Moon of Alabama: Para mídia, o plano do golpe de Trump na Venezuela já fracassou

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

14/2/2019, Moon of Alabama

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Dia 25 de janeiro, dois dias depois de Guaidó, o Penetra, se autodeclarar presidente da Venezuela, já eram óbvias as falhas nos planos para o golpe que os EUA tentavam aplicar na Venezuela:

Minha impressão é que Trump foi enganado. Já há tempos é visível que Trump não dá atenção a detalhes e não reflete com calma sobre coisa alguma. O mais provável é que Bolton, Pompeo e Rubio lhe tenham apresentado um plano de três passos:

Fase 1. Apoiar o autodeclarado presidente Guaidó;
Fase 2: ... (acreditar que tudo acontecerá facilmente) ...;
Fase 3: Roubar metade do petróleo deles! 

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Bolton e Pompeo são burocratas e políticos experientes. É possível que soubessem das graves falhas do próprio plano; e que requereria muito mais do que Trump dedicaria normalmente ao caso. Meu palpite é que a super distensão de missão militar que se aproxima já estava embutida no plano, mas o trio nada disse ao presidente.


Os golpistas norte-americanos e seus fantoches venezuelanos esperavam que os militares da Venezuela imediatamente saltariam para o lado dos EUA. Foi pensamento desejante e movimento muito improvável. Também planejaram algum esquema de “ajuda humanitária” no qual fotos de caminhões atravessando uma ponte há muito tempo bloqueada cobririam de vergonha o presidente Maduro e o fariam renunciar. Mais perfeito nonsense.


A menos que os EUA estejam dispostos e tenham meios para escalar, a tentativa de golpe está condenada a fracassar.



A mídia ‘ocidental’ já reconheceu que a fase 2 do golpe enfrenta problemas quase insuperáveis. Hoje, o GuardianBloomberg New York Times falam da frustração crescente ante a falta de qualquer sucesso.



Guardian observa:


Três semanas depois de Guaidó ter eletrificado o movimento até ali apático de oposição, ao se autoproclamar presidente interino, veem-se sinais de que a campanha pode estar perdendo gás.

Uma defecção prevista, em massa, de chefes militares – fator que os líderes da oposição admitem que seja pré-requisito para a saída de Maduro – não se confirmou; e o círculo mais próximo de Maduro já diz que o presidente conseguiu controlar a tempestade política.



Bloomberg escreve:


Desde que Juan Guaidó autoproclamou-se presidente interino, há três semanas, e ofereceu anistia aos oficiais que abandonassem Maduro, mais de 30 países liderados pelos EUA já elogiaram o movimento, sempre à espera de que os militares aderissem. Mas não se vê qualquer movimento nesse setor. 

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Num país com mais de 2 mil generais e almirantes, só um oficial – que nem tem tropas sob seu comando – declarou apoio a Guaidó.
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Essa é forte razão a sugerir que a revolução não está andando ao ritmo que alguns esperavam que ela andasse, quando Guaidó sacudiu o mundo, dia 23/1, com sua autoproclamação. Claro que tudo isso gera impaciência e começam as acusações. Políticos norte-americanos e os que cercam Guaidó – além de líderes no Brasil e Colômbia – começam a se entreolhar, preocupados com um possível fracasso. Nos dois campos, já há funcionários que confessam entre eles, privadamente, que presumiram que os norte-americanos teriam estratégia mais bem desenvolvida.




O objetivo da oposição era levar suprimentos para a Venezuela e forçar um confronto com Maduro, que recusou qualquer ajuda. Maduro pode ficar mal visto, disseram líderes da oposição, e dar destaque à capacidade de seus opositores para implantar um governo de socorro humanitário num país cuja economia em ruínas deixou muitos sem alimentos e doentes sem acesso a medicamentos.
Mas não se viu nem sinal de confrontação dramática.



A entrega da “ajuda” fracassou, segundo Bloomberg, por falta de planejamento e coordenação:



Cresceu a preocupação com o que virá na sequência. Em reunião na embaixada dos EUA em Bogotá, Colômbia, semana passada, líderes militares, de inteligência e civis dos dois países discutiram meios para fazer entrar a ajuda humanitária em território da Venezuela. Havia no ar forte sensação de frustração, segundo um dos participantes que comentou a discussão mas pediu para não ser identificado.


EUA disseram que estavam pagando pela ajuda, mas queriam que a Colômbia contribuísse com os caminhões e motoristas para levá-los até a Venezuela. Os colombianos responderam que ninguém aceitaria essa missão, porque com certeza seriam presos pelos militares venezuelanos. O material permanece depositado em armazéns próximos da fronteira.

