E daí o nazismo, se der dinheiro? O mercado explicita quem é o seu Deus

POR FERNANDO BRITO · NO TIJOLAÇO - 18/01/2020

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Na Folha, Júlia Moura mostra a reação – ou a falta de reação – do mercado financeiro ao embrulho que durou todo o dia pelas citações do nazista Joseph Goebbels feitas pelo ex-enfant gaté de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim.
É coisa de doer.
Dizem que está tudo bem, que as questões morais não interferem no essencial: estarem ganhando dinheiro.
Vejam, são os mesmos sujeitos que dizem que “responsabilidade social” é um diferencial de mercado, que enchem a boca para falar de “boas práticas”, de “compliance”.
Nada de espantar, pois desde que o inventaram, o dinheiro é a maçã e o pecado que se dane.
Mas é diferente que o aquilo que valha para suas ganancias – e uso a palavra no espanhol, no sentido de ganhos – possa servir para reger a vida de uma sociedade.
Mas não, mesmo com o sangue e as dores se seus antepassados a doerem nas consciências, acham isso uma bobagem ante seus extratos bancários:
“Sou judeu e me preocupo muito [com o discurso de Alvim]. É triste vermos uma cena assim, fico pensando os predicados que o levaram a ocupar o cargo. No entanto, economicamente, não há impacto, pois não interfere na aprovação das reformas, que é a métrica pela qual o mercado vai avaliar o governo”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
É coisa de doer, repito.
Como sou velho, conheci judeus no Brasil, vindos da 2a. Guerra, que tinham os braços marcados a ferros em brasa dos campos de concentração nazistas.
É triste ver que seus netos já não lhes ouvem os gritos de dor.
Levado ao pé da letra, o “mercado” nada tem a a ver com os seres humanos.
Sendo assim, o que nós, seres humanos, temos a ver com o mercado, se este desconsidera a humanidade?
Ainda não somos – e isto se provou hoje – um país capitulado.
Nem vivemos num mundo que reproduz integralmente nossa selvageria local.