Depois da Argentina, o Equador. Esquerda deu à América do Sul estabilidade que a direita não entregou
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Conflitos de rua se espalham por Quito e outras cidades equatorianas.
É a reação pelo aumento de 123% no preço dos combustíveis, com a retirada dos subsídios que recebia do governo (o país é um imenso produtor e exporta meio bilhão de barris de óleo por dia).
Dois dias atrás, o país deixou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e, com isso, deixou de estar obrigado aos volumes e aos preços acordados entre as nações que vivem da exportação de óleo.
Ontem o país fechou um acordo de saneamento das suas contas com o Fundo Monetário Internacional e , hoje, mais que dobrou o preço da gasolina, do diesel e do gás.
A direita voltou ao poder no Equador, embora tenha sido a esquerda que venceu as eleições.
Lenín Moreno, o candidato a presidente eleito nas costas de Rafael Correa, mudou de lado e iniciou uma intensa perseguição a seu mentor.
Correa está ameaçado de prisão: nenhuma novidade nesta América do Sul, assim ou pior estão Cristina Kirchner e Lula.
Não é “menos pior” a situação do Peru e quase tanto a da Colômbia e a do Paraguai, que escapou, por enquanto, de um processo de impeachment que por pouco não ocorreu por uma escândalo que envolve um suplente de senador do PSL bolsonarista.
Da Venezuela, nem é preciso falar, não é?
A América do Sul está vivendo tempos de agitação e incerteza que passou uma década sem conhecer e aqui não se tenham dado conta, até porque fizemos, por anos, “banha para queimar”.
Os “agitadores de esquerda” deram ao subcontinente a estabilidade e a previsibilidade políticas que os “investidores estrangeiros” tanto queriam, mas que eles próprios trataram de subverter.
Nem aqui nem nas vizinhanças podem contar, como no passado, com as forças armadas como ferramenta para impor a “pax romana” do capitalismo internacional.
O mundo é outro.
Mas não conseguem compreender que desenvolvimento e inclusão são inseparáveis – inclusão é a tradução moderna, talvez, da velha “justiça social”, com as ampliações que lhe agregaram os tempos.
Precisam entender que já não podemos ser tratados como há 40 ou 50 anos atrás, não porque isso seja injusto apenas, mas porque é inviável.
Já não é mais possível que, como nos versos de Ruy Guerra, esta terra aqui venha a se tornar um império colonial.
Ainda que tenhamos um governo que diga isso, já não pode acontecer.
O Brasil já não é aquilo que dele disse o General Mourão: uma capitania hereditária.
A direita latinoamericana não é só anacrônica, é burra.