Do 11-de Setembro à Covid : a recusa do debate. Por Thierry Meyssan

 

Os três macacos do templo xintoísta Toshogu. Eles ilustram o preceito de um sábio chinês : « Nada dizer de mal, não ver o mal, não escutar o mal ». Assim, eles poderão ilustrar a covardia ocidental : « Não dizer a Verdade, não ver a Verdade, não ouvir a Verdade ».

  Rede Voltaire | Paris (França) | 17 de Setembro de 2021

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As celebrações do 20º aniversário dos atentados do 11 de Setembro de 2001 dá lugar a duas narrativas absolutamente contraditórias segundo nos referimos à imprensa escrita e áudio-visual ou à imprensa digital. Para uns, a Alcaida havia declarado guerra ao Ocidente urdindo um crime de grande espectáculo, enquanto para os outros o mesmo crime mascarou um Golpe de Estado interno nos EUA.

Não há debate possível entre os defensores destas duas versões. Não que os dois campos o recusem, mas porque os partidários da versão oficial —e apenas eles— se recusam. Eles consideram os seus adversários como « conspiracionistas », quer dizer, no melhor dos casos, como imbecis, e no pior como malandros, cúmplices —voluntários ou não— dos terroristas.

Agora este desacordo aplica-se a qualquer evento político principal. E a visão do mundo dos dois campos não cessa de se distanciar um do outro.

Como é que uma tal fractura entre concidadãos pôde surgir em sociedades que aspiram à democracia ? Tanto mais que, não esta fractura, mas a reacção a esta fractura torna qualquer exercício democrático impossível.

Os canais de informação “em contínuo” privilegiam a rapidez da retransmissão de um acontecimento. Elas não dispõem do tempo para o contextualizar e ainda menos de o analisar ; funções que são próprias do jornalismo. O telespectador torna-se um “voyeur” de coisas que não compreende.

Uma certa concepção do jornalismo

Hoje, garantem-nos que o papel dos jornalistas é de reportar fielmente o que viram. Ora, quando somos interrogados por um média (mídia-br) local sobre um assunto que conhecemos e depois vemos como ele tratou esse assunto, ficamos frequentemente decepcionados. Temos a impressão de não ter sido compreendidos. Entre nós, alguns deploram ter tropeçado num mau jornalista e continuam a conservar a sua confiança nos meios de comunicação de massa. Outros dizem que se uma ligeira deformação é possível em pequenos assuntos, então distorções muito maiores acontecerão em assuntos mais complexos.

 Em 1989, uma multidão que tinha vindo assistir a um dos seus discursos, ouviu o ditador romeno, Nicolae Ceaușescu, acusar os fascistas de ter inventado o massacre de Timișoara atribuído aos torcionários do seu regime. Revoltada por esta negação, a multidão revoltou-se, gritando « Ti-mi-șoa-ra ! Ti-mi-șoa-ra ! » e derrubou-o. O canal de televisão local de Atlanta (EUA), CNN, difundiu em directo os dias desta revolução. Ele tornou-se assim o primeiro canal de informação em directo e transformou-se numa estação internacional. Ora, sabe-se hoje que esse massacre jamais existiu. Fora apenas uma encenação feita com cadáveres retirados de uma morgue. Veio a saber-se mais tarde que uma unidade de propaganda da Infantaria do Exército dos EUA dispunha de um gabinete anexo à sala de redação da CNN.

A manipulação de Timișoara só funcionou porque ela foi feita em directo. Os telespectadores não tiveram nem tempo de o verificar, nem de reflectir. No plano profissional, nenhum jornalista jamais tirou conclusões deste acontecimento. Pelo contrário, a CNN tornou-se o modelo dos canais de informação “em directo” que floresceram um pouco por todo o lado.

 Durante a guerra do Kosovo, em 1999, eu produzia um boletim quotidiano resumindo as informações da OTAN e as das agências de notícias regionais (Áustria, Hungria, Roménia, Grécia, Albânia, etc...) as quais subscrevera [1]. Desde o início, aquilo que a OTAN contava em Bruxelas não era confirmado pelas agências regionais. Essas, pelo contrário, descreviam todo um outro conflito. Era estranho ver que os jornalistas regionais, fossem de que país fossem à excepção da Albânia, formavam um bloco, escrevendo textos compatíveis entre si, mas não com os da OTAN. Semana após semana, as duas versões afastavam-se uma da outra.

Para responder a esta situação, a OTAN confiou a Jamie Shea a condução da sua comunicação. Este contava todos os dias uma nova anedota acontecida no campo de batalha. Cedo, a imprensa internacional tinha apenas olhos para ele. A sua versão impôs-se nos média e as agências de imprensa regionais deixaram de ser citadas, salvo por mim. A meu ver, os dois campos mentiam e a verdade devia estar algures entre as duas posições opostas.

