Reforma agrária vai além das ocupações, diz dirigente do MST ao fazer balanço de 2019

Coordenador Nacional do Movimento, Gilmar Mauro ressalta foco na formação política em uma conjuntura desfavorável


Gilmar Mauro lembra que MST formou turma de direito no Paraná e investiu em cursos de formação para a militância - Créditos: José Eduardo Bernardes
Gilmar Mauro lembra que MST formou turma de direito no Paraná e investiu em cursos de formação para a militância / José Eduardo Bernardes

As declarações do presidente Jair Bolsonaro contra os trabalhadores do campo, em especial contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) influenciaram diretamente no aumento dos casos de conflito em áreas rurais. 
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), até novembro deste ano, mais de 24 mortes haviam sido registradas. 
Outro levantamento feito pela entidade aponta que apenas 8% dos casos de mortes no campo foram julgados pela Justiça brasileira, entre os anos de 1985 e 2018. Foram, ao todo, 1.468 casos registrados e apenas 117 tiveram uma resolução.
"Este ano foi difícil por uma série de razões: nós tivemos vários despejos, tivemos várias mortes, nenhuma desapropriação de área e nós tivemos cortes em políticas públicas que ajudaram a estruturar a pequena agricultura", explica Gilmar Mauro, coordenador nacional do MST.
As ameaças feitas por Bolsonaro e seus aliados, segundo Mauro, empoderam fazendeiros e ruralistas, que aumentaram o tom das ameaças e violências. A conjuntura sequer permitiu que os camponeses fizessem enfrentamentos.
"É evidente que o povo brasileiro faz análise de conjuntura. E o povo não se lança à luta quando sabe que não vai ter vitória. Assim, também é o MST", compara.
O momento foi, de acordo com o dirigente, uma oportunidade para reorganizar as bases camponesas. “Reforma agrária popular é terra sim, mas é um conjunto de outras coisas que resgatem a dignidade humana. Então nós avançamos na formação de uma turma de direito, no estado do Paraná. Nós conseguimos avançar nas comunicações do MST, nós conseguimos avançar na formação político-ideológica. A Escola Nacional [Florestan Fernandes] é uma referência internacional, fazendo formação para o mundo todo. Ou seja, estamos construindo um processo, que evidentemente não vai fazer a luta agora, aberta, porque talvez não seja o momento".
Confira a retrospectiva:
Edição: Rodrigo Chagas