Racista e vigarista: testemunho de ex-advogado de Trump ao Congresso

Por esquerda.net - 28/02/2019

Ex-advogado de Trump testemunhou perante comissão parlamentar, chamando-o racista e vigarista. Mais comprometedoramente, reiterou indícios de práticas ilegais que podem alimentar as investigações ao presidente. Trump respondeu em estilo confrontacional a partir de uma cimeira com Kim Jong-un, que terminou hoje prematuramente.

Donald Trump. Foto de Gage Skidmore, Flickr.
Foto de Gage Skidmore, Flickr.
Durante 12 anos, Michael Cohen foi advogado de Donald Trump e ocupou cargos nas suas empresas e na sua campanha política. Em agosto de 2018, tudo terminou quando foi condenado a três anos de prisão por crimes económicos relacionados com a campanha presidencial de Trump. Agora, o antigo braço-direito virou-se contra o antigo chefe, prestando perante uma comissão parlamentar um testemunho comprometedor, dada a proximidade de anos que mantiveram.
Numa audiência parlamentar que durou mais sete horas, com uma componente de espetáculo mediático característica da política americana, Cohen apresentou o seu testemunho como o início do seu "caminho de redenção", pedindo desculpa por haver prestado falsas declarações em audiências passadas. Confessou-se envergonhado por ter "ocultado as ações ilícitas de Trump, em vez de ouvir a voz da minha consciência". E disparou de seguida: "Tenho vergonha porque sei o que o senhor Trump é. É um racista. É um vigarista. É um trapaceiro".
Mas mais danosas que estas declarações bombásticas poderão ser as revelações que Cohen fez sobre atos ilícitos. O ex-advogado afirmou que Trump teve conhecimento de uma reunião entre membros da sua campanha presidencial e um advogado russo com ligações ao Kremlin, alegadamente para passar informação comprometedora sobre Hillary Clinton. Essa reunião é uma peça central da investigação de Robert Muller sobre "conluio com os russos" na campanha de Trump, alvo de forte contenda política. A propósito do caso entre Trump e a atriz pornográfica Stormy Daniels, Cohen, que pagou à atriz centenas de milhares de dólares para esta não revelar a história, mas afirmava tê-lo feito por iniciativa própria, afirmou agora que veio a receber dinheiro da campanha de Trump como reembolso, o que constituiria violação das leis eleitorais.
Ausente em Hanói numa cimeira com o presidente norte-coreano Kim Jong-un, Trump respondeu no seu estilo confrontacional, falando em audiência falsa (fake hearing) e afirmando que o mentiroso é Cohen. Essa cimeira, apesar de declarações amistosas de Trump sobre Kim no dia de ontem, teve um fim antecipado na manhã de hoje, sem o estabalecimento de um acordo.
O tom entre democratas e republicanos na audiência foi de grande animosidade, alimentando especulações de que os democratas preparam um processo parlamentar de destituição de Trump. Com maioria democrata na câmara dos representantes, um eventual impeachmentpoderia ser aprovado na câmara baixa, mas seria necessário igualmente uma maioria de dois terços no Senado, hipótese remota dada a maioria republicana nesta câmara e a polarização entre os dois partidos que não pára de crescer.

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