Florestan: Uma República escatológica
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"Se a grande virtude do militar é a disciplina, a do intelectual é o espírito crítico." Esse é um dos trechos da carta em que meu pai condenava a invasão da USP por soldados do Exército em 1964. Por conta dela, Florestan recebeu ordem de prisão do coronel que comandou a operação. Nos três dias em que ficou numa cela do Quartel Tabatinguera, ele recebeu a visita de um tenente que pediu um autógrafo num dos livros escritos por ele.
Hoje, o autoproclamado filósofo Olavo Carvalho, guru dos Bolsonaros, não para de disparar críticas grotescas e desrespeitosas aos generais do Exército sem que nada lhe aconteça. Nem um processo por difamação na Justiça ele teve que responder. Ao contrário, o astrólogo da Virgínia, além de fazer parte da comitiva brasileira na visita a Trump em Washington, indicou dois ministros de peso do atual governo e recebeu no mês passado a mais importante comenda do país, a Ordem do Cruzeiro do Sul.
O último desatino de Olavo foi postado na terça-feira (07/05) no Facebook. Ele diz: "Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas".
O cadeirante em questão é o general Eduardo Villas Boas, que sofre de doença degenerativa. Olavo afirma com todas as letras existir generais covardes no governo: "Nem o Lula seria vil e porco o bastante para, fugindo a argumentos sem resposta, se esconder por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas. Mas os nossos heroicos generais são".
Um dia antes, pelo Twitter, o guru dos Bolsonaro já havia chegado ao esgoto verbal ao atacar de modo chulo o mesmo general Villas Boas: "A quem me chama de desocupado não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro".
Sem papas na língua, o general Paulo Chagas manteve a polêmica no mais baixo nível já visto na República: "Desocupado é o ânus do Olavo que foi substituído pela boca".
Ao falar da falta de grandes nomes na política, Lula se questionou, na entrevista que deu a mim e a Mônica Bergamo, onde estavam os Ulisses, os Brizolas e os Arraes na oposição do século 21? É o caso de se perguntar onde estão também os oficiais do Exército com a formação intelectual de um Jarbas Passarinho, um Otávio Costa e um Golbery do Couto e Silva?
Ao se nivelar por baixo, os generais colocam em risco seu maior patrimônio: a credibilidade. Até onde as Forças Armadas estão dispostas a aceitar serem avacalhadas por um grupo que despreza os princípios básicos de convivência e cidadania? Vale a pena chafurdar num governo cujas grandes realizações até aqui foram o desmonte da educação, a liberação dos agrotóxicos, das armas e do desmatamento, entre outras barbaridades?
É... não se fazem intelectuais e nem generais como antigamente, muito menos presidentes.
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