Paralelos históricos: França de Vichy e Brasil de Washington, por Andre Motta Araujo

Por essas reviravoltas da política, hoje o Brasil ESTÁ SENDO VISTO por todo o planeta como País vassalo de Washington, como no passado eram algumas repúblicas bananeiras

Por Andre Motta Araujo - no GGN - 09/01/2020

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A história registra contextos geopolíticos que permitem construir paralelos com finalidade apenas didática, mas que abrem espaço para reflexões.
Um País cuja política externa depende do que outro decida é uma situação não tão comum e tem um peso relevante na avaliação do que esse País é.
A França de Vichy era um Estado nominalmente soberano, tinha Embaixadas em muitos países como o Brasil e outros Países tinham Embaixadores em Vichy, inclusive os EUA até 1944. Mas tudo era uma ficção, um palco de teatro. A diplomacia de Vichy dependia de Berlim, a França era um País submisso ao Terceiro Reich e a situação permite uma comparação ao Brasil de hoje, com uma diferença, não é Washington que exige submissão, é o Brasil que se oferece como vassalo. Raras vezes na História se vê semelhante situação de degradação de uma soberania, muito menos de um grande País com rica História.
A França de Vichy vendeu sua diplomacia ao Terceiro Reich após uma derrota militar humilhante, mas o Brasil rendeu sua outrora respeitada diplomacia sem uma razão lógica, mas com o apoio corrosivo de uma parte da população, da elite burocrática e empresarial e dos “mercados”. A diminuição de “status” do nível de importância geopolítica do Brasil foi “normalizado” por esses segmentos da população, por sua cúpula institucional e pela mídia, todos submergidos por uma onda de ignorância, egoísmo, desprezo por seu próprio País, o “sonho de Miami” na cabeça da alta classe média sem pátria.
O VALOR DA MARCA BRASIL
Por sua trajetória única nas Américas, único Estado criado a partir de um Rei, depois um Império comandado por um Imperador, personagem de distinção única em um continente conflagrado por caudilhos, o batismo do Brasil como nação se distancia das repúblicas sem boa origem, capitanias desgarradas da metrópole em territórios retalhados, o Brasil majestoso e solidamente unificado sob uma única Coroa, uma história muito especial.
Na modernidade, único entre todos os países latino-americanos a ter um papel destacado na Segunda Guerra Mundial, um dos oito Aliados originais na luta contra o Eixo, fundador da ONU cuja Assembleia presidiu por dois anos (1947 a 1949), com uma diplomacia única no continente por seu profissionalismo, nenhum outro País na América Ibérica teve escola para formação de diplomatas, o Brasil se destacou nos últimos 100 anos como potência regional e ator global respeitado por todas as chancelarias, País que em maior número integrou Missões da ONU, em um só momento em nove Missões simultâneas e no Comando da maior de todas, a do Congo (General Santos Cruz), um capital diplomático superior foi conquistado.
Por essas reviravoltas da política, hoje o Brasil ESTÁ SENDO VISTO por todo o planeta como País vassalo de Washington, como no passado eram algumas repúblicas bananeiras, uma situação anômala, esdruxula, ahistórica, fruto do neopopulismo de direita primitivo que sequer enxerga qual é o País que representa.
Mas há um consolo, a França, o País de Luís XIV, de Richelieu, de Talleyrand, de Napoleão, caiu no colo de sátrapas nazistas em Paris por uma dessas cambalhotas da política COM O APOIO DA ELITE FRANCESA de então, quase toda ela, da mesma forma que a fase Porto Rico do Brasil de hoje se constrói com o apoio obsequioso da elite institucional, empresarial, política e dos “mercados” interessados apenas em seus ganhos do dia seguinte, sem ver para onde vai o País nessa trajetória de vergonhosa submissão, pior ainda, submissão oferecida e não solicitada.
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