Nassif: FHC e o conceito de radicalidade em consignação

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por Luis Nassif - no GGN - 02/07/2018

O artigo de Fernando Henrique Cardoso no Estadão, “Sejamos radicais” é bastante revelador. Especialmente no trecho em que ele brada:
“O medo da violência reinante e a perda de oportunidades econômicas tornam o eleitorado suscetível às pregações de “mais ordem”. Empunhemos essa consigna, mas sem substituir a lei pelo arbítrio”.
O artigo visa aglutinar o que FHC denomina de candidatura de centro, para combater a selvageria representada por Bolsonaro.

No Twitter, o grande campeão branco Geraldo Alckmin atende ao chamado de seu líder, e pega em consignação propostas de Bolsonaro. Diz que é preciso combater o tráfico de armas e, ao mesmo tempo, autorizar os fazendeiros a se armarem no campo, em um caso clássico de excesso de desinformação. Trata-se daquele que é considerado a alternativa racional da direita.
 

Voltemos ao artigo de FHC e ao malabarismo fantástico para pegar as propostas de Bolsonaro em consignação e revesti-las de terno e gravata,
Abre assim o artigo:
“O Brasil exige: sejamos radicais. Mas dentro da lei: que a Justiça puna os corruptos (N.do A.: deles), sem que o linchamento midiático (N. do A.:dos nossos) destrua reputações antes das provas serem avaliadas. Não sejamos indiferentes ao grito de “ordem!”
Ele não vem só da “direita” política, nem é coisa da classe média assustada: vem do povo e de todo mundo (sic!). Queremos punição dos corruptos e ordem para todos, entretanto, dentro da lei e da democracia.”.
Vai além:
“O País foi longe demais ao não coibir o que está fora da lei, o contrabando, o narcotráfico, a violência urbana e rural, a corrupção público-privada. Devemos refrear isso mantendo a democracia e as liberdades antes que algum demagogo, fardado ou disfarçado de civil, venha a fazê-lo com ímpetos autoritários”.
O artigo contem uma sucessão de lugares-comuns que não ficam devendo em nada ao soberano máximo Luís Roberto Barroso.
Qualquer análise de estilo constatará que não foi FHC que o escreveu. FHC é fraco de propostas, mas tem um estilo escorreito, incapaz de empunhar uma consigna, seja lá o que isso signifique.
A marca dos grandes estadistas sempre foi a facilidade em identificar as propostas básicas e saber explica-las. Vale para Roosevelt e para Reagan, para Felipe Gonzales e para Margareth Thatcher. Valia para Mário Covas e Franco Montoro, nos tempos em que o PSDB tinha um mínimo de consistência programática.
FHC inaugurou a era do lero-lero. É um ping-pong fenomenal entre o consignado e o politicamente correto, uma balbúrdia que, se fosse uma bússola, deixaria o seguidor perdido no meio do Sahara atrás de água:
PING - Só com soldados armados se enfrentam os bandidos, eles também com fuzis na mão. 
PONG - Se não há mais espaço para a pregação e a condescendência, tampouco queremos, entretanto, que a arbitrariedade policial prevaleça. 
Em qualquer país civilizado, o crime organizado é combatido pela Polícia. FHC jamais ousaria uma afirmação dessas em um dos seminários do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Para fora, vale qualquer demagogia.
PING: A Constituição preserva, e isso deve ser mantido, tanto a intangibilidade e os limites sociais da propriedade privada como os direitos humanos fundamentais. 
PONG - Mas ela não abriga atos de violência nem de desordem continuada.
PING - Entende-se a motivação dos sem-teto, como também a dos sem-terra.
PONG - Há que dar um basta a tanta desordem. Façamo-lo com a Constituição nas mãos, antes que outros o façam, em nome da ordem, mas sem lei.
O que dá gás às invasões é a falta de políticas públicas que assegurem o cumprimento da Constituição, desapropriando propriedades improdutivas, com passivos fiscais e ambientais.
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PING - Que os governos se unam à iniciativa privada se for necessário e lhe cedam o passo quando for mais racional para assegurar o atendimento às necessidades do povo.
PONG - Um programa simples como esse requer autoridade moral dos que vierem a nos comandar. (...)  Só assim levaremos adiante as reformas, incluída a da Constituição, sem que os poderosos se tornem suspeitos de estar a serviço das oligarquias políticas, econômicas e corporativas.
Em qualquer nação civilizada, a maneira de fiscalizar a prestação de serviços públicos, seja pelo Estado ou pelo privado, é através de conselhos de cidadãos. Para FHC, basta a autoridade moral. Quem é o demiurgo capaz de privatizar ou terceirizar serviços públicos sem despertar suspeitas de jogadas? FHC?
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PING - O medo da violência reinante e a perda de oportunidades econômicas tornam o eleitorado suscetível às pregações de “mais ordem”.
PONG - Empunhemos essa consigna, mas sem substituir a lei pelo arbítrio. Ordem na lei e com bases morais sólidas.
Enquanto o grupo que FHC teima em chamar de centro se afoga na ausência de um discurso consistente de seu guru máximo, a política se move no Instagram. E o político que o PT colocou como vice-presidente decorativo e que FHC entronizou como presidente de fato, mostra o nível da política atual.
No perfil oficial do Planalto, os gênios da comunicação do governo Temer colocam uma montagem do Palácio do Planalto, atrás, uma bola imensa e um texto estranho:
“CÉU ESTRELADO
Não é conversa de outro planeta, os números mostram a melhora do País nos últimos anos. Consertamos uma economia e, de quebra (PS: e de quebra!) liberamos os FGTS, prestamos muitas das suas prestações às suas despesas. Estamos buscando alternativas para o povo brasileiro crescer e viver melhor”.
Ao lado, os comentários provavelmente semelhantes aos que serão motivados pela  tal “autoridade moral” apregoada por FHC.
jolusadasiMentirosos, Golpistas, Safados, você ainda vai pagar por tudo isso !!!
realmauriciofrancaMelhor quem pra quem cara pálida?
lanysbergEm outro planeta MESMO !!!
victor.reisMelhorando ????????? Estou quase correndo há quase 3 anos, o mercado de trabalho esta merda, uma perspectiva existe a melhoria, a vida ta PASSANDO e vcs dizem que o país está crescendo ?????? Melhorando pra quem ?????? Governo mais sem.vergonha que ja existiu !!!!!!! Obs .: amanha entro de novo p é exibida no meu comentario

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