Tuíra, a guerreira Kayapó que calou os poderosos em 1989 e, agora, de novo; veja vídeo. Por Marcelo Nassif


por Marcelo Nassif, especial para o Viomundo - 28/04/2019
Marcelo Nassif: Tuíra, a guerreira Kayapó que calou os poderosos em 1989 e, agora, de novo; veja vídeo
Museu da Imagem e reprodução de vídeo



Em 1989, ocorria uma audiência pública em Altamira (PA), para discutir a construção de um complexo hidrelétrico, no rio Xingu, que causaria grande impacto ambiental em reservas indígenas.
A audiência estava confusa e os kayapó mal conseguiam falar.
Foi quando a jovem indígena Tuíra aproximou-se da mesa e, num gesto rápido, encostou o facão no rosto de presidente da Eletronorte.
Ao mesmo tempo, em sua língua, Tuíra disse que usina de Kararaô, que depois seria chamada de Belo Monte, afogaria os filhos da terra.
A foto é histórica e repercutiu não só no Brasil, mas no mundo todo.
Além de atrasar o projeto da obra da usina por 10 anos, despertou na opinião pública o impacto ambiental que Belo Monte iria gerar.
Na mesma reunião, ela cobrou também da Funai explicações sobre as perseguições que estavam ocorrendo na região contra os povos indígenas.
Trinta anos depois, em Brasília, durante a 15ª edição do Acampamento Terra Livre, a guerreira Tuíra Kayapó ressurge valente, como sempre.
No Congresso Nacional, transcorria uma audiência e o deputado José Medeiros (PODE-MT) falava sobre a exploração de madeira e minérios em áreas indígenas.
Sentada, ao lado, estava Tuíra Kayapó.
Atenta, ela começou a cantar e se levantou em direção a mesa, recebeu um microfone e começou a falar na língua de seu povo.
O seu cantarolar parecia um misto de dor, revolta, protesto contra tudo que os povos indígenas enfrentam no Brasil desde que os primeiros portugueses chegaram ao litoral sul da Bahia, em 1.500.
Em poucas palavras, Tuíra foi direta, objetiva, desnudou os interesses do deputado José Medeiros, defensor ferrenho do governo Bolsonaro, dos seus colegas e de todos aqueles que querem usurpar as terras indígenas e dizimar seus povos.
Ela diz, na lata, para Medeiros que, eles indígenas, não roubam dinheiro de ninguém.
Quem rouba dinheiro são os deputados que ali estão.
Eles, indígenas, não extraem minérios, não tiram a madeira.
Eles querem a Funai, como era, eles querem a saúde como era…
Desta vez, Tuíra estava sem o seu facão.
Mas sua voz paralisou o deputado, assim como todos presentes àquela audiência no Congresso.
Um grito de lamento, dor, angústia, basta, como se fizesse duas perguntas.
Até quando vocês não nos desrespeitar?
Os milhões de parentes nossos mortos nestes 519 anos ainda não foram suficientes?

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