O que Palocci disse sobre os grandes bancos (e a Lava Jato em Curitiba ignorou)
Novas revelações do Intercept em parceria com o El País indicam que investigar, processar e levar grandes bancos à condenação nunca foi a intenção da Lava Jato em Curitiba. Por isso a delação de Antonio Palocci foi rejeitada
Por Jornal GGN - 22/08/2019
Por Jornal GGN - 22/08/2019
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Preso em setembro de 2016, Antonio Palocci passou dois anos tentando convencer os procuradores de Curitiba a aceitarem um acordo de delação premiada que, segundo ele, implicaria meios de comunicação e o setor financeiro. Mas a força-tarefa acabou rejeitando a negociação, alegando falta de provas de corroboração. Hoje, descobre-se que os motivos eram outros.
Nesta quinta (22), o Intercept Brasil em parceria com o El País mostraram que investigar, processar e levar grandes bancos à condenação nunca foi a intenção da Lava Jato.
O que a turma de Deltan Dallagnol queria, e já havia estabelecido como meta lá em 2016, era fazer acordos financeiros com as instituições para reparar danos causados pela lavagem de dinheiro e pelas falhas de compliance, sem correr o risco de “quebrar o sistema financeiro”.
Foi assim que tudo o que Palocci disse sobre os grandes bancos aos procuradores de Curitiba acabou escanteado.
Para ver-se livre da cadeia, o ex-ministro fechou o acordo de colaboração, já homologado pelo Supremo Tribunal Federal, com a Polícia Federal.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, já fatiou e distribuiu entre várias seções judiciárias os termos da delação de Palocci.
No despacho em que resume 23 depoimentos, não há citações a banqueiros poderosos como há no esboço compartilhado, anos atrás, em chats do Telegram entre a força-tarefa.
Abaixo, o que Palocci fez constar na proposta de delação rejeitada pelos procuradores de Curitiba, e que, segundo o El País, não teve o devido encaminhamento das autoridades.
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Palocci apresentou ao MPF em Curitiba uma “narrativa complexa sobre sua relação com poderosos, como Joseph Safra (Banco Safra), Pedro Moreira Salles (na época, do Unibanco), Lázaro Brandão e Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), dentre outros.”
SAFRA
Sobre o banco Safra, delator afirma que recebeu convite para ser conselheiro do banco na Suíça. e que Joseph Safra teria pedido sua ajuda para “recuperar prejuízo que teve com a crise dos derivativos cambiais envolvendo uma das empresas em que tinha participação societária, a Aracruz, em 2008”.
Em troca, o banco teria dado “carta branca” a Palocci para obter recursos junto ao banco – e o ex-ministro disse que isso estava estendido a Lula – e fez doações eleitorais e pagamentos à empresa de consultoria Projeto, de Palocci. O Safra não quis se manifestar.
BRADESCO E HENRIQUE MEIRELLES
Ainda de acordo com Palocci, em 2009, quando ele era deputado federal, o então economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, e Júlio Siqueira, vice-presidente executivo do banco, o procuraram para obter informações adiantadas do Banco Central sobre a mudança da taxa básica de juros, a Selic.
Palocci afirmou à Lava Jato que obteve essas informações com o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e repassava ao Bradesco. Os envolvidos negam as acusações.
UNIBANCO
Ainda como deputado, Palocci teria sentado em cima de um projeto de lei para não prejudicar a fusão dos bancos Unibanco e Itaú, em 2008, a pedido Pedro Moreira Salles, banqueiro do Unibanco. O PL 265/2007 transferiria do Banco Central para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a análise dos casos de fusão bancária, e isso poderia fazer com que a negociação do Unibanco fosse engavetada por violar o princípio da livre concorrência. Juntos, os dois bancos dominariam mais de 30% do mercado.
Em contrapartida, o novo banco Itaú Unibanco teria doado 4 milhões de reais para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. O problema é que a instituição, naquela eleição, fez doações no mesmo volume para outros candidatos que lideravam as pesquisas eleitorais.
SANTANDER/BANESPA
Palocci também relatou que, em 2000, quando o Santander comprou o Banespa, ele, ainda prefeito de Ribeirão Preto (SP), foi procurado por Miguel Jorge, na época diretor de relações governamentais do Santander/Banespa, para que a prefeitura não migrasse para outras instituições. Palocci aceitou em troca de doações para o PT em 2002.