Globo diz que é imparcial, na mesma edição do JN que ignora entrevista de Lula. Por Joaquim de Carvalho

por Joaquim de Carvalho - no DCM - 26 de abril de 2019

José Roberto Marinho, vice-presidente da Globo

Ao ignorar em seu principal produto jornalístico a entrevista de Lula ao El País e à Folha, a Globo se mostrou como é: parcial e manipuladora.
Simbólico que a Globo tenha omitido a notícia do público do Jornal Nacional na mesma edição em que dedicou quase cinco minutos com uma reportagem auto laudatória sobre a homenagem que o Senado lhe prestou, pelos 54 anos de fundação.
Comparar o que disse o texto com a omissão de uma notícia importante dá o grau da farsa da homenagem e do discursos, inclusive o do próprio vice-presidente da Globo, José Roberto Marinho.
O texto lido pela repórter:
José Roberto Marinho, vice-presidente do grupo Globo, agradeceu a homenagem dos senadores e lembrou que a Rede Globo produz três mil horas de entretenimento e três horas de jornalismo por ano, e procura oferecer o melhor do esporte para o público brasileiro. E enfatizou que o compromisso da Globo é retratar a democracia, que definiu como um regime ruidoso, barulhento, com diferentes projetos em choque e formas de viver diferentes, sempre de maneira imparcial (sic).
O vice-presidente fala em seguida:
É preciso ter em mente que a TV Globo não quer fazer barulho, mas é obrigado a exibi-lo, colocá-lo à mostra, seja em seus telejornais, seja em sua teledramaturgia. E, claro, temos a consciência de que ora desagradamos alguns, ora outros, e vice-versa. Mas o vice-versa é a chave da questão, porque a TV Globo não apoia partidos, não apoia religiões, não defende formas de comportamento, não defende formas de agir, a TV Globo procura acompanhar, isso sim, as mudanças da sociedade. (…) O que a Globo defende de forma enfática, e sempre defenderá, é a democracia, a liberdade de expressão, a república, o império da lei e do voto, do qual os senhores e as senhoras são a expressão genuína, e isso é inabalável.
Seria motivo para risos, não fosse a farsa parte de uma tragédia.
Quando omite do público o que disse Lula — o político que dez meses atrás liderava as pesquisas de intenção de voto para presidente e foi decisivo na conquista de 47 milhões de votos pela oposição em outubro  —, a Globo desmente, na prática, o que disse seu vice-presidente.
Democrático não é.
Diante deste comportamento da emissora, entende-se por que na Globo não se vê entrevista com nenhum especialista que seja crítico à reforma da Previdência de Paulo Guedes.
A Globo não faz jornalismo, faz lobby.
Ela não exibe o barulho, como diz seu presidente. A Globo manipula o barulho.
Melhor: emissora manipula os fatos para atender a interesses empresariais de seus donos.
Se fizesse isso apenas no jornal, já seria grave. Mas jornal é fruto da iniciativa exclusivamente privado.
Mas, ao fazer lobby e praticar jornalismo escandalosamente parcial em uma concessão pública, se está diante de um abuso.
Não surpreende que a Globo esteja perdendo audiência.
Mas, mesmo decadente, haverá sempre um senador, como Randolfe Rodrigues, o autor da homenagem, a bajular seus donos.
Eles têm certeza de que o povo é bobo.
Mas talvez um dia descubram que não.


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