Agências de checagem pedem ao TSE atendimento prioritário no dia da eleição

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Sete agências de checagem que se reuniram com o núcleo de combate às fakes news do Tribunal Superior Eleitoral, na segunda (22), apresentaram quatro pedidos para combater a disseminação de notícias falsas na véspera e no dia do segundo turno das eleições de 2018, nos dias 27 e 28 de outubro.
Uma das ideias é que o TSE participe de um grupo de WhatsApp, criado exclusivamente para jornalistas dessas agências de checagem, oferecendo atendimento prioritário e colocando à disposição delas alguns especialistas em urna eletrônica, legislação eleitoral e outros temas pertinentes.
As chamadas empresas de fact-checking querem também um canal direto com os Tribunais Regionais Eleitorais. Do WhatsApp, Facebook e Twitter, esperam que o TSE exiga uma campanha de "alfabetização digital", ensinando aos internautas como identificar os sinais fakes news.
A quarta medida é um apelo para que a Justiça Eleitoral saia publicamente em defesa dos jornalistas que recebem ameaças de grupos ligados ao candidato Jair Bolsonaro.
Em documento que registra o encontro, as agências expõem dados o alcance das fake news na eleição. A maioria das notícias citadas são contra a candidatura de Fernando Haddad (PT). Quando a notícia falsa de grande repercussão atinge Bolsonaro, é positivo para o capitão da reserva.
Leia, abaixo, o documento divulgado pela Agência Lupa a respeito das propostas e dados apresentados ao TSE.
Fake News impactam a eleição e têm que ser combatidas
O grupo de checadores composto por Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.org, Comprova, e-Farsas, Estadão Verifica e Truco/Agência Pública foi convidado e participou nesta segunda-feira (22) de um encontro com o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além de trazer uma série de propostas que poderiam ser encampadas pelo órgão nos próximos dias, apresentou dados sobre o tamanho e o impacto das notícias falsas na campanha eleitoral de 2018.
A partir deles, o grupo pede que o TSE envide os maiores esforços para reconhecer a existência do problema e para enfrentá-lo de forma aberta e democrática.
Propostas: 
Relação com o TSE no dia 28: O grupo de checadores composto por Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.org, Comprova, e-Farsas, Estadão Verifica e Truco/Agência Pública solicita ao TSE que mantenha, nos dias 27 e 28 de outubro, um canal de comunicação centralizado e eficiente com seus checadores. Existe um grupo de WhatsApp formado, e o tribunal poderia
colocar um ou dois especialistas para atuar nele. Nesse canal, seriam feitas perguntas objetivas de checagem e entregues respostas igualmente objetivas.
O grupo também solicita que o TSE tenha à disposição desse grupo, nos dois dias, um especialista em direito eleitoral e outro em urnas eletrônicas para esclarecimento de eventuais dúvidas. As plataformas ficam livres para fazer consultas individuais e para produzir conteúdos da forma que considerarem adequado - bem como para aplicar a eles suas etiquetas de
classificação. O grupo considera que este será o principal canal de comunicação com o TSE e que o órgão deve tratá-lo como o principal espaço para combate a notícias falsas no fim de semana do segundo turno das eleições 2018.
Relação com os TREs no dia 28: O grupo de checadores composto por Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.org, Comprova, e-Farsas, Estadão Verifica e Truco/Agência Pública pede ao TSE que solicite aos TREs que tenham um assessor de imprensa capaz de atendê-los com presteza e objetividade no dia 28 de outubro. Também considera importante a formalização de um banco de dados com o registro oficial de todas as denúncias efetivamente feitas por eleitores sobre o mau funcionamento de urnas e problemas eleitorais em geral (de forma a permitir o cruzamento entre as denúncias virtuais e as efetivamente registradas).
News literacy: O grupo de checadores composto por Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.org, Comprova, e-Farsas, Estadão Verifica e Truco/Agência Pública pede ao TSE que mobilize Facebook, Twitter, Google, Youtube e, em especial, o WhatsApp a realizarem campanhas de alfabetização digital até o próximo domingo, preferencialmente dentro das próprias plataformas e dirigidas a seus usuários. Tópicos relevantes incluem como checar notícias, os riscos intrínsecos de compartilhar conteúdos duvidosos e links apontando para quem faz o trabalho de fact-checking.
Defesa de jornalistas: O grupo solicita que, em seus pronunciamentos, o TSE faça uma defesa da imprensa e dos jornalistas que estão trabalhando no processo eleitoral: checadores, repórteres, jornalistas investigativos, fotógrafos, câmeras etc. O posicionamento do TSE contra ataques, assédios e ameaças seria de grande valor. Segundo levantamento da Abraji - Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos - houve mais de 130 casos de violência contra profissionais da imprensa que cobriam as eleições deste ano.
Contexto
A seguir, o grupo enumera os resultados de levantamentos feitos recentemente sobre o impacto de notícias falsas ao longo do primeiro turno, nos dias 6 e 7 de outubro de 2018, e também nas últimas semanas da campanha eleitoral. Os dados abrangem a quantidade de compartilhamentos de peças de desinformação publicadas no Facebook no período oficial de
campanha. Essa métrica evidencia a quantidade de pessoas que efetivamente se engajaram em compartilhar notícias classificadas como falsas na rede social; mas vale destacar que a quantidade de pessoas que apenas visualizaram ou reagiram com curtidas a esses boatos é bem superior. Assim buscamos comprovar o tamanho da desinformação online no Brasil - sobretudo no campo político-eleitoral.
