Em clima de velório, Globo reconhece diante de Bolsonaro a verdade dura: apoiou a ditadura; veja o vídeo

Foi um momento constrangedor.
Antes, o silêncio.
Jair Bolsonaro gargalha e diz que vai dar um abraço “hetero” em Fernando Gabeira.
Miriam Leitão é instruída pelo ponto eletrônico.
Repete as palavras que lhe são repassadas, mas gagueja pela dificuldade de repetí-las com algum sentido.
O autor do texto? Possivelmente o chefão do jornalismo, Ali Kamel, ou algum preposto encarregado de defender a família Marinho.
A resposta só veio porque, anteriormente, Bolsonaro havia constrangido os entrevistadores relembrando trechos de um editorial escrito por Roberto Marinho em 1984, nos vinte anos da “Revolução”, em que reafirmava seu apoio ao golpe de 1964.

O golpe de 1964 derrubou o presidente constitucional João Goulart e instalou um regime que cassou políticos, fechou o Congresso, censurou a imprensa, prendeu e torturou resistentes e arrochou salários.
Bolsonaro é fã do regime criminoso que a Globo ajudou a promover.
Não houve reação dos jornalistas à pegadinha de Bolsonaro — possivelmente nasceu daí a necessidade de a Globo ter a última palavra do programa.
O editorial a que Bolsonaro se referiu aparece abaixo: a verdade é dura, a Globo promoveu o golpe de 1964 e cresceu graças à ditadura militar.
Roberto Marinho fez lobby nos bastidores contras as eleições previstas para 1965 que escolheriam o sucessor do primeiro ditador, Castelo Branco, o que foi registrado em telegramas do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, ao Departamento de Estado (ver abaixo).
A ditadura destruiu a TV Excelsior, principal competidora da Globo, que recebeu uma injeção de capital de Henry Luce, do grupo Time-Life, dos Estados Unidos, um empresário que atuava em sintonia com a Central de Inteligência Americana (CIA) durante a guerra fria.
Em sintonia também com a ditadura, a Globo estendeu sua rede física a todo o Brasil graças a investimentos públicos da Embratel, a Empresa Brasileira de Telecomunicações, e a doação de terrenos de prefeituras para a instalação de suas antenas, na maioria das vezes de oligarcas locais interessados em bajular Roberto Marinho ou os militares.
Em troca, a Globo colocava no ar em rede nacional programas bajulando a ditadura, especialmente os de Amaral Netto (ver abaixo). O Jornal Nacional foi usado como uma espécie de Diário Oficial do regime.
Em resumo, quando o jornal O Globo reconheceu o “erro” cometido ao apoiar o golpe, não devolveu as benesses que transformaram a Globo no que ela é graças a favores obtidos de ditadores durante mais de duas décadas.

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