Em reunião semelhante em Cucuta, cidade colombiana junto à fronteira, um dos participantes informou que a dinâmica foi idêntica – os EUA esperando que a Colômbia providenciasse os meios para entregar a ajuda, e os colombianos respondendo que não têm como fazer isso



Só agora a oposição começa a realmente a pensar em construir algum plano menos louco para entregar a “ajuda”:


Em Cúcuta, membros da oposição dizem que consideram opções para forçar fisicamente o embarque para a Venezuela.

Omar Lares, ex-prefeito de oposição no exílio em Cúcuta, disse que os organizadores querem que o povo cerque o caminhão que transporta a “ajuda” ainda no lado colombiano e o acompanhe até a ponte. Do outro lado se organizariam alguns milhares de manifestantes, para romper um cordão de isolamento, e arrastar os contêineres, bloqueando a ponte, e acompanhar a ajuda até a Venezuela.


“Um grupo lá, outro grupo aqui, e faremos uma grande corrente humana” – disse Lares.


Enquanto isso, o que pensam que farão os soldados venezuelanos entre os dois grupos? Abrirão alas e deixarão passar um grupo de golpistas invasores do seu país?


A luta produziria alguma imagens para televisões pró-golpe, mas nada conseguiria. A falta de planejamento já assusta até lobbyistas em Washington DC:



A oposição criou imensas expectativas, e não se sabe se há qualquer plano para alcançá-las” – disse David Smilde, analista venezuelano no Gabinete de Washington para a América Latina.



Os golpistas norte-americanos e seus agentes locais venezuelanos para já reconhecer que tão cedo não haverá qualquer mudança:


Falando em audiência no Congresso, o enviado especial dos EUA à Venezuela, Elliott Abrams, declarou que “Maduro e seu bando de ladrões” estariam acabados. Disse que a pressão internacional significa que “há uma tempestade em formação dentro do regime Maduro, que mais dia menos dia o levará ao fim”.

Mas, por mais que Abrams repetisse que Washington mantinha-se “esperançosa e confiante” de que Maduro cairá, teve de admitir que “é impossível prever” quando acontecerá. Os EUA podem manter a pressão “por semanas e meses” – acrescentou, sugerindo assim que já ninguém espera solução rápida.

Líderes da oposição passaram vários dias recentemente tentando reduzir as expectativas de que a queda de Maduro seja iminente.

Juan Andrés Mejía, oposicionista e aliado de Guaidó admitiu que o resultado “pode exigir mais tempo”.



O já fraco apoio espontâneo que Guaidó, o Penetra, obteve de alguns setores da população também já começa a decair. A manifestação convocada para ontem teve ainda menos participantes que a do dia 23 de janeiro. Agora Guaidó diz que forçará a passagem da “ajuda” dia 23 de fevereiro, mas não dá sinais de ter qualquer plano real para fazer acontecer (...).


Se os EUA não fizerem mais do que fizeram até aqui, o governo do presidente Maduro terá superado mais essa tentativa de golpe. As sanções e o fim da renda do petróleo criarão muitos problemas imediatos, mas em poucas semanas o petróleo venezuelano terá encontrado novos compradores. Haverá dinheiro novo em circulação e novas fontes acabarão por aparecer para oferta de remédios e de alimentos.

Com o passar do tempo, Guaidó, o Penetra, perderá apoio. O partido do qual é líder nominal obteve 20% dos votos. Os demais partidos da oposição sequer foram informados de que ele planejava autodeclarar-se presidente. O apoio que deram ao movimento de Guaidó foi morno e agora acabará de esfriar. No fim, é possível até que apoiem as conversações de mediação que Maduro propôs, e que ONU, Uruguai e México também apoiam. Essas conversações podem levar a novas eleições parlamentares e ou presidenciais em um ou dois anos, e a situação estará superada.

Os EUA não aceitarão situação de conciliação. Trump já se comprometeu com ‘mudança de regime’ na Venezuela. Mas... fazer o quê?

Fazer guerra aberta contra a Venezuela será caro, complicado e impossível de justificar. Iniciar e apoiar uma guerra de guerrilhas – especialidade de Elliott Abrams – exige tempo e também custa muito dinheiro. As chances de vitória são baixas. Trump afinal quer a reeleição, mas perderá votos em qualquer cenário de guerra. O que mais pode fazer?*******

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