O recado de Lima Duarte não é a Flávio Migliaccio, mas a todos nós: o omisso é cúmplice.
Por Kiko Nogueira - no DCM - 6 de maio de 2020
Flávio Migliaccio |
O recado de Lima Duarte para o amigo Flávio Migliaccio, que se suicidou, é o chamado mais urgente e necessário para o momento.
Aos 90 anos, Lima fez um monólogo curto diante da câmera.
Lembra do Teatro de Arena, de Augusto Boal, da ditadura, das piada ruins do amigo morto.
“Agora, quando sentimos o hálito putrefato de 64, o bafio terrível de 68, agora, 56 anos depois, quando eles promovem a devastação dos velhos, não podemos mais”, diz.
“Eu não tive a coragem que você teve”.
Lima se refere ao suicídio de Flávio, uma espécie de sacrifício ritual.
Ele termina com a seguinte frase: “Os que lavam as mãos o fazem numa bacia de sangue”.
É isso. Basta de omissão.
A sentença é de Pedro Jáuqeras, personagem de ‘Os Fuzis da Senhora Carrar’, de Brecht.
A senhora do título perde o marido lutando contra o fascismo de Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936.
Nada é mais forte que a arte. Esse é o chamado.
Agora cabe a nós resgatar o país de volta para os nossos braços e os de Lima.