Nassif: O governo Bolsonaro se aproxima da hora da verdade

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Não há que se surpreender com Paulo Guedes, assim como não havia razões para esperar algo diferente de Jair Bolsonaro.
Desde o começo se sabia que Guedes era um gestor atrapalhado. É muito mais fácil comandar uma equipe de analistas, do que uma equipe multidisciplinar como o super-ministério que ele assumiu.  No caso do banco de investimento, o objeto é um só, assim como o nível de conhecimento e de analise. Mesmo assim, Guedes foi um desastre, criando conflitos desnecessários com seus sócios e suas equipes, não demonstrando capacidade de convivência e de liderança. Sempre foi um grande desorganizado – e nem se tome como ofensa, porque é a característica dos intelectuais.
Se não dava certo em ambientes de conhecimento homogêneo, no governo foi pior, ainda mais com essa loucura do super-ministério colocado sob seu comando. O problema central é a recessão continuada da economia, seus impactos sobre emprego, criminalidade e contas públicas.

Hoje saiu a PNAD Trimestral (Pesquisa Naciional de Amostra de Domicílios), mostrando o tamanho da crise. Em geral, se mede o desemprego apenas no universo das pessoas que estão trabalhando ou procuraram emprego no curto prazo. O PNADT vai além. Ele investiga também aqueles que desistiram de buscar emprego e estão fora do mercado de trabalho.
O quadro é dantesco.
Se se somar trabalhadores desocupados, mais os que estão fora do mercado, há 166% pessoas a mais do que os trabalhadores ocupados. No total, essa relação é de 82% no Brasil.

No penúltima PNADT, mediu-se o tempo que dura esse desemprego. Os que buscam emprego há mais de 2 anos chegam a quase 20%
Hoje em dia, a crise fiscal – que se aprofunda – é função direta da queda da atividade econômica. E Guedes não tem a menor noção sobre políticas anticíclicas. Menos ainda sobre o ferramental que tem à sua mão, bancos públicos, gastos públicos, destravamento de concessões.
Ele está totalmente travado. Não conseguiu desenvolver uma política setorial sequer. Foi incapaz de definir estratégias de redução da inadimplência, melhorar a situação do crédito, acelerar os processos de concessão. Todo seu trabalho consiste em cumprir ao pé da letra as restrições fiscais, cujo buraco aumenta em função direta da queda de receita – fruto da recessão.
Cria-se o moto contínuo do desastre. Efetua cortes brutais no orçamento, a demanda cai mais ainda, derrubando mais ainda as projeções de crescimento do PIB. A reação são mais cortes, mais desaquecimento, mais queda da receita. E joga todas as expectativas na tal reforma da Previdência que, mesmo saindo, não resolverá a questão crônica da falta de demanda.
O país se aproxima rapidamente de uma situação de impasse, com desfechos radicais no front político.

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