Cabral e o seu “sou, mas quem não é” da corrupção. Por Fernando Brito
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POR FERNANDO BRITO · 05/04/2019
A menos que se trate de um milagre de fazer inveja aos pastorezinhos de Fátima, a cachoeira de delações de Sérgio Cabral, embora certamente tenha inúmeras verdades, segue uma estratégia perversa: acusa todo mundo de ser corrupto, de estar na “caixinha” deste ou daquele setor – agora é a Fetranspor, dos ônibus – e usa como “prova” o fato de admitir que ele próprio recebeu dinheiro.
Faz como o personagem do Chico Anysio: “sou, mas quem não é?”
Não vou duvidar de corrupção de Sérgio Cabral, atér porque esta é evidente na riqueza que acumulou, mas é uma irresponsabilidade acusar sem provas ou sem ter, ao menos, participado dos “acertos” que deram origem às propinas, como ele faz.
Acusou Leonel Brizola de ter dado “aval” a pagamentos feitos a Pedro Valente, secretário de Tranportes em parte de seu segundo governo. Parte, porque o secretário, originalmente, era o deputado José Carlos Brandão Monteiro, o mesmo que, no primeiro governo do líder trabalhista, comandou a encampação que pôs fim à farra de empresas de ônibus que eram donas de lanchas, iates e até de aviões.
Pedro Valente morreu em 2016. Não pode, portanto, se defender e nem eu tive intimidade com ele para que possa fazê-lo.
Mas tive com Leonel Brizola e por isso posso dizer que Sérgio Cabral lave a boca antes de falar no seu nome como “avalista” de alguma propinagem.
Mesmo com a melhor das boas-vontades com a sua epifania de confissões, ele não fazia parte do governo Brizola, era seu figadal inimigo e tentou, já como presidente da Assembléia, rejeitar suas contas para torná-lo inelegível. Não era, portanto, homem que comesse na mesma gamela de Cabral. Este pode, no máximo, na sua promiscuidade com os empresários, ter ouvido de algum deles que “fulano levava, sicrano levou” o que é próprio desta gente que naturaliza a corrupção.
A trajetória de Brizola, enquanto pôde, foi o inverso de favorecimento aos empresários de ônibus. Além da encampação das empresas, fez tudo o que era possível, com a falta de recursos do governo estadual, para fortalecer a estatal Companhia de Transportes Coletivos, a CTC, que, embora reequipada, foi sucateada e liquidada por Moreira Franco, ao mesmo tempo em que se devolvim a as empresas encampadas aos antigos donos.
Basta ver o que aconteceu com as tarifas desde 1994, quando Brizola deixou o governo, levando em conta que os diversos modais de transporte, mesmo os não controlados pelo governo do estado, guardam grande equilíbrio tarifário, por razões óbvias.
O metrô – tarifa estadual – entre 1994 ( quando era de R$ 0,35) e 2016 subiu cerca de 1000%, contra uma inflação de 400%, segundo estudo de André Augustin, mestre em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ou sejam, mais que dobrou seu preço real. Na mesma toada, as tarifas municipais de ônibus, que guardam proporções com as estaduais, segundo publica o Nexo Jornal, mais que dobraram de valor real desde 1994, ano que Brizola deixou o governo.
A tática de Cabral, que se ajusta perfeitamente à desta defomação lavajateira é banalizar e universalizar a roubalheira.
Só que Brizola teve a vida vasculhada por décdas, com gente dotada dos mesmos poderes abusivo ou ainda maiores e nada se provou contra sua honradez.
Durante mais de 20 anos partilhei de seu convívio e nunca assisti uma cena que comprometesse a sua honra. Eu, porém, comprometeria a minha se não defendesse sua memória.
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