TRE proíbe bispo da Arquidiocese de Olinda e Recife de falar sobre política

Notificado pelo Tribunal Regional Eleitoral nesta quinta-feira, Dom Limacêdo lamenta: "nunca havia vivido isso"


Dom Limacêdo (centro) foi nomeado pelo Papa Francisco no primeiro semestre deste ano - Créditos: Reprodução
Dom Limacêdo (centro) foi nomeado pelo Papa Francisco no primeiro semestre deste ano / Reprodução
Nesta quinta-feira (25) o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) notificou o bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, Limacêdo Antônio da Silva, acusando-o por propaganda eleitoral irregular. A acuação é de que Dom Limacêdo teria usado o momento da missa para fazer apologia a alguma candidatura e criticar o outro candidato. O religioso se defende: "pregar a palavra não é só falar o que está na Bíblia, mas traduzir para os tempos de hoje".
Três juizes eleitorais assinam a notificação: Heraldo José dos Santos, André Vicente Pires Rosa e Flávio Augusto Fontes de Lima. Eles teriam recebido as denúncias através do sistema de denúncias Pardal, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O bispo diz já ter notado alguma tensão nos olhares quando ele toca em temas de política durante as missas. "Um ou outro chegava para conversar, discordar. Mas dessa maneira, pela Justiça, nunca", disse. Limacêdo, no entanto, já havia sido avisado que fora filmado.

O religioso alega que sempre disse para cada um votar de acordo com suas consciências, mas nunca se furtou a falar das questões da vida, do dia a dia, que são afetadas também pelo cenário político. "Eu sou consciente do meu papel enquanto cidadão e bispo da Igreja Católica", afirma. Ele, que tem 58 anos, dos quais 32 como padre, lamenta o clima cada vez mais acirrado entre as pessoas, inclusive dentro das igrejas. "São tempos difíceis. Isso nunca havia acontecido comigo", afirma.
Ele também lamenta a postura de alguns fieis e até líderes religiosos, que usam a Bíblia para justificar certas posições, mas não seguem os ensinamentos. "Vejo muitas pessoas se dizerem contra o aborto, justificando que são a favor da vida. Mas essas mesmas pessoas defendem a pena de morte, não defendem o direito das pessoas viverem com salário digno, não defendem políticas públicas, atacam os que têm opiniões diferentes. Ser a favor da vida assim é hipocrisia", denuncia. "Jesus quando fala do amor de Deus, é em relação a todas as pessoas. Quem ama Deus e não ama os irmãos, não ama aqueles que não participam do banquete, então esse amor é muito limitado", alerta.
Jair Bolsonaro

O líder religioso lamenta que tantos brasileiros estejam apoiando um candidato que ele classifica como racista, homofóbico e desrespeitoso com a dignidade humana. "Claramente contra as mulheres, contra homossexuais, contra os negros. Como as pessoas podem votar contra si mesmas?! É um momento da não-razão. As pessoas estão com muitas emoções, quase uma irracionalidade. É um momento de crise", opinou.
Ele vê o crescimento de Bolsonaro como resultado de um misto de ausência de lideranças e vingança. "Para alguns Bolsonaro é o cavaleiro da esperança. Um defensor da ditadura", lamentou. "Mas acho que isso é alimentado por falta de lideranças e, para muitos, uma espécie de vingança contra o governo que ajudou muito as camadas mais populares", avalia.
Outro motivo do fenômeno Bolsonaro seria uma vontade legítima da população de resolver rapidamente problemas que são complexos. "Muitos estão de verdade querendo acabar com a corrupção, mas ainda lhes faltam muitos elementos. Eles acham que podem acabar essas coisas de maneira imediata. Mas a corrupção e o pecado tiveram início lá atrás, com Adão e Eva, não foi no governo do PT", brinca.
Dom Limacêdo alimenta esperança na recuperação e pacificação desses fieis. "Eu acredito nas pessoas, porque Deus acreditou. Acredito na capaidade do homem e da mulher de acreditar, ter esperança", pontua.
Edição: Monyse Ravena

Comentários