Caminhoneiros: não é só o diesel, é a recessão
POR FERNANDO BRITO · 11/05/2019
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Embora o assunto esteja em quase toda a mídia, com a concentração de caminhoneiros marcada para o próximo dia 19, em Brasília, é disparado a melhor cobertura a que traz hoje a Folha, da repórter Heloísa Negrão, que foi ver, nos estacionamentos próximos aos terminais de cargas – sem deixar de reunir os números do setor – o que de fato está motivando a agitação dos transportadores de cargas.
Ou, para muitos, ex-transportadores, porque já não conseguem, senão depois de muito tempo, contratos para encherem seus caminhões e sairem para as estradas.
João Batista Rodrigues Alves, 47, de Fortaleza, no Ceará, conta que passou 14 dias na beira de uma estrada, em Belém, no Pará, quando aderiu ao protesto. Agora, porém, para por não ter que o fazer.
Na segunda-feira (6), completava o quarto dia sem encontrar trabalho no Terminal de Cargas de São Paulo. Antes do serviço que o levou à capital paulista, ficara 18 dias em casa à espera de um frete.
Pelo trajeto de Fortaleza para São Paulo, recebeu R$ 9.300 —R$ 2.700 menos do que ganhou da última vez.
Na segunda-feira (6), completava o quarto dia sem encontrar trabalho no Terminal de Cargas de São Paulo. Antes do serviço que o levou à capital paulista, ficara 18 dias em casa à espera de um frete.
Pelo trajeto de Fortaleza para São Paulo, recebeu R$ 9.300 —R$ 2.700 menos do que ganhou da última vez.
Outro motorista, gaúcho, diz que “ndiantam tabela do frete ou diesel barato”, porque “está tudo parado, não tem serviço, não tem carga para todo mundo. Precisa melhorar o país como um todo. É saindo da crise, voltando a produzir mais e a vender mais que vai ter carga para a gente transportar”.
Com a queda da produção e do consumo, a oferta de frete fica sobrando, não há tabela que resista. E com ganho cada vez menor, porque o preço do diesel – média nacional – alcançou R$ 3,664 na última medição da ANP voltando a ficar perto dos R$ 3,82 que fizeram explodir a paralisação das estradas no ano passado.
Mas há dois outros fatores.
O número de novos caminhões emplacados – e por empresas, não por caminhoneiros autônomos, decolou: 46,7% a mais, a mauior parte pertencentes a empresas que pretendem eliminar os riscos de prejuízo como os que sofreram com o movimento.
Pela mesma razão, cresceu o transporte por navegação de cabotagem, que oferece menos riscos por sua estrutura empresarial.
O quadro é desesperador para profissionais que, em grande maioria, caíram no colo da demagogia bolsonarista.
Fizeram “arminha”, ganharam o direito de andar com uma pistola .40, só não ganharam o direito de sustentar suas famílias.
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