Fernando Brito: A classe média que foi ao inferno em busca de luz

 Por Fernando Brito - no Tijolaço - 25/04/2021

Extensa reportagem de Fernando Canzian, com muitos dados estatísticos, na Folha de hoje, mostra o inferno em que foi lançada – ou lançou-se – a pequena classe média, brasileira, que os governos do PT julgavam a “jóia da coroa” de seu governo desenvolvimentista.

O número de famílias na “Classe C”, com renda familiar mensal até 8.300 (note que isso era quase oito mínimos, em 2020), desabou 32%, mesmo tendo o “reforço” das famílias de Classe A/B que migraram para o patamar abaixo.

Daí que cresceram em 33,3 milhões de famílias as que estão nas classes “D” e “E”, com ingressos mensais de até R$ 1,92 mil e até, R$ 1,2 mil.

Sim, foi neste grupo, cuja ascensão deu-se sob Lula, que Bolsonaro inflou seu discurso de ódio e abocanhou a presidência.

A jovem classe média ascendente, como Esses Moços de Lupicínio Rodrigues, deixaram o Céu por escuro e foram ao inferno em busca da luz moralista que Moro levantava de Curitiba.

E vai piorar:

Enquanto classes mais favorecidas começam a estabilizar a renda ou a obter ganhos, as classes D e E —cada vez mais numerosas— devem amargar nova queda de quase 15% em seus rendimentos neste ano.

Mais, é um problema que se retroalimenta:

Mais pobre, a gigantesca população de baixa renda consumirá menos, exigindo menos investimentos e contratações de novos empregados pelo setor produtivo.

No entanto, todo o discurso que vemos dos “grandes economistas” se volta para o corte, o arrocho, a contração dos gastos públicos, uma espécie de dieta “low carb” para quem está anoréxico.

Só aqui, claro, porque a política de subsídios – trilhões de dólares – de Joe Biden é saudada como chave para a recuperação econômica dos EUA.

Repare como todos aqueles que atribuem ao quadro internacional de valorização das commodities o sucesso econômico do Brasil nos anos Lula não abrem a oca para falar que se vive, naqueles mercados, uma situação ainda melhor sem que isso alivie nossa desgraça econômica.

Não é a atração do capital financeiro internacional que trará a recuperação da economia brasileira, mas o inverso: é voltarmos a ser um país de 220 milhões de pessoas – e não um mercado de consumo de 70 ou 80 milhões de pessoas apenas – que nos tornará atrativos e não um inferno do qual, como estamos assistindo a toda hora, um país que perde investimentos produtivos, que expulsa fábricas como se viu ocorrer, ainda esta semana com a cimenteira francesa LafargeHolcim, que foi se juntar à fila de embarque onde já estavam a Sony , a Ford , a LG e a Mercedes-Benz.

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