Comitê judaico dos EUA exige desculpas de Ernesto Araújo por analogia com campos de concentração
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A fala na semana passada do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, comparando o isolamento social para conter a COVID-19 aos campos de concentração nazistas gerou reações nos Estados Unidos, com a exigência de pedido de desculpas pelo chanceler.
O Comitê Judeu Americano, uma das principais associações para defender os direitos do povo judeu, classificou como "profundamente ofensiva e totalmente inapropriada" a postagem de Araújo em seu blog pessoal, no último dia 22 de abril.
"Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada. Ele deve se desculpar imediatamente", escreveu o Comitê nesta terça-feira (28) em sua página no Twitter.
No seu texto pessoal, Araújo criticou um livro escrito pelo filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek, e redigiu que "arbeit macht frei" (o trabalho liberta, em alemão) deveria ser o lema correto da nova era de solidariedade global e que agora se fará bom uso desta mentira.
"Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade", avaliou o chanceler brasileiro.
No mesmo texto, Araújo também refuta a legitimidade de organizações internacionais auxiliarem no combate à pandemia – no que parece ser uma crítica direta à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização das Nações Unidas (ONU).
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Foto da placa "Arbeit macht frei" (Trabalho te torna livre) no portão principal do antigo campo de concentração e extermínio nazista alemão Auschwitz.
O mais alto diplomata do Itamaraty no momento ainda declarou que o novo coronavírus é parte de um "projeto globalista" e que integra um "estágio preparatório comunismo", classificando assim a pandemia como "comunavírus", dentre outras teorias conspiratórias.
Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, no Brasil outras entidades também condenaram a comparação feita pelo chanceler do governo do presidente Jair Bolsonaro com menção aos campos de concentração nazistas, que mataram milhões de judeus em 1939 e 1945.
"Impressiona o uso excessivo e absurdo que membros do atual governo brasileiro fazem do nazismo e do Holocausto. Desde as afirmações do atual presidente de que o nazismo seria de esquerda (feitas em frente ao Museu do Holocausto, em Jerusalém) até a reprodução do discurso do ministro da propaganda nazista pelo ex-secretário especial de Cultura, os absurdos se multiplicam", destacou o Instituto Brasil-Israel em uma nota à publicação.
Em 2019, Araújo e Bolsonaro visitaram Jerusalém, a convite do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, e associaram o Partido Nazista de Adolf Hitler à esquerda – fato historicamente refutado por historiadores ao longo de décadas.