Brito: Militares vão acabar por bater continência a Olavo de Carvalho?

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POR FERNANDO BRITO · NO TIJOLAÇO - 20/05/2019

Fica difícil não ter a impressão de que as Forças Armadas brasileiras precisam ser defendidas de si mesmas.
Não me recordo de ter visto, ao longo de 60 anos, elas serem ofendidas e enxovalhadas da maneira que o olavismo e as falanges bolsonaristas o fizeram nos últimos meses.
Seus oficiais-generais chamados de “bostinhas”, traidores, e pior:  ver seu ex-comandante, vítima de uma doença degenerativa, ser achincalhado nas redes sociais.
A tudo isso, vergaram, como borracha, a sua coluna dorsal.
O Clube Militar,  até o ano passado casa presidida pelo general Hamilton Mourão – acusado de “traidor” por esta gente – , lançou um “convite” para que os seus afiliados e “convidados” compareçam às manifestações do olavismo no dia 26.
Para defender, que vergonha, “as reformas” que darão governabilidade a quem se porta como um moleque no exercício da presidência.
Que reformas, senhores? Os senhores apoiariam uma sobre os senhores como a que está sendo feita com a aposentadoria dos civis? A dos senhores lhes dá reajustes nos soldos para compensar, com folga, os acréscimos de contribuição e o tempo que acrescenta à sua atividades é a conta-gotas, não a avalanche que se faz aos civis. Em nome de sua aposentadoria digna, também, se conserva a integralidade de seus vencimentos, sem que haja o limite do INSS que para todos os outros vale.
Igual é dolorosa sua indiferença diante do sucateamento das Forças Armadas, nas quais paralisaram-se os investimentos, a modernização e, com isso, anularam a sua própria capacidade de cumprir seu dever. Não será aos gritos de “Selva!” que nossos soldados terão meios de defender nossa soberania, sem armamento, sem veículos, sem vetores bélicos… Pior, sem comandantes dispostos à luta…
É inevitável a impressão de que custa tão barato assim a honra das dragonas e dos dólmãs.
Quem é tão dócil assim com quem o esbofeteia, como pode conservar a dignidade ante sua tropa?
Sim, sua tropa, aquela que entregaram ao culto do “mito”, da violência, da estupidez de um “tenente-bombinha” a quem os senhores abriram as portas das casernas e das academias militares. Aquele que ameaçava colocar bombas nas latrinas de quartéis por aumento do soldo e a quem um general, como os que não se faz mais, Ernesto Geisel, disse um dia ser um “mau militar”.
O “Brasil acima de tudo” que os senhores copiam é o Brasil sem o povo que os senhores juraram proteger?
Não reclamem, amanhã, quando este sabujismo os arrastar à lama no conceito público, junto com o desquilibrado a quem emprestam não a obediência institucional que a ele devem como presidente, mas a própria honra e dignidade que a instuituição exige que conservem, mesmo quando deixam o serviço ativo.
Os senhores, velhos oficiais, ao menos honrem o pijama, se não dão à farda o respeito que até seus pijamas merecem.
Ou, se tudo se passar ao contrário do que se desenha, quem sabe não venham amanhã a bater continência ao “Marechal” Olavo, este mesmo que lhes planta a mão à cara pela internet.
Não sou eu quem os desqualifica, senhores. São os senhores…

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