Assim que a guerra acabou, trabalhadores humanitários, diplomatas e militares das Nações Unidas precipitaram-se para o Kosovo. Para sua grande surpresa —e minha— eles constataram que os jornalistas locais haviam descrito fielmente a verdade. As declarações de Jamie Shea não tinham sido mais do que propaganda de guerra. Ora, elas tinham constituído a única fonte « fiável » dos média internacionais durante três meses.

Os jornalistas ocidentais que se dirigiram ao Kosovo constataram também que haviam depositado a sua confiança em gente que lhe havia mentido com total descaro. No entanto, raros são aqueles que mudaram o seu discurso. E mais raros ainda são os que conseguiram convencer as suas redacções que a OTAN os tinha enganado. A narrativa imposta pela Aliança Atlântica tornara-se a Verdade que os livros de história iam retomar apesar dos factos (fatos-br).

O coro do teatro grego antigo lembrava aos espectadores que, apesar das emoções que eles experimentavam, tudo não passava de uma teatralização.

A Grécia antiga e o Ocidente moderno

Na Grécia antiga, as peças de teatro despertavam fortes emoções nos espectadores. Alguns temiam que os deuses os arrastassem para destinos infernais. Então, progressivamente, o coro, que narrava a história, começou a explicar também que ninguém se devia deixar enganar com o que via, mas compreender que tudo não passava de uma encenação.

Esta distancia das aparências, que é paralisada pelo mito da informação “em directo”, é nomeada em psicologia a « função simbólica ». As crianças pequenas são incapazes disso, elas levam tudo a sério. Porém, na « idade da razão », aos 7 anos, todos podemos estabelecer a diferença entre aquilo que é verdadeiro e aquilo que não passa de uma representação.

A razão opõe-se aqui à racionalidade. Ser racional, é crer apenas em coisas demonstradas. Ser razoável, é não crer em coisas impossíveis. É uma enorme diferença. Porque não se encontra a Verdade com crenças, mas com factos.

Quando vemos aviões a espatifar-se contra o World Trade Center de Nova Iorque e pessoas a atirar-se das janelas para escapar ao incêndio, ficamos todos muito comovidos. Quando as Torres colapsam, ficamos em lágrimas. Mas isso não nos deve impedir de reflectir [2].

Podem sempre contar-nos que 19 piratas do ar desviaram quatro aviões, mas uma vez que estas pessoas não constavam das listas de passageiros embarcados das companhias aéreas, elas não podiam ter sequestrado esses aviões.

Podem sempre contar-nos que o carburante dos dois aviões em chamas escorreu pelos pilares dos edifícios e os derreteu, isso explicaria que as Torres Gémeas se tivessem afundado, mas não sobre si mesmas, e não o colapso da terceira torre. Para que um edifício colapse, não sobre um dos lados, mas sobre si mesmo, é preciso fazer explodir as suas fundações, depois fazê-lo explodir de alto a baixo para destruir os andares uns sobre os outros.

Podem sempre contar-nos que passageiros assustados telefonaram aos seus familiares próximos antes de morrer, mas não tendo as companhias telefónicas nenhum traço destas chamadas, elas não existiram.

Podem sempre contar-nos que um Boeing destruiu o Pentágono, mas ele não pode ter entrado por um pórtico de entrada sem ter danificado a moldura da porta.

Os testemunhos podem contradizer-se entre si, mas alguns entram em contradição com os factos.

Aceitamos ser enganados quando a Verdade nos parece muito dura de admitir.

Porque aceitamos ser enganados

Resta um grande problema: por que aceitamos ser enganados? Geralmente porque a Verdade nos é mais difícil de aceitar do que a mentira.

Por exemplo, quando durante anos. o filho do presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas denunciou os estupros de que fora vítima da parte deste, toda a gente lamentou esse pobre menino que delirava e elogiaram o pai que suportava a sua loucura sem dizer palavra. Tendo a irmã da vítima publicado um livro-testemunho, todos perceberam quem falava a verdade. O presidente foi forçado à demissão. O violador só pode escapar à Justiça devido ao seu estatuto : antigo -deputado europeu, presidente da instituição emblemática de toda a classe político-mediática francesa e presidente do Siècle, o clube privado mais exclusivo da França.

Por que acreditamos que a Alcaida é responsável pelos atentados do 11-de-Setembro? Porque o Secretário de Estado, o General Colin Powell, veio jurá-lo, a mão sobre o coração, perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pouco importa que ele tenha mentido anos antes validando a história das incubadoras roubadas no Kuwait pelos Iraquianos e dos bebés deixados abandonados para morrer. Ou que ele tenha mentido depois a propósito das armas de destruição maciça do Presidente Saddam Hussein. É um Secretário de Estado e, assim, devemos acreditar nele.