Vale lembrar que os dados de compartilhamento e alcance no WhatsApp são impossíveis de mensurar. Segundo contabilidade do Aos Fatos, 70% de suas checagens feitas em parceria com o Facebook também foram sugeridas por seus canais de WhatsApp, demonstrando que os boatos também circulam de maneira ampla no aplicativo. Dos cerca de 250 boatos desmentidos pelo Boatos.org no período eleitoral, 95% circularam via WhatsApp e foram sugeridos por
leitores. O Comprova recebeu mensagens de mais de 60 mil diferentes números de telefone desde 6 de agosto através do Whatsapp.
Notícias falsas no 1º turno: 
Levantamento feito pela Agência Lupa mostrou que as 10 notícias falsas mais populares flagradas entre agosto e outubro tiveram juntas mais de 865 mil compartilhamentos no Facebook. O volume é duas vezes superior ao número de compartilhamentos registrado pelo polêmico post que a página Ceticismo Político fez no Facebook após a morte da vereadora
Marielle Franco no Rio de Janeiro. 
Em primeiro lugar, com 238 mil shares e ainda circulando na rede social, está uma gravação feita em Campinas (SP) durante a partida do Brasil contra a Sérvia pela Copa do Mundo 2018.
O post traz a seguinte frase: “Ato em Campinas em prol da saúde do presidente Jair Messias Bolsonaro”. Mas não é verdade. A multidão torcia pela seleção. Em segundo lugar, com 219,8 mil compartilhamentos, ficou uma foto adulterada que tomava o layout do portal G1 para espalhar, de forma maliciosa, a seguinte notícia falsa: “Jean Wyllys confirma convite de Haddad para ser ministro da educação em eventual governo do petista”. Tanto o deputado federal quanto Fernando Haddad, nome do PT para o Palácio do Planalto, negaram esse convite.
Um vídeo enganoso sobre suposta fraude nas eleições de 2014, desmentido pelo Comprova, foi visto mais de 2 milhões de vezes nas redes sociais às vésperas das eleições. Esse vídeo insinuava que haveria uma fraude em gestação na eleição presidencial de 2018, com o provável objetivo de deslegitimar o resultado caso não fosse o esperado pelos promotores do boato. 
Notícias falsas nos dias 6 e 7 de outubro:
No fim de semana do primeiro turno das eleições, Aos Fatos desmentiu 12 boatos que, somados, acumularam mais de 1,17 milhão de compartilhamentos no Facebook. Os boatos que tiveram maior tração na rede foram aqueles relacionados a fraudes nas urnas eletrônicas, com ao menos 844,3 mil compartilhamentos.
O que mais reverberou pretendia denunciar que uma urna eletrônica completava automaticamente o voto no candidato do PT, Fernando Haddad. Catalisada por um tweet do senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do candidato à Presidência Jair Bolsonaro, a peça de desinformação foi compartilhada ao menos 732,1 mil vezes no Facebook desde a manhã de
domingo (7). A segunda peça com maior engajamento foi a que dizia que a PF apreendera uma van com 152 urnas eletrônicas. "Dessas, 121 estavam preenchidas com votos para o Haddad", afirmava o hoax. Quando foram checadas, as reproduções da mensagem já alcançavam 41,8 mil compartilhamentos apenas no Facebook. Na sexta-feira (12), mesmo após a verificação, o número de compartilhamentos passava dos 60 mil.
Notícias falsas no 2º turno:
Aos Fatos também monitora desde o início do segundo turno a distribuição de peças de desinformação no Facebook e já produziu 14 reportagens que acumulam 1,12 milhão de compartilhamentos. A maioria das peças foi recebida como sugestão de checagem também pelo canal de WhatsApp do site, mas a medição de alcance delas no aplicativo é impossível.
No Facebook, a peça falsa de maior alcance foi a que afirmava que Haddad criou o chamado "kit gay", com mais de 400 mil compartilhamentos. Apesar de o TSE ter decidido pela proibição do uso desse termo em peças de propaganda eleitoral, em 16 de outubro, novos links e imagens que atribuíam ao candidato a paternidade do projeto acumularam mais de 100 mil
compartilhamentos apenas na última semana.
O boato que atribuía a Haddad a autoria de um livro em que defendia a prática de incesto teve ao menos 170 mil compartilhamentos desde que o filósofo Olavo de Carvalho publicou no Facebook, na segunda semana de outubro, sua interpretação do livro “Em Defesa do Socialismo”, de autoria do candidato. Ao analisar o pedido de retirada do conteúdo das redes pela campanha encabeçada por Haddad, o ministro do TSE Luis Felipe Salomão considerou que a liberdade de expressão também abrange a defesa de manifestações e opiniões "minoritárias, contrárias às crenças estabelecidas, discordantes, críticas e incômodas". A peça de desinformação foi classificada como falsa por Aos Fatos.
Certos de que o TSE abriu hoje uma boa oportunidade para estimular o bom debate e para combater algo que coloca em risco o voto e a decisão democrática do eleitor, agradecemos a oportunidade da conversa.
Brasília 22 de outubro de 2018
Atenciosamente,
Aos Fatos 
Agência Lupa
Boatos.org 
Comprova 
e-Farsas
Estadão Verifica 
Truco/Agência Pública 

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