Marechais: Chafurdando na lama

Créditos da foto: (Reprodução/Revista Fórum)
  Por Por Lygia Jobim - na Carta Maior - 08/08/2021

 Tomamos conhecimento, através de reportagem da revista Fórum, que a partir de 2019, com a entrada em vigor da Lei 13.954, o Brasil ganhou centenas de novos marechais. Esta lei não revogou normas anteriores, nem mesmo aquela que em 1967 extinguiu essa patente. Em 1980, com a promulgação do Estatuto dos Militares, a possibilidade de se atingir esse grau na carreira militar foi ressuscitada, mas apenas em tempos de guerra. A nova lei sancionada por Bolsonaro trata de questões previdenciárias das Forças Armadas e, por ela, cerca de 215 militares, entre generais, brigadeiros e almirantes, viram-se alçados, e com isso seus soldos, pensões e pensões de dependentes, a marechais, marechais do ar e almirantes, conforme a arma que lhes encha os bolsos no fim do mês.



Atualmente a transparência não é o forte de nosso Executivo. Se fosse, não teria sido imposto um sigilo de cem anos ao depoimento do General Pazuello sobre sua subida no palanque bolsonarista nem às idas e vindas dos rebentos presidenciais ao Palácio do Planalto, sede do Governo. Assim, não sabemos o critério utilizado para estas promoções nem quando ocorreram.

Alguns de nossos bravos marechais, como Etchegoyen, Augusto Heleno e Villas Boas, circulam pelo Planalto. O Marechal Pujol ocupou o cargo de Comandante do Exército até abril deste ano. Nada como pertencer a uma grande e unida família.

Outros, como os marechais Belham e Newton Cruz, foram pinçados da lista de militares responsáveis por cometer crimes durante a ditadura militar. Este último foi para a reserva como general de divisão. Para chegar a marechal, teria que passar a general de exército, mas em mamatas este é um detalhe insignificante.

No entanto, algumas dúvidas pairam no ar.

A primeira é por que são todos marechais in pectore, modalidade de nomeação de alguns cardeais quando o Papa não quer tornar públicas suas nomeações? Todos sabemos como ao militar agrada estufar o peito com medalhas e enfeitar os ombros com estrelas e afins. Fica a pergunta: por que não ostentar no corpo e no nome tão alta honraria?

Mas a cereja deste indigesto bolo de falta de vergonha e de respeito nos traz a segunda e bem mais profunda dúvida.

Como o fantasma do Coronel Brilhante Ustra, que para chegar a general teria que ter mais três promoções - general de brigada, general de divisão e general de exército - chegou a marechal, garantindo a cada uma de suas duas filhas uma pensão de R$15.307,90 enquanto o povo fica na fila dos ossos?

 Como esta aberração, comparável apenas àqueles que o idolatram, conseguiu, apesar de condenado a eternamente beber o sangue, suor e urina dos que torturou, ser alçado ao marechalato? O lugar que junto a seus pares lhe foi reservado no inferno é um lugar de onde jamais sairá, não importa sua patente nem o dinheiro sujo de sangue que alimenta suas prole e as de outros militares criminosos.

Cabe ao General Braga Neto nos dar essa explicação e com urgência. Caso contrário, estaremos autorizados a pensar que, como afirmou o Deputado Alexandre Padilha (PT-SP) à Fórum, uma coisa fica clara. A admiração por torturadores é traço comum às Forças Armadas e não uma exclusividade da família Bolsonaro. Sendo assim, a banda podre das FFAA não se limita a alguns poucos desonestos, mas a seu Estado Maior e integrantes do alto escalão.

E todos viverão felizes para sempre, com a consciência tranquila, enquanto chafurdam na lama da falta de compromisso com a ética, por terem feito jus à nova patente em suas constantes guerras contra a democracia.

A nós, cabe apenas a certeza de que o péssimo ainda pode piorar.

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