso que enquanto em Nossa América há uma reivindicação esperançosa e essencialmente justa da população originária maltratada e violada por cinco séculos, a fascista Isabel Díaz Ayuso ousa dizer, com aversão transbordante, que o novo comunismo se chama indigenismo ... obcecada como outros de sua laia para justificar o genocídio que começou em 1492 na América. Díaz Ayuso e Abascal, os mesmos que tomaram em seu seio os terroristas confessos María Corina Machado e Leopoldo López, e que continuam a acreditar, junto com outros em seu país de origem, que têm direitos de propriedade sobre a América conquistada a sangue e fogo e que - parece que se esqueceram - eles perderam a sangue e fogo. Que a Espanha só trouxe liberdade, prosperidade, paz, compreensão à América Latina, ousou dizer o presidente da Comunidade de Madrid, com manifesta insolência.
Não é fruto do acaso que enquanto na Europa a extrema direita apoia espaços para o retorno do fascismo com personagens como Le Pen, em El Salvador um tonto ditador como Bukele goze de impunidade imperial para satisfazer sua vontade como uma criança mimada e na Argentina a direita neoliberal e entreguista de Macri esteja afiando as facas, confiante na volta ao poder.
Tais e quais
Nós os encontramos em muitos lugares do planeta, dando a falsa impressão de que estão dispersos ou agem de forma desarticulada. Mas existe um fio ideológico e político que os une. Por exemplo, seu anticomunismo patológico e doentio, na medida que, em sua ânsia de atacar implacavelmente aqueles que ousam erguer a bandeira da justiça e da mudança social, eles ressuscitaram os mortos que eles próprios afirmavam ter enterrado a muitos metros no subsolo, após o colapso da União Soviética e o desaparecimento do campo socialista do Leste Europeu. Acontece que os comunistas e o comunismo estão de volta, que, na realidade, nunca se foram, que agora adquirem o rosto de um indígena, de um camponês, de uma mulher, de um imigrante, de um negro, de um homossexual.
Eles são perigosos
Eles também se distinguem por sua intolerância, pelo manejo caprichoso do parlamentarismo, pela manipulação e adulteração da história, pela defesa visceral do neoliberalismo e da desigualdade de classe e por um fundamentalismo existencial ferrenho. Eles adoram a propriedade privada e detestam qualquer alusão à igualdade. Não seria exagero, muito menos injusto e talvez mantendo algumas distâncias, atribuir-lhes importantes coincidências com a mentalidade do Talibã afegão.
Astutos como são, alguns e algumas renovaram o mesmo discurso populista outrora usado pelos nacional-socialistas e Adolf Hitler. Eles querem se apresentar como os grandes defensores dos interesses dos povos; como os mocinhos que se organizam para enfrentar o diabo comunista.
Eles têm poder econômico e midiático, militar e político; e são graves contra aqueles de nós que têm a audácia de insuflar nova vida às lutas pela liberdade e justiça social. Eles estão contra a Venezuela e contra Cuba, contra a Nicarágua e contra a Bolívia, contra o Foro de São Paulo e contra tudo que cheire a democracia e justiça social.
Eles são a Internacional da Perversão
Não se trata de um grupo de nostálgicos, como aqueles que aparecem em alguns filmes do pós-guerra. Estão fincados no presente, ansiosos porque não termina a imposição da sonhada unipolaridade do capitalismo mais cruel; intrigados porque os povos seguem a lutar e não se resignam; desesperados porque aquele fantasma continua a viajar, não só pela Europa, mas por todo o planeta.
Eles conspiram, organizam, financiam, manipulam. Todos os dias os ouvimos, os vemos ou lemos, lançando diatribes estridentes, insultos, ameaças e avisando que se preparam para impedir a todo o custo o avanço das lutas populares. São - descrição evocativa - voltados para o sol, como aquela canção fascista que, lembra Luciano G. Egido, “… acompanhava as execuções em massa, nas valas da guerra civil, na Espanha de Franco, que tentaram extirpar a hidra democrática e que, mais tarde, animaria os espancamentos e o óleo de rícino da repressão permanente ”.
É, com efeito, o fascismo do século 21. O rosto elegante do imperialismo dos nossos tempos.
Não basta dizer nunca mais. É errado pensar que aquele pesadelo passou e não vai voltar. A partir de 2021, as grandes contradições entre as minorias que controlam e desfrutam da riqueza e as maiorias que enfrentam e sofrem a pobreza e a injustiça social não só não diminuíram, como se aprofundaram. Essas minorias e seus aliados não têm intenção de desistir. O extremismo esclarecido dos fascistas modernos é sua ponta de lança, a mais eloquente, irreverente e escandalosa.
Que ninguém pense que, porque Deus assim o determinou, o bem triunfará sobre o mal, a justiça sobre a injustiça, ou o bem sobre o mal. Não há milagre que valha. Não há espaço para a justiça do destino. Todas as cartas estão na mesa. Ou lutamos e vencemos, ou assumimos a responsabilidade que a História nos exige, ou nos resignamo às terríveis consequências que já não nos são estranhas.
Os fascistas do século XXI devem ser denunciados, desacreditados e combatidos em todas as frentes, sem a menor hesitação. Sem que trema nosso pulso. À Internacional da Perversão deve ser anteposta a Internacional da Solidariedade, Internacionalismo e a luta tenaz e incansável em defesa de nossos povos e de todos os povos. Isso é certo, necessário e urgente na Nossa América e em toda a América, na Europa e na Ásia e na África, na Oceania e até na Lua.
Que saibam esses bandidos e bandidas e aqueles que lhes ajudam: não nos sentiremos tranquilos e tranquilas até que os apaguemos do planeta. Só então, mesmo que isso exija um grande esforço, a humanidade de hoje e de amanhã terá a segurança de poder construir a verdadeira liberdade e a felicidade.
Julio A. Muriente Pérez é Professor da Universidade de Porto Rico, Secretário de Comunicação e Propaganda do Movimento de Independência Nacional Hostosiano de Porto Rico e membro do Comitê Executivo e Diretoria Nacional
*Publicado originalmente por Resumen Latinoamericano | Traduzido por César Locatelli
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