Dallagnol fez lobby com Moro para emplacar novo PGR quando Bolsonaro ainda estava em campanha

Procurador Vladmir Aras pediu a Deltan para ser apresentando a ministros do Supremo, e esperava que Moro pudesse recomendá-lo a Bolsonaro

por Redação RBA - 16/08/2019

REPRODUÇÃO/MPF
Deltan marcou encontros e mandou mensagens elogiando Vladmir Aras

O coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o procurador regional Vladmir Aras sabiam da aproximação do então juiz Sergio Moro com presidente Jair Bolsonaro (PSL) ainda durante as eleições. Novos diálogos do escândalo Vaza Jato, publicados nesta sexta-feira (16) pelo portal Uol, em parceria com o The Intercept Brasil, revelam Aras pedindo a Dallagnol para que falasse com Moro sobre sua candidatura a procurador-geral da República (PGR), cargo a ser definido pelo então futuro governo. As primeiras mensagens foram trocadas em 11 de outubro de 2018, antes do segundo turno.
“Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Aras,  quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”. Segundo ele, Moro teria “prestígio” e sua opinião seria ouvida pelo candidato sobre a nomeação do novo chefe do Ministério Público. As mensagens são reproduzidas fielmente como o original e podem conter eventuais erros de digitação e ortografia.
Aras também solicita a Dallagnol para ser apresentado aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Edson Fachin. “(Tive um sonho muito claro no domingo sobre a importância de falar com Barroso)”, diz. O procurador responde que poderia apresentá-lo aos ministros, em março de 2019, quando daria “aula magna” numa faculdade em Brasília, confirmando o lobby junto a autoridades.
Dallagnol consegue então convite para Aras participar de evento organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP) que contaria com a presença de Barroso. Em abril, quando foi recebido por Fachin, Aras pediu “uma força” do procurador de Curitiba para reforçar a sua campanha.  Dallagnol também enviou mensagens elogiosas sobre o colega para os ministros.
O chefe da Lava Jato também tratou de apresentar o procurador candidato ao senador Eduardo Girão (Pode-CE), e depois elaborou um plano envolvendo visitas a outros senadores, já que a indicação do procurador-geral da República precisa contar com o aval do Senado.

Combinações

Para a integrante da executiva nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) Érica Meireles, trata-se de mais uma revelação que corrobora com a falta de isenção da Operação Lava Jato, que articulava politicamente com um candidato, ao mesmo tempo em que comandava investigações contra seus adversários políticos. Outro flagrante dessa atuação política foi quando Moro divulgou trechos de uma delação do ex-ministro Antonio Palocci com acusações contra o PT, dias antes do segundo turno, ocorrido em 28 de outubro, prejudicando o candidato Fernando Haddad.

#MoroMente

A ABJD realizará, na próxima segunda-feira (19), ato público da campanha #MoroMente, ação que visa denunciar e esclarecer a opinião pública sobre os crimes cometidos pelo ex-juiz no âmbito da Lava Jato. Além de outras entidades do mundo jurídico e de movimentos sociais, políticos e artistas também devem participar da manifestação, que ocorrerá a partir das 18h30, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, região central da capital paulista.
Segundo Érica, estão confirmadas as presenças de Fernando Haddad, Guilherme Boulos e a desembargadora aposentada Kenarik Boujikian. “A gente espera que esse ato sirva para mandar um forte recado a Moro e ao governo de que nós não estamos com os olhos fechados. Sabemos dessas violações, iremos denunciá-la, e seguiremos disputando a consciência da sociedade”, afirmou em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (16).

Ouça a entrevista na íntegra