Joaquim de Carvalho: Globo e a Lava Jato colocam Haddad na linha de tiro

por Joaquim de Carvalho - no DCM - 11 de agosto de 2018

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Desde o mensalão, setores do Judiciário brasileiro parecem ter colocado seu calendário em sintonia com o das eleições.
Sempre que se aproxima um evento eleitoral importante, são colhidos depoimentos ou cumpridos mandados que podem provocar desgaste nas campanhas do PT.
Quem não se lembra de Alexandre de Morais, em campanha pelo PSDB em Ribeiro Preto, em 2016, antecipando a eleitores que, na semana seguinte, haveria algo impactante relacionado à Lava Jato?
“Vocês vão se lembrar de mim”, disse, com um sorriso maroto.

Dito e feito: na semana seguinte, às vésperas da eleição para governador, Antonio Palocci foi preso, por ordem de Sergio Moro.
O teatro agora se repete.
Ontem, a cinco dias da data de registro da candidatura de Lula e Haddad na justiça eleitoral, o Jornal Nacional deu destaque ao depoimento da publicitária Mônica Moura, colaboradora da Lava Jato, ao juiz Sergio Moro, ele de novo.
Mônica prestou depoimento num processo específico sobre o departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, que, segundo a Lava Jato, fazia os pagamentos de propina.
Fez acusações graves, num depoimento gravado (com áudio, sem imagem), em que menciona Fernando Haddad e Dilma Rousseff.
Não apresentou uma mísera prova, mas suas falas mereceram destaque no Jornal Nacional:
“Chegavam com o dinheiro em mochila, malas ou na roupa, jaquetas, meia, diversas formas. Eu esperava no local pré-determinado, a pessoa chegava, me pedia a senha, entregava o dinheiro e ia embora”.
Disse também:
“Negociei com a Dilma, o valor foi todo negociado diretamente com ela, eu e ela. Pela primeira vez na vida eu negocio diretamente com uma presidente e com um candidato, valores”.
No depoimento, Mônica Moura também citou supostos pagamentos via caixa dois feitos pela Odebrecht nas campanhas para prefeitura de Fernando Haddad e Patrus Ananias, em 2012, além de campanhas no exterior. Disse:
“Nesse caso dos depósitos, que somam US$ 3 milhões, teve um fato inusitado. Como em 2012 foi o ano que fizemos recorde de campanhas, a Odebrecht estava colaborando em quatro das cinco campanhas: Angola, Venezuela, São Paulo Haddad e Minas Gerais, Patrus Ananias. Esses valores, quebradinhos, cada parte se refere a uma dívida. Mas todos campanhas políticas, não todos do PT”.
A repórter Ana Zimmerman, da Globo, informou que a Lava Jato identificou nas planilhas da Odebrecht repasses que somam 23,5 milhões ao casal, em contas no exterior, entre 2014 e 2015, e frisa: “quando a Lava Jato estava em andamento”.
Lembre-se que, nesse período, o casal João Santana/Mônica Moura, fez campanhas no exterior, sempre a serviço da Odebrecht, o que, no mínimo, deveria levantar a desconfiança de que os dois eram, primeiramente, ligado ao grupo empresarial.
Além disso, a repórter não informa que essas planilhas estão sob suspeita de fraude. A perícia da PF não conseguiu comprovar sua autenticidade, já que os arquivos originais, de onde foram extraídas as planilhas, estão inacessíveis.
Há indícios de que seriam mesmo provas forjadas.
Rodrigo Tacla Durán, advogado que trabalhou no setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e que nunca foi sequer mencionado na Globo, já apresentou cópias de arquivos em seu poder que são diferentes das que foram juntadas pelo Ministério Público Federal nos processos sob condução de Moro.
Se Moro quer buscar a verdade — razão de qualquer processo — sobre como funcionava o setor de Operações Estruturadas, deveria ouvir Tacla Durán.
Mas ele foge do advogado como o rato foge do gato, com o pré-julgamento de que não falaria a verdade.
Pode-se dizer que, nesse processo, o testemunho de Tacla Durán não foi solicitado. Mas, em outros, foi. E Moro não quer nem ouvir falar dele.
A Globo também não apresenta esse contraponto, sonega de seu público a oportunidade de colocar na balança tudo o que se refere à Lava Jato e formar sua opinião.
Não é difícil entender por que. Desde que o nome de Haddad começou a ser ventilado como possível alternativa à candidatura de Lula, no PT já se esperava ataques rasteiros a ele.
Já se sabia que viriam da Lava Jato, com repercussão na Globo. Não deu outra. Mônica Moura foi a primeiro petardo. Vêm outros.
Hoje, a Lava Jato é um núcleo da disputa pelo poder político. Escrevi sobre isso em abril de 2018, no artigo “Preste atenção neste nome: Álvaro Dias. Ele é o candidato da Lava Jato e da Globo”.
A Polícia Federal, Ministério Público e a justiça federal em Curitiba, agindo em conjunto, são capazes de atuar para levantar nomes e derrubar outros.
Sozinhas, sem o apoio dos grandes veículos de comunicação — a velha imprensa —, não conseguem muito.
Mas, quando uns seguram (os aparelhos do Estado) e outros batem (a velha imprensa), provocam estragos.
É isso que se viu ontem, no Jornal Nacional. Com a boca de Mônica Moura, deram uma demonstração de força.
Não ficará só nisso.
Eles podem fazer o “faz de conta deles”, mas nós não precisamos engolir calados.
A cada tiro desses, é preciso reagir e contar que o objetivo da Lava Jato é qualquer coisa menos permitir que a democracia tenha o seu funcionamento normal.
Haddad está na mira deles, mas o público em geral já não acredita naquela farsa de Moro super herói. Ele age como parte. Mais do que isso, como político.
Esses tiros podem sair pela culatra.


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