Milicianos ligaram para “Jair” da “Casa de vidro” após morte de Adriano da Nóbrega
Ex-capitão da PM, Adriano da Nóbrega foi executado durante uma operação policial em fevereiro de 2020 - Divulgação |
Plinio Teodoro - Revista Fórum | 24 de Abril de 2021
Reportagem publicada pelo site The Intercept Brasil neste sábado (24) revela novos detalhes de escutas telefônicas da investigação sobre Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope e comandante do chamado “Escritório do Crime” (braço de extermínio ligado à milícia de Rio das Pedras), que ligam o miliciano ao presidente Jair Bolsonaro.
O relatório das escutas sugere que milicianos teriam entrado em contato com uma pessoa identificada como “Jair”, “cara da Casa de Vidro” e “PRESIDENTE”, após a morte do ex-PM em uma ação da polícia da Bahia, no dia 9 de fevereiro de 2020. A "Casa de Vidro" seria referência ao Palácio do Planalto.
A ligações foram transcritas em um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro, elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar Adriano da Nóbrega nos 383 dias em que circulou foragido pelo país.
Leia também: “Chefe do Escritório do Crime”, miliciano ligado a Flávio Bolsonaro é morto na BA
Após o Ministério Público do Rio concluir que o “cara da casa de vidro” seria Jair Bolsonaro, as escutas teriam sido interrompidas, segundo as fontes ouvidas pelo Intercept na condição de anonimato.
A interrupção das escutas reforça a ideia de que o "Jair" seria o presidente da República, já que o MP estadual não tem competência para investigá-lo e deve informar a Procuradoria-Geral da República, que possui a competência. Segundo a reportagem, a PGR não informou ao site se recebeu ou não o inquérito.
:: Moro não fez nada para investigar o assassinato do Adriano da Nóbrega, diz advogada ::
Com base nas transcrições, o Intercept revela que a primeira ligação supostamente feita ao presidente aparece no dia 9 de fevereiro de 2020 à noite, logo após a morte de Adriano da Nóbrega. Ronaldo Cesar, o Grande, identificado pela investigação como um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano, disse a uma mulher que ligaria para o “cara da casa de vidro”.
Segundo o Intercept, no telefonema, Grande “demonstra preocupação com pendências financeiras" e comenta ter alertado "Adriano que ‘iria acontecer algo ruim'". Ele mostra preocupação, dizendo querer saber "como vai ser o mês que vem" e que a “parte do cara tem que ir”.
Depois de quatro dias, em 13 de fevereiro, Grande fala com um homem supostamente não identificado (HNI), o qual a transcrição classifica entre parêntesis como “PRESIDENTE” em letras maiúsculas. Apenas duas frases do diálogo de 5 minutos e 25 segundos foram transcritas.
No mesmo dia, o nome “Jair” aparece em conversas de outros comparsas
de Adriano, como o pecuarista Leandro Abreu Guimarães, que abrigou o
miliciano em sua fazenda no interior da Bahia durante a fuga. A mulher
dele, Ana Gabriela, diz que “Leandro está querendo falar com Jair”.
A reportagem faz parte de uma série de matérias do The Intercept Brasil, baseadas nas escutas que o MP realizou enquanto investigava o miliciano Adriano da Nóbrega.
Comentários