Plano de Bannon para "unificar a direita" europeia soa como interferência ilegal nas eleições, diz The Guardian


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GGN - 21/11/2018

 Steve Bannon, o empresário que ajudou a eleger Donald Trump e deu conselhos sobre campanha em mídias digitais aos filhos de Jair Bolsonaro, pretende eleger mais políticos de extrema direita na Europa e unificar lideranças e partidos no que ele tem chamado de "Movimento". É o que mostra o documentário produzido pela equipe de reportagem do jornal The Guardian, divulgado nesta quarta (21) no Youtube.
O Guardian afirma que "populistas de direita estão em ascensão em toda a Europa" e com a proximidade das eleições parlamentares européias, as articulações de Bannon em alguns dos países se intensificaram nos últimos meses, exatamente após ele deixar a Casa Branca e abandonar o site Breitbart News.
O problema é que, na maioria dos Países em que Bannon pretende entrar, existem leis que proibem qualquer tipo de intervenção (seja doação em dinheiro, serviço prestado ou cooperação técnica) de estrangeiros em favor de candidatos nas eleições. The Guardian diz que as ações de Bannon "desafiam" a legalidade. 
Bannon disse que não feriu a lei nos Estados Unidos quando ajudou na eleição de Trump e respeitaria, da mesma maneira, a legislação eleitoral de países europeus.
Hoje, o empresário é alvo de reportagens polêmicas que indicam que houve uso irregular de dados do Facebook, captados por sua empresa, a Cambridge Analytica, para promover Trump nas redes sociais. Além disso, Bannon tinha participação no site especializado em espalhar fake news contra os adversários políticos do hoje presidente dos EUA.
SOBRE O "MOVIMENTO"
O Movimento foi definido pelo Guardian no documentário como a operação de uma "máquina de campanha para impulsionar a extrema direita na Europa". A ideia de Bannon é "muito simples": "unificar os movimentos patrióticos de direita na Europa".
O diretor administrativo do Movimento é o político belga Mischael Modrikamen. Ele disse à reportagem que o Movimento fará oposição em nível internacional às "forças globalistas".
"Eu acredito que esta será a linha divisória da política ocidental pelos próximos, 10, 20, 30 anos. De um lado, a abordagem globalista no estilo Macron, Merkel, Obama, e da ONU. Do outro lado, os soberanos, Salvini, Orban, Trump e basicamente o nosso Movimento."
Uma agenda em comum entre os líderes de extrema direita que aparecem no documentário como objetos de desejo de Bannon é a de frear a imigração islâmica para a Europa.
Mas há políticos falando em preservar a "identidade europeia" e valorizar os "valores cristãos, brancos e ocidentais". Quando a reportagem faz questões sobre neofacismo, neonazismo, racismo, perseguição de ordem religiosa, estes políticos demonstram desconforto, contrariedade ou abandonam a entrevista.
Guardian dá a entender que, atualmente, Salvini, líder da Liga de extrema-direita da Itália, é o principal ativo do Movimento de Bannon.
Salvini chegou ao poder com uma aliança de direita com a líder do partido Irmãos da Itália, Giorgia Meloni. Bannon foi gravado dizendo que o Irmãos da Itália "costumava ser um partido fascista e agora é neo (fascista)". Na frente de Meloni, Bannon negou que tenha associado o partido ao neofascismo.
Bannon estaria oferecendo aos partidos de direita e extrema direita ajuda com "pesquisas, análises de dados, mídias sociais, criação de "salas de guerra" para campanha eleitorais, mas isso, segundo o Guardian, "é ilegal na maioria dos países da Europa" sondados pelo empresário. De 9 países onde há ativos de interesse de Bannon, sete têm leis restritivas sobre a participação de estrangeiros na eleição e há discussão nesse sentido na Itália, onde o Movimento tem tido mais visibilidade com Salvini e Meloni.
O jornal também coloca em dúvida as intenções de Bannon, um americano, em interferir nas eleições europeis. Como isso pode ser diferente da Rússia ou da China interferindo nos Estados Unidos?
Bannon respondeu: "Eu estou fazendo isso como um populista, não como alguém associado à Casa Branca." Foi lembrado, na sequência, de que até pouco tempo atrás ele tinha um cargo junto a Trump.
POPULISMO ESTRATÉGICO
Na abertura do documentário, o editor associado do The Guardian Paul Lewis diz a Bannon que entende seu discurso como típico de um populista e avalia que o empresário adotou essa postura por "estratégia". "Você é eficaz em usar esse tipo discurso porque você entende que ele tem um poder."
"E qual o poder nisso?", responde Bannon.
"Eu acho que o poder disso vem do fato de que chegamos a um ponto na história em que a frustração das pessoas nas elites são justificadas."
Ao final, Lewis confronta Bannon. O repórter questiona se o empresário está tentando surfar no crescimento de uma "maré, não um tsunami, de direita que existe na Europa", passando a impressão de que essa onda foi criada com sua ajuda - como no caso de Trump. 
A reportagem destaca que Bannon tem tido dificuldade para costurar alianças na Europa e, em paralelo, intensificou suas aparições na imprensa e em agendas públicas, passando a impressão de que está buscando holofotes.
Recentemente, ele deu uma entrevista para a BBC, admitindo que deu conselhos à campanha de Bolsonaro. Questionado se iria convidar o presidente eleito no Brasil para fazer parte do Movimento, Bannon respondeu que Bolsonaro estará muito ocupado, nos próximos anos, governando. Mas que ofereceria ajuda quando necessário.
Leia reportagem no The Guardian.

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