Sergio Saraiva: Lula ou Pirro contarão os votos em 2018

A oligarquia brasileira – ao impedir Lula de participar das eleições de 2018 – se nos colocaram diante do Dilema de Pirro – a vitória custará mais caro que a derrota.


lula e o povo
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Por Sergio Saraiva - junho 10, 2018

Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar. É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança; porque o perdão também cansa de perdoar”.
Versos de Vinícius de Moraes para a canção “Regra Três”. Lindos e doloridos – como não podiam deixar de ser. Descrevem a perfeição o momento atual do povo brasileiro em relação às eleições de 2018.
Eleições que a nossa oligarquia – a plutocracia e seu conluio com a grande mídia e o Judiciário – tentam manipular, escolhendo quem pode ou não dela participar, na sua marcha da insensatez de buscar implantar no Brasil a democracia sem povo.

Os oligárquicos comandaram dois golpes sucessivos e vitoriosos. A deposição de Dilma Rousseff e a prisão de Lula. Há ainda quem tenha informação e sinceramente acredite nas histórias das “pedaladas” e do “tríplex”? E acabaram com um país em frangalhos.
A insurreição burguesa intentada desde a insubmissão aos resultados das urnas de 2014 – quatro anos atrás – colocou uma quadrilha no comando do governo e destruiu a economia, o moral e as instituições do país. Vivemos uma crise econômica, política e institucional. E de autoconfiança – tornamos a ser um país de jabuticabas e vira-latas.
Nunca precisamos tanto de um líder.
Um líder que tivesse credibilidade para agregar a nação – ainda que não possa torna-la una – o golpe cortou fundo as tramas do tecido social que nos congregava – conciliar nossos estratos sociais em torno de um projeto de reconstrução nacional. E credibilidade para obter dessa nação a aceitação dos sacrifícios que serão necessários.
Esse líder é Lula.
Não necessariamente como presidente, mas antes como “como uma ideia”. Mas também como presidente, por que não?
Até porque, se esse líder não é Lula, é quem?
Alckmin, Marina Silva, Bolsonaro ou Ciro Gomes – algum deles é o líder que nos guiará até 2022?
Veja-se o que mostra a Pesquisa Datafolha  de junho de 2018.
É Lula quem está no imaginário popular associado aos “momentos felizes”. Nunca precisamos tanto de acreditar em momentos felizes vindouros.
Lula - satisfação
Nunca fomos tão felizes.
Alckmin, Marina Silva, Bolsonaro ou Ciro Gomes. Qual deles tem a capacidade de formar uma maioria? Eis a questão do eleito em 2018. Sem Lula nas urnas, cerca de um em cada três eleitores não tem um candidato.
Lula X sem candidato
Mesmo em um segundo turno entre Marina Silva – que é quem mais herda votos dos órfãos de Lula – e Bolsonaro – que é quem polariza pela extrema direita – o índice de eleitores sem candidatos é de 26%. Votariam branco, nulo ou não sabem em quem votar – votariam em ninguém. Em uma simulação de Marina contra Alckmin, esse índice sobe para 31% do eleitorado. Para termos uma comparação, nas eleições presidenciais de 2014 – polarizada entre Dilma e Aécio Neves – o índice de votos válidos foi de 94% – apenas 6% votaram branco ou nulo.
Como será possível reconstruir uma nação quando cerca de 30% do povo não se vê representado pelo seu governante? A falta que Lula faz nas eleições.
Ilusão achar que retornaríamos à condição do brasileiro laissez-faire. A recente paralisação dos caminhoneiros deveria ter deixado claro o que ocorre quando há falta de representatividade.
Ilusão acreditar que uma campanha massacrante onde o Judiciário trataria de calar o PT e a polícia os insatisfeitos nas ruas. E então Alckmin, sendo dono do maior tempo de televisão – com Marina e Bolsonaro emudecidos em seus poucos segundos diários – convenceria o povo a apoiá-lo baseado em vídeos onde todos sorriem – inclusive e principalmente os pretos e pobres – e “Geraldo – o trabalhador” salva a Pátria.
Esperarmos pelo início da campanha, para avaliarmos o que ocorrerá nessas condições, será consolidarmos a situação de divisão do país em três partes irreconciliáveis. Até porque Bolsonaro não precisa de televisão – seu povo é o reacionário macho zangado da internet.
alckmin X bolsonaro
Ilusão de acreditar que alguém pode governar com a minoria tendo dois terços do eleitorado contra si. Ganhem Alckmin ou Bolsonaro, só teriam apoio de 33% do eleitores.
Com Lula impedido de sequer participar. Com um povo sem esperanças e cansado de perdoar e em meio a o que será uma crise permanente trazida pela continuidade de um governo não legitimado – e sem outra eleição próxima para resolver a questão – o que tem sido a tábua de salvação do governo Temer – como impedir que cada categoria passe a buscar através de movimentos reivindicatórios uma solução para si, desassociada do conjunto da nação?
O que faríamos, dado que não há ganhos para ninguém no curto prazo; e sim a necessidade de um esforço concentrado para normalizar o país?
Convocaríamos as Forças Armadas a sair às ruas? O STF baixaria uma “súmula vinculante” obrigando o povo a trabalhar e calar a boca? O Ministério Público abriria quantos inquéritos e a Polícia Federal faria quantas conduções coercitivas? O Jornal Nacional daria quantos minutos de reportagem para culpar os maus brasileiros pela desgraça do povo?
Para responder a essas perguntas, basta, mais uma vez, ver como aturam na paralisação dos caminhoneiros essas forças que – contra o PT – vinham protagonizado o nosso processo político. Ficaram inertes. Não tiveram credibilidade para intervir. Faltava-lhes a legitimidade vinda da representatividade.
Não nos representam – diziam os caminhoneiros.
Legitimidade – a principal característica a buscar nos candidatos à presidência em 2018. Sem a legitimidade do eleito, não chegaremos a 2022. E a legitimidade do eleito – seja quem for – depende da participação de Lula nas eleições.
Sem Lula nas eleições, será Pirro quem contará os votos.

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