Com mais de 87% dos leitos ocupados, São Paulo deve colapsar "em breve", diz médico
O médico infectologista Marcos Boulos acredita que a curva de contaminação no Estado está próxima do pico
O governo de São Paulo informa a proporção de óbitos de pacientes com menos de 60 anos aumentou 18 vezes em um mês - Rovena Rosa / Abr |
O Estado de São Paulo é o epicentro da pandemia de covid-19 o Brasil: contabiliza 2.627 óbitos e 31.772 casos de contaminação, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, deste domingo (3).
As informações também dão conta de que a taxa de ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), região metropolitana da capital, diminuiu ligeiramente em relação a sábado (2): de 87,5% para 87,1%. Em todo o Estado, o índice está em 66,2%.
De acordo com o médico infectologista Marcos Boulos, ainda que tenha ocorrido uma breve diminuição, a taxa de ocupação dos hospitais está aumentando e deve chegar ao limite rapidamente.
“Isso vai acontecer, porque o número em termos absolutos continua aumentando bastante. Provavelmente nós colapsaremos em termos de falta de leitos de UTI, principalmente. Isso vai acontecer e não deve demorar muito”, afirma Boulos.
Nesta segunda-feira (4), são 9,1 mil pacientes internados, dos quais 3.534 em UTI e 5.589 em enfermaria. O governo de São Paulo informa a proporção de óbitos de pacientes com menos de 60 anos aumentou 18 vezes em um mês. Do total de mortes, 693 tinham menos de 60 anos.
Quanto à taxa de isolamento referente a domingo (3), a capital registrou 58%. No Estado, esse índice foi de 56% para 59% de sábado para domingo. As cidades campeãs na taxa de isolamento são Cajamar com 70%, Ribeirão Pires, Lorena e Ubatuba, as três com 69%, e São Vicente (68%).
Agora, entre as cidades com os piores índices estão Sorocaba e Jundiaí, com 50%; Assis, Sumaré e Piracicaba, com 49%; Marília, com 48%; e Presidente Prudente, com 44%.
Boulos afirma que, mesmo com alguns números abaixo do ideal, que é de 50%, a taxa não está ruim, mas poderia “estar bem melhor se as pessoas respeitassem o isolamento por mais tempo. O abandono nos últimos tempos fez com que aumentasse o número de casos em hospitais”.
Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (4), o governador de São Paulo João Doria (PSDB) afirmou que se não fossem as medidas de restrição de convívio social, “teríamos muito mais casos, cerca de 26 mil mortes apenas em São Paulo”.
“Não temos tido bons números, mas nós continuamos a confiar e a pedir à população do Estado de São Paulo para que protejam as suas vidas e fiquem em casa. Não queiram reproduzir em São Paulo as cenas dramáticas que vimos na capital do Amazonas, em Manaus, com o colapso da saúde, não obstante todo o esforço do prefeito”, afirmou o governador na coletiva.
Diante dos dados, ainda que seja difícil estimular minuciosamente quando ocorrerá o pico do número de casos e óbitos da doença, o médico infectologista Marcos Boulos acredita que São Paulo não está longe desse momento. “A gente está falando que está diminuindo a porcentagem relativa de aumento. Mas claro que, enquanto ainda está aumentando, está aumentando cada vez mais o número absoluto”, afirma o médico.
Em relação a outros estados, São Paulo apresenta a mais expressiva regressão da curva. Logo que a epidemia começa, há o registro de poucos casos, que, ao longo do tempo, vão aumentando até ocorrer uma grande concentração no meio do surto para depois diminuir no final.
Em São Paulo, mais do que em outros estados, essa concentração de casos tem se espalhado ao longo do tempo. “A curva está achatando mais rápido aqui em São Paulo do que em outros estados. Mas como nós temos muito mais população e a doença começou aqui, então nós temos muito mais casos aqui do que em outros estados.”
O que os governos estadual e municipal de São Paulo têm feito?
O prefeito Bruno Covas (PSDB) sancionou a Lei 17.340, na última sexta-feira (1º), que estabelece um conjunto de medidas de proteção da saúde pública e de assistência social que visam o combate ao coronavírus. Entre as medidas está a autorização para requerer ao SUS municipal leitos hospitalares da rede privada.
A possibilidade já estava prevista no artigo 5º e inciso 25 da Constituição Federal, cujo conteúdo estabelece que, “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano”.
Em São Paulo, são 247 hospitais privados. Desses, 140 têm um total de 255 leitos, os outros 107 têm 3.970 leitos, que são os hospitais de grande porte e com os quais a prefeitura tem priorizado as tratativas.
“Com dois deles, nós já assinamos contrato para disponibilizar leitos de UTI, o Hospital da Cruz Vermelha e o Hospital da UNISA. Então isso já está sendo feito na cidade de São Paulo via contrato, pagamento por preço público de R$ 2.100,00 por dia e por leito, pago pela Prefeitura de São Paulo”, informou o prefeito Covas durante a coletiva de imprensa desta segunda-feira.
O objetivo é utilizar 20% dos leitos da rede privada, cerca de 800 leitos. Do Hospital da Cruz Vermelha, são 20 unidades de UTI e 40 de enfermaria, e da UNISA são 60 leitos de enfermaria.
A lei também autoriza a disponibilização de leitos de hotéis a profissionais de saúde, moradores em situação de rua e mulheres vítimas de violência; e a reserva da primeira hora de abertura dos estabelecimentos para atendimento a pessoas com mais de 60 anos de idade.
Durante a coletiva, governador e prefeito anunciaram o redirecionamento de R$ 300 milhões do Fundo Municipal de Saneamento Ambiental e Infraestrutura (FMSAI) para o combate ao coronavírus. Já existia uma autorização da Câmara dos Vereadores, mas faltava uma autorização ainda do governo de São Paulo, que é quem detém a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que é obrigada a repassar valores financeiros para o fundo.
A partir desta segunda-feira, o prefeito Bruno Covas tornou obrigatório o uso de máscaras em transporte público. A decisão foi absorvida pela decisão do governador Doria de tornar obrigatório o uso de máscaras no Estado de São Paulo, que passa a vigorar a partir do dia 7 de maio.
A regulamentação sobre fiscalização e eventuais punições está a cargo das prefeituras. Covas afirmou que até o dia 5 de maio, próxima quarta-feira, a regulamentação para a cidade paulistana deve ser publicada.
“É uma obrigatoriedade, mas eu tenho certeza que você, cidadã e cidadão, terá a responsabilidade de, ao usar a sua máscara e recomendar que outros membros da sua família também utilizem essa máscara, você estará defendendo a sua vida, a vida dos seus familiares, amigos e vizinhos”, afirmou João Doria.
Algumas vias da cidade de São Paulo também foram interditadas a partir desta segunda-feira a fim de ampliar o isolamento social, durante o horário de pico, das 7h às 9h, como as avenidas Moreira Guimarães, Santos Dumont, do Estado, Radial Leste e Francisco Morato.
Na Estação Tatuapé da CPTM foram instaladas, nesta segunda-feira, duas cabines de higienização, o que deve ocorrer em mais de 25 estações da CPTM e do metrô. Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM), a cabine possui um sensor que aciona borrifadores com uma solução hidroalcoólica higienizante durante quatro segundos.
Edição: Leandro Melito