Abin estima cerca de 5 mil mortes por covid-19 em duas semanas, afirma jornal
The Intercept Brasil teve acessso a dados sigilosos, que preveem 207.435 casos confirmados da doença até 6 de abril
Os informes da Abin também enfatizam a necessidade de medidas como a quarentena - Sergio Lima / AFP |
O Brasil deve ter 5.571 mortes por contaminação do novo coronavírus e 207.435 casos confirmados da doença até dia 6 de abril, em duas semanas.
Divulgados nesta terça-feira (24) pelo jornal The Intercept Brasil, os dados, classificados como sigilosos, têm por base a projeção mais recente feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que envia ao presidente Jair Bolsonaro relatórios frequentes sobre o impacto da doença no Brasil.
Caso o presidente Jair Bolsonaro venha a tomar medidas mais rigorosas contra a pandemia do novo coronavírus, como França e Alemanha, o Brasil poderá chegar a 6 de abril, no entanto, com 2.062 mortes.
Mesmo tendo conhecimento dos números projetados pela agência, Bolsonaro, em pronunciamento feito na noite desta terça-feira (24), pediu que a população brasileira volte à “normalidade”, rejeitando as recomendações internacionais de isolamento social. Enquanto falava em rede nacional, o Brasil registrava 2.201 casos confirmados e 46 mortes.
Os informes da Abin também enfatizam a necessidade de medidas como a quarentena. “Coréia do Sul, Irã e China conseguiram mudar a direção da reta, provavelmente depois da adoção de medidas de contenção”, destaca o relatório, de acordo com o jornal.
Os agentes da Abin informam que a “China conseguiu diminuição na taxa de crescimento cerca de 10-15 dias depois da adoção de medidas de contenção, inclusive com lockout (fechamento da entrada e saída de pessoas) em municípios e cidades. A partir desse período o número de casos novos parou de crescer na mesma taxa e o número de casos ativos começou a reduzir em função da melhora dos pacientes mais antigos”.
O documento também enfatiza que “a taxa de letalidade no Brasil ainda é baixa quando comparada a outros países e aos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)”. No entanto, “é importante considerar que o país se encontra no início da epidemia”.
O relatório também mostra que, nessas duas semanas, se a curva da pandemia for semelhante a de países como Irã, Itália e China, serão necessários 10.385 leitos para atender doentes com casos graves de covid-19. O número equivale a 17,4% dos quase 60 mil leitos disponíveis no País.
Nos estados, a proporção dos leitos necessários em relação ao total é mais assustadora. Em duas semanas, Ceará, Distrito Federal, Santa Catarina e Acre precisariam de 46,3%, 44,5%, 30,6% e 30,4% dos leitos de UTI, respectivamente. São Paulo, por ter a melhor rede hospitalar do País, precisaria de 25% das vagas.
No Brasil, governadores e prefeitos foram na contramão do posicionamento do capitão reformado e instituíram a quarentena, por meio de decreto. E, mesmo depois do pronunciamento de Bolsonaro nesta terça-feira (24), afirmaram que irão manter o isolamento. É o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que afirmou que “há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República. Os danos são imprevisíveis e gravíssimos”.
As projeções da Abin são realizadas diariamente a partir dos números divulgados pelo Ministério da Saúde e das curvas de avanço da pandemia em outros países. As informações também são enviadas a agentes de governos estaduais.
Edição: Camila Maciel