Tijolaço: Lula, o telepata. Ou incrível capacidade de acreditarem em bobagens da mídia

POR  · 02/08/2018

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A Folha publica uma mediúnica matéria – nenhuma fonte direta é citada – dizendo que “Da cadeia, Lula articulou ações que resultaram no isolamento de Ciro“. É claro que Lula orienta o PT, mas daí a dizer que ele “articulou”  tudo vai uma distância que, francamente, beira a comédia.
Seria uma “capacidade” sobrenatural: alguém isolado numa cela, com direito a apenas uma visita semanal (tem outra, mas  é de natureza religiosa), sem telefone, sem internet ou whatsap conseguiu manipular três partidos, além do seu próprio: o PCdoB, oferecendo uma vice a Manuela D’Ávila; o PR, evitando a candidatura de Josué Alencar, e o PSB, levando o partido para a neutralidade na disputa presidencial. E tudo com recados e bilhetinhos!
Uau! Gente que pensa assim deveria encaminhar ao Vaticano um processo de canonização de Lula, porque o milagre já  está aí: o homem é telepata!

“nesta quarta-feira (1º), Lula teve participação direta na negociação que neutralizou o PSB na eleição nacional, afastando-o definitivamente de Ciro Gomes.”
Participação direta? Como, a menos que ele esteja usando o rádio da Polícia Federal – esse Lula é danado, né? – para passar “instruções”. Porque a visita que tem é na quinta, hoje, e os visitantes serão Chico Buarque e Martinho da Vila!
Não espero que gente com um mínimo de inteligência possa dar um pingo de crédito a isso. Lula, claro, orientou Gleisi Hoffman e outros dirigentes do seu partido a conduzirem assim ou assado os contatos com outros partidos ou lideranças, mas daí a ter sido o “articulador” de tudo, francamente…
São os mesmos “gênios” que dizem que a articulação visava essencialmente atingir Ciro Gomes, como se o que ocupasse a cabeça de Lula fosse Ciro – que, aliás, é o maior “desarticulador” de sua própria candidatura, infelizmente. Só faltou dizer que foi Lula quem fez o “centrão”, depois de cortejado pelo ex-ministro, cair nos braços de Alckmin.
Seria o mesmo que dizer que Ciro buscava o apoio do PSB – e este ele buscava, pessoalmente, com inúmeras reuniões – para “isolar o Lula”.
O raciocínio de Lula é bem mais simples e qualquer um pode fazê-lo. Suas melhores fichas estão no Nordeste, onde o ex-presidente, na última pesquisa Vox Populi, tem 58% das intenções de votos. É, portanto, ali que precisa conservar seus votos à prova de riscos e evitar, á todo custo, que se confunda a cabeça do eleitor.
E é lá que o PSB é mais forte politicamente, com os governos de Pernambuco e da Paraíba. É a mesma razão que o leva em não de meter em hostilidades com Renan Calheiros e Eunício de Oliveira. E é por isso que os quatro querem apoiá-lo, porque Lula é mais forte que todos eles.
Ah, mas Lula está tirando o governo do Estado da vereadora Marília Arraes, virtualmente vencedora da eleição local…
Menos, menos…
Primeiro, porque o cacife de Marília, além de suas próprias virtudes, vem do fato de ter migrado para o PT há dois anos com intenso apoio público do próprio Lula, que foi pessoalmente filiá-la.
Depois, porque ela está em ótima posição, mas longe de ter uma vitória assegurada: as pesquisas no estado revelam um tríplice empate, com Paulo Câmara (PSB) na liderança com 25%, seguido de Marília (21%) e de Armando Monteiro (PTB, 17%). E não pensem que só ela levantaria o nome de Lula: Monteiro, aliás, até foi visitar o ex-presidente em sua cela em Curitiba e, por isso, foi obrigado pelo PSDB logal a soltar uma nota dizendo que seu palanque “está aberto” a Geraldo Alckmin.
Mas está bem, acredite quem quiser acreditar que, depois de um golpe, vivendo um estado de deformação judicial em que o presidente do TSE “emenda” uma decisão para incluir a “inelegibilidade chapada” do favorito do pleito, onde se viola a toda hora os dispositivos da Constituição para mantê-lo preso nós devemos, sim, nos guiar pelo “coitadismo” de um candidato que teve tudo para crescer e não cresceu ou por uma questão paroquial do governo de um estado, por mais respeitável que seja, como é Pernambuco.
Enquanto isso, Geraldo Alckmin monta à vontade a salada que o rodeia em São Paulo: o seu ex-preferido Márcio França, o esfarinhado João Dória, o tal do “Vem Pra Rua” e o Pato Skaf, oficialmente com o candidato “de brinquedo” Henrique Meirelles.
O povão não cai nessa, não…

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