Aécio colhe o que plantou: de golpista a pária, busca refúgio em mandato na Câmara

REUTERS/Ueslei Marcelino
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por Mauro Lopes - no 247 - 18/07/2018

A trajetória de Aécio Neves é um exemplo de como alguém consegue em pouco tempo e por um gesto movido a ressentimento, jogar sua biografia na lata de lixo. Pode parecer inacreditável hoje, mas o político mineiro, neto de Tancredo Neves, teve mais de 51 milhões de votos no segundo turno das eleições presidenciais há quatro anos e parecia fortíssimo concorrente à sucessão de Dilma em 2018. Em vez de tornar-se o líder da oposição ao governo do PT, lançou-se na aventura de comandar o golpe de 2016; o golpe foi bem sucedido, mas abriu uma crise brutal no país e Aécio, identificado pela população como responsável pela trama e símbolo da corrupção na política, tornou-se um pária.

De virtual líder de uma coligação para concorrer contra o PT em 2018, Aécio divide-se hoje entre as alternativas de deixar a vida política ou refugiar-se num mandato de deputado federal na Câmara dos Deputados. O algoz de Dilma vê a ex-presidente como favorita às eleições ao Senado no Estado natal de ambos, de onde ela saiu perseguida pela ditadura militar. Perseguida pela ditadura de 1964 e pelo golpe de 2016, volta consagrada à sua Minas Gerais, admirada no país e no exterior, convidada a participar de relevantes fóruns internacionais, enquanto Aécio contenta-se com encontros furtivos com outro pária, Michel Temer.

A derrocada de Aécio tem local, dia e horário de seu início delimitados. Começou exatamente às 19h32, noite de 26 de outubro de 2015, no apartamento de sua irmã, Andréa, em Belo Horizonte. Foi o momento em que, cercado por amigos, amigas, tucanos, tucanas políticos aliados e os puxa-sacos típicos deste momento, assistiu na TV o anúncio de que tudo estava perdido, a derrota para Dilma estava consumada.

É raro que isto aconteça, mas este momento foi registrado numa foto histórica:

aécio neves anúncio da derrota luciano huck apuração
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Ladeado pelo então presidente do DEM, senador Agripino Maia, e com seu "amigo do peito" Luciano Huck logo atrás, os três e os circunstantes assistem, na foto, já em clima de velório, o anúncio oficial: com 95% dos votos apurados, a reeleição de Dilma estava selada. 

Apenas dois minutos antes, às 19h30, haviam sido estouradas champanhes depois que Aécio recebera um telefonema assegurando-lhe a vitória. A expressão de um Aécio enlutado, humilhado diante de plateia depois da festa prematura pela vitória afinal abortada, entrou n'alma do político que, a partir daquela noite, considerando-se "roubado" (apesar de legitimamente derrotado nas urnas) começou a fermentar o golpe de Estado.

Uma espécie de maldição caiu sobre os três personagens mais conhecidos da foto histórica.

Aécio tornou-se no que se vê hoje. Mesmo com o cordão de proteção da elite do Judiciário em torno de si, é réu em uma ação no STF que apura os crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça no episódio em que arrancou R$ 2 milhões de Joesley Batista e investigado em inquéritos derivados da Operação Lava Jato e oscila entre a aposentadoria aos 58 anos e, no máximo, a uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Agripino Maia responde a quatro inquéritos no STF, sendo réu em dois deles. Há poucos dias, anunciou sua desistência em concorrer à reeleição ao Senado no Rio Grande do Norte, disputando uma vaguinha na Câmara dos Deputados e obrigado a dar uma cotovelada no próprio filho, Felipe Maia, que não disputará a reeleição para dar uma forcinha ao pai.

Luciano Huck foi abatido em peno voo quando imaginava-se já comandando seu caldeirão no Palácio do Planalto, distribuindo benesses e contratos aos amigos, numa versão caricata de Berlusconi -o que é um desafio quase hercúleo, pois o político italiano é ele mesmo uma figura caricata.

O golpe derrubou Dilma e prendeu Lula. Mas ela é favorita a uma vaga no Senado; e Lula vencerá as eleições presidenciais de 2018, provavelmente já no primeiro turno, se as elites nacionais não conseguirem tirá-lo da disputa. Ambos são admirados no Brasil e no exterior, citados por presidentes, primeiros-ministros, parlamentares, lideranças políticas e sociais em todo o planeta como referências de governo democrático e de inclusão econômica, social, cultural e política dos mais pobres.  

A Aécio sobrou esconder-se pelos cantos e encontrar-se clandestinamente com seu parceiro Michel Temer.        

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