Chico Buarque: Tivesse Lula imóveis e contas no exterior, talvez fosse melhor tratado
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O depoimento abaixo foi escrito pelo cantor, escritor e compositor Chico Buarque para o livro Lula Livre/Lula Livro, uma coletânea de textos de vários artistas e intelectuais acerca da situação do ex-presidente, preso na Lava Jato. Em seu texto, Chico Buarque lembra um episódio antigo que vivenciou com Lula e diz não confiar que a Justiça brasilera será imparcial e corrigirá a sentença imposta ao petista por Sergio Moro. "Lá de dentro ele mandou dizer que já que não confia na Justiça. Nem eu."
Na visão de Chico, o ódio da Lava Jato e da mídia a Lula é, na verdade, reflexo do ódio aos mais pobres. "Tivesse ele imóveis na praia e dinheiro no exterior, talvez fosse mais bem tratado pelas autoridades", afirmou o cantor, que fará parte do Festival Lula Livre, no Rio de Janeiro, na noite deste sábado (28).
O texto foi divulgado pelo blog Diário do Centro do Mundo.
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Lula, por Chico Buarque
— Eu nunca tive nada contra o Lula. Eu inclusive estive com ele naquela casa lá de pobre em São Bernardo. Depois eu e a Ruth convidamos o Lula para passar um fim de semana em Ubatuba com a Marisa. Aí ele reclamou que não tinha água quente no chuveiro da casa. Imagina! O Lula!
Era o Fernando Henrique, sempre simpático, em reunião com artistas às vésperas das eleições de 1994. Naquele tempo ainda se podia achar graça numa anedota assim. Era um deboche, era um comentário preconceituoso, mas não havia um pingo de ódio naquelas palavras.
Lula ainda não era o chefe de organização criminosa, o ladrão, o comunista, o cachaceiro, o nine, o boneco vestido de presidiário enforcado ao lado de Dilma num viaduto de São Paulo. Ainda não tinha sido condenado sem provas, por imprensa, televisão, procuradores esquisitões e juízes deslumbrados, como proprietário de um triplex, ou tríplex, no Guarujá.
O ódio ao Lula é o ódio aos pobres. Tivesse ele imóveis na praia e dinheiro no exterior, talvez fosse mais bem tratado pelas autoridades que o trancaram e o mantêm isolado numa cela da Polícia Federal. Lá de dentro ele mandou dizer que já não confia na Justiça. Nem eu. Só espero que ele tenha água quente em Curitiba.
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