Tijolaço: Democracia do Twitter?

POR  · 10/12/2018


.
O presidente eleito – e agora diplomado – Jair Bolsonaro disse, solenemente, que “o poder popular não precisa mais de intermediação”.
Na visão de Bolsonaro, certamente, as redes sociais permitem que – quem sabe com “likes” e “dislikes” – o povo manifeste a sua vontade. Os polegares para cima ou para baixo, como no Coliseu, teria o poder de vida e de morte.
Pelo Twitter ou pelo Facebook, quem sabe, as pessoas (e, claro, os robôs de quem os contrata para influir nas redes) diriam sim ou não às propostas escolhidas pelo “chefe”.
Francamente, o “vai para o trono ou não vai” e o “vocês querem bacalhau” dos programas de auditório do velho Chacrinha eram mais democráticos.

Nenhuma democracia, é claro, funciona ou pode funcionar assim, a menos que se queira chamar com este nome ditaduras personalistas ou manipulação da opinião pública.
Mesmo os mecanismos de plebiscito e referendo, formas de exercício direto da vontade popular, não funcionam assim: tem regras que os subordinam à representação popular original (o parlamento eleito) para que possam ser convocados.
A não ser que Bolsonaro esteja pensando como Antônio de Oliveira Salazar, que fez realizar, em 1933, um plebiscito que lhe concedia poderes absolutos e, assim, fez-se ditador de Portugal por 40 anos.
Mas não hão de faltar sabujos e idiotas que apregoem a virtude “do uso de novas tecnologias” para este “nova democracia”. O próprio ex-capitão o disse, ao ser diplomado:
“Bolsonaro exaltou o papel da internet na corrida presidencial afirmando que “as novas tecnologias permitiram uma nova relação entre eleitor e seu representante”.
Que a relação é nova, é óbvio. Que é representativa, é outra questão.
Aliás, a representação coletiva, por associações e partidos, na visão bolsonarista, é coisa de “comunistas”.
Ficou claro durante a campanha e está mais do que referendado pelo fato de que é ainda, unilateral a forma de contato público de Bolsonaro com o público.
Ele é “a vontade da nação”.
Entrevistas, quando existem, são de pé, rápidas, sem direito a que nada se aprofunde e que tudo permaneça ao nível do supérfluo, tá ok?
O “pequeno problema” de Bolsonaro é que esta não é a realidade.
O sr. ex-capitão acaba de dizer ao Congresso, do qual dependerá, que ele é dispensável.
Há 50 anos, na edição do AI-5, de fato ele foi.
Mais recentemente, porém, o dispensável foi o presidente da República.

Comentários