Sob ameaça, Jean Wyllys abre mão de mandato e diz que vai viver fora do país

O PRIMEIRO EXILADO

"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirma o deputado que representava a causa LGBTI+ na Câmara

por Redação RBA - publicado 24/01/2019

GABRIELA KOROSSY/CÂMARA DOS DEPUTADOS
deputado-jean-wyllys1.jpg
"Eu acho que vou até dizer que vou para Cuba", ironiza o deputado quando indagado sobre seu futuro
São Paulo – Eleito em 2018 para o seu terceiro mandato legislativo, o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) anunciou hoje (24) que decidiu abrir mão da vida pública e se exilar por conta das ameaças de morte que se intensificaram com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência. Fora do país, em férias, Wyllys deve agora se dedicar à carreira acadêmica e fazer doutorado em algum lugar que ele ainda não definiu.
O anúncio do autoexílio foi feito por meio de entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Desde o assassinato de sua companheira de partido, a vereadora Marielle Franco, em março do ano passado, Wyllys vive sob escolta policial. Na entrevista, ele diz que as ligações da família Bolsonaro com as milícias, que somente esta semana vieram à tona, também pesaram em sua decisão.
"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirma. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", defendeu.

"Eu acho que vou até dizer que vou para Cuba", ironiza o deputado quando indagado sobre seu futuro. Ele diz que até mesmo o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), foi motivo para que as manifestações de violência contra ele se acirrassem.  “Aí, durante a eleição aconteceu o atentado contra o presidente, esse atentado que está por ser explicado ainda, e isso atiçou ainda mais a violência contra mim nos espaços públicos.”
“A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança”, lembrou ainda Wyllys, que teve como uma de suas principais conquistas, como deputado, o casamento civil igualitário. “Tenho muito orgulho do que fiz. Durante esses oito anos, enfrentei tudo isso com muita dignidade. Mas sou humano e cheguei ao meu limite”, afirmou, referindo-se aos dois mandatos cumpridos.

Comentários