Queremos ser um país de loucos? Por Fernando Brito

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POR  · 07/09/2018

É terrível a sensação de vivermos num país onde a quebra da institucionalidade nos transforma a todos em desconfiados ou, pior, pronto a ficarmos convictos de loucuras.
Desde ontem muitos estão sendo conduzidos para este último caminho e os que não seguem por ele ficam, com toda a razão, no poço da dúvida em que a desconfiança nos atira.
Décadas de profissão ajudam a trabalhar com “sua majestade, o fato” – embora alguns, de boa ou de má-fé, prefiram ficar no império da suposição e do boato.
E os fatos são a base para entendermos o que deles está e vai  se desdobrar em subjetividades.

A agressão a faca, a gravidade dos ferimentos e o risco que trouxeram são acontecimentos reais, até pela impossibilidade de que qualquer fraude sobrevivesse à observação de tantos profissionais quanto os que i atenderam.
Especular com isso não é apenas desumano, é tolice.
O segundo fato é o de que há um agressor identificado e confesso, que denota desequilíbrio mental por tudo o que se sabe agora.
Ligações políticas, conspirações, planos, tudo isso, a menos que surjam evidências incontestáveis, delírios bem semelhantes aos que tem o esfaqueador com ações da “maçonaria” ou “iluminatti”.
Qualquer coisa além do que se sabe depende de esclarecimentos críveis e cabais, embora a mídia tenha pego da maneira mais despudorada a oportunidade de fazer eleitoralismo.
Nem é preciso dizer que o tom de agressividade e fanatismo que se impôs à política é a raiz perversa destas situações intoleráveis, cujos precedentes – e vários deles vindos do próprio Bolsonaro (“matar 30 mil”, “fuzilar”, desejar que Dilma morresse de câncer, etc) – estão sendo acumulados nos últimos anos, mesmo nas versões mais sofisticadas que se faz no Judiciário sobre “soluções finais” para as mazelas humanas e sociais.
Não cabe, nem por isso, transformar o fato em aceitável. Ou em incitações criminosas, como fez ontem o General Mourão, colocando-se em companhia de detraquês como Silas Malafaia, sempre sonhando com sua lucrativa “guerra santa”.
A questão agora é em que isso vai se desdobrar na decisão sobre os rumos do país que está, hoje, a exato um mês de ser tomada, em 7 de outubro.
Parece evidente que será virtualmente cristalizado seu potencial de votos e – como no comentário sórdido de seu filho, em pleno hospital –  e sua presença num segundo turno eleitoral.
Vai daí que os que competiam com ele pelo voto da direita, do fanatismo antilulista que a mídia e a toga, são os maiores prejudicados e sofram, politicamente, lesões ainda mais sérias do que aquelas que o alucinado causou ontem.
Geraldo Alckmin, que já dava sinais de agonia, está, a meu ver, desenganado. Vinha fazendo – até ontem – dos ataques a Bolsonaro um de seus “pontos fortes” de campanha  e perdeu qualquer chance de, a partir do episódio chocante, ter o protagonismo na mídia.
A reação do “mercado” – leia-se aí a corja de especuladores que se batiza com este nome – mostra que Bolsonaro é, definitivamente, o candidato para chamar de seu. Farewell, chuchu.
A campanha de Lula/Haddad, ao meu ver, é a que passa com menos danos, pelo terremoto de Juiz de Fora, embora seja patético o tresloucado esforço para ligar o petismo a isso.
Sabiamente, vinha ignorando, nas suas peças de propaganda, os ódios do ex-capitão. E vai passar a lembrar que a “Era Lula” foi aquela em que nos sentíamos como um só povo. Não, como agora, dois, a disputarem o controle de um mesmo território.
Entrar no mundo das conspirações, do fanatismo, dos pensamentos que se lixam para os fatos só ajuda aos que querem privar o povo brasileiro da razão, exatamente como o choque de fatos como o de ontem tentam nos tirar.
Delírios coletivos são adubo para os loucos.

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