Pelo contrário, se pusermos a sua palavra em causa, teremos não só de nos perguntar por que invadimos o Afeganistão, depois o Iraque, etc. Mas também e sobretudo por que é que ele mentiu.

O inamovível Anthony Fauci geriu todas as grandes epidemias nos EUA. Ele não trabalha como médico, mas como alto-funcionário. O qual não tem aver com o Juramento de Hipocrates. Ele não hesitou em desviar dinheiro público para comanditar num país longínquo pesquisas ilegais por serem perigosas. Ou a promover o confinamento obrigatório de pessoas sãs.

A reacção ao Covid-19 : um outro 11-de-Setembro

O enigma do 11-de-Setembro não é uma questão do passado. A nossa compreensão dos vinte últimos anos depende da resposta que se lhe dê. Enquanto não tivermos debates com contraditório entre os defensores das duas versões, reproduziremos esta fractura sobre todos os assuntos mundiais.

Vivemos actualmente uma outra catástrofe, a pandemia de Covid-19. Todos vimos um grande laboratório, o Gilead Science, corromper os editores da revista médica The Lancet para que eles denegrissem um medicamento, a hidroxicloroquina. A Gilead Science é a empresa que antigamente era dirigida pelo Secretário da Defesa do 11-de-Setembro, Donald Rumsfeld. Fora também ela que produziu um medicamento contra a Covid-19, o Remdesivir. Seja como for, ninguém mais ousou procurar medicamentos para tratar o Covid. Todos se viraram com esperança para as vacinas.

Donald Rumsfeld havia encarregado os seus colaboradores de elaborar protocolos em caso de um atentado bioterrorista contra as bases militares dos EUA no estrangeiro. Depois ele pediu a um deles, o Dr. Richard Hachett, que era membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, para generalizar este protocolo em caso de ataque contra a população civil dos EUA. Foi este homem quem propôs a confinar obrigatoriamente as populações sãs, provocando um levantar de alarme dos médicos norte-americanos, com o Professor Donald Henderson, da Universidade Johns Hopkins, à cabeça [3]. Para eles Rumsfeld, Hatchett e seu conselheiro, o alto funcionário Anthony Fauci, eram inimigos do juramento de Hipócrates e da Humanidade.

Quando a epidemia de Covid-19 apareceu, o Dr. Richard Hatchett tornou-se o Director da CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) ; uma associação criada no Fórum de Davos e financiada por Bill Gates. Foi Hatchett, o primeiro que utilizou a expressão « Nós estamos em guerra », retomada pelo seu amigo, o Presidente Emmanuel Macron. Foi ele quem aconselhou a confinar as populações sãs tal como havia imaginado 15 anos mais cedo no contexto da « guerra ao terrorismo ». Anthony Fauci, esse, continuava no seu posto. Ele tinha desviado dinheiro federal para financiar pesquisas que eram ilegais nos Estados Unidos. Elas foram realizadas para ele no laboratório chinês de Wuhan.

Normalmente, as profissões médicas deveriam ter-se erguido de novo contra o confinamento obrigatório de pessoas saudáveis. Mas nada disso se passou. Maciçamente, elas consideraram que a situação exigia violar o Juramento de Hipócrates.

Hoje em dia, os países ocidentais que aplicaram os conselhos do Dr. Hatchett e acreditaram nas mentiras da Gilead Science têm um balanço terrível desta pandemia. Os Estados Unidos têm 26 vezes mais mortes por milhão de habitantes do que a China. E a sua economia está devastada.

Isso mereceria alguns debates e explicações, mas não. Preferimos ver as nossas sociedades fracturarem-se de novo entre os partidários de Anthony Fauci ou do Professor Didier Raoult.

Conclusão

Mais do que conversar uns com os outros, confrontar os nossos argumentos, organizam-se falsos debates entre os repetidores do discurso dominante e os defensores das opiniões mais grotescas possíveis.

É inútil ambicionar viver em democracia, se recusamos discutir realmente os assuntos mais importantes.

Tradução
Alva
 
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1Le Journal de la guerre en Europe.

[2A propósito do significado político dos atentados do 11-de-Setembro , ler : “Tudo dá hoje razão a Thierry Meyssan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 31 de Agosto de 2021.

[3O Covid-19 e a Alvorada Vermelha”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 28 de Abril de 2020.

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Thierry Meyssan

Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II.
Manipulación y desinformación en los medios de comunicación
(Monte Ávila Editores, 2008).

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