Guardian publica manifesto contra Bolsonaro assinado por intelectuais brasileiros e estrangeiros

POR NOCAUTE - 25 DE OUTUBRO DE 2018

Guardian Bolsonaro
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Bolsonaro ameaça o mundo, não apenas a jovem democracia do Brasil

Mulheres e ativistas LGBT, defensores dos direitos humanos, ambientalistas e povos indígenas estão em risco com o candidato da extrema-direita
O Brasil atravessa a pior crise de sua história desde o golpe civil-militar e o estabelecimento da ditadura em 1964. Em 7 de outubro, no primeiro turno das eleições presidenciais, o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro obteve impressionantes 46,03% dos votos, ou um terço dos eleitores registrados.
Este resultado desencadeou uma primeira onda de violência de ódio: mais de 70 ataques foram registrados contra pessoas LGBT, contra mulheres, contra qualquer oponente de extrema direita ou contra jornalistas.

Na noite do primeiro turno, o mestre de capoeira Moa do Katendê, ativista anti-racista e educador, foi esfaqueado até a morte por um partidário de Bolsonaro.
Katendê declarara que havia votado no candidato de esquerda Fernando Haddad. No sul do país, uma mulher de 22 anos foi atacada na rua. Tememos que isso seja apenas uma antecipação de uma onda mais mortal de violência.
Este ódio e violência está sendo claramente instigado por Bolsonaro e seus representantes eleitos. Ao repetir seus discursos e provocações misóginos, racistas, homofóbicos e transfóbicos, exibindo suas armas de fogo, glorificando a ditadura militar, espalhando informações falsas, implicitamente exigem a brutalização, até mesmo o assassinato, de todos aqueles que não se parecem com eles: mulheres e ativistas LGBT, defensores dos direitos humanos e povos indígenas, ativistas progressistas ou jornalistas.
Se Bolsonaro for eleito chefe do Estado brasileiro, esse ódio corre o risco de se institucionalizar e desencadear essa violência física. O Brasil já é, infelizmente, um dos países mais violentos do mundo: 61.619 homicídios foram cometidos em 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, representando cerca de 170 pessoas mortas por dia, incluindo um jovem negro a cada 23 minutos. Os defensores dos direitos humanos e ambientalistas já estavam particularmente ameaçados e cada vez mais visados.
Além disso, as instituições democráticas brasileiras também foram perigosamente enfraquecidas pelos escândalos político-financeiros que afetam todos os partidos políticos e pela polêmica destituição da presidenta Dilma Rousseff em 2016. Receamos que essas instituições não possam impor o Estado de Direito democrático no caso de vitória de Bolsonaro.
Com a aproximação do segundo turno, em 28 de outubro, o candidato de extrema direita conta com o apoio dos setores mais conservadores e reacionários da sociedade brasileira: o lobby pró-armas, representantes de grandes latifundiários, muitos industriais, poderosas igrejas evangélicas, parte do exército e forças policiais. Eles assumirão a responsabilidade pelo que acontecerá no Brasil.
A comunidade internacional, e em particular a França e a União Europeia, deve agir e apoiar os democratas brasileiros, independentemente do resultado da eleição presidencial. Isto é particularmente importante porque as ideias de Bolsonaro representam uma ameaça mortal à liberdade, aos direitos fundamentais, à obtenção de qualquer equilíbrio da Terra às mudanças climáticas e à jovem democracia do Brasil.
Este texto foi elaborado pela Associação Autres Brésil, com sede em Paris, e assinada por:
Celso Amorim, diplomata, brasileiro; Frei Betto, autor, brasileiro; José Bové, membro do parlamento europeu (Grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia), francês; Chico Buarque, músico, brasileiro; Noam Chomsky, lingüista, americano; Ada Colau, prefeita de Barcelona; Karima Delli, membro do parlamento europeu (Grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia), francês; Benoît Hamon, político, francês; Naomi Klein, jornalista canadense; Noel Mamère, político, francês; Joana Mortágua, MP (Bloco Esquerdo), portuguesa; Bill McKibben, autor, educador, ecologista e co-fundador da 350.org; Bresser Pereira, economista, brasileiro; Carol Proner, advogada, brasileira; Paulo Sérgio Pinheiro, diplomata, brasileiro; Chico Whitaker, co-fundador do Fórum Social Mundial Brasileiro.
*O texto foi publicado originalmente no The Guardian.

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