Tereza Cruvinel: O custo inútil

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Mateus Bonomi/foto 
Preso há dois meses em Curitiba, o ex-presidente Lula terá sua candidatura a presidente lançada hoje pelo PT em Contagem (MG), numa estratégia criticada à esquerda e à direita como de alto risco, por conta da provável impugnação. Tanto interesse, ironizam os petistas, “é comovente, mas iremos em frente”. Seja como for, não funcionou o plano dos que achavam que removendo Lula da disputa – com a providencial celeridade do TRF-4 na condenação em segunda instância – colocariam a sucessão no rumo desejado, com um candidato da centro-direita em posição competitiva. 
Ontem tivemos nova estridência de origem eleitoral no mercado, por conta da solidez de Bolsonaro e do avanço de Ciro para o segundo lugar, em cenários sem o nome de Lula na cartela, como na pesquisa Poder360. O dólar aproxima-se dos R$ 4, a bolsa cai, o governo garante que não haverá crise cambial, mas a onça rosna para o Brasil. E não apenas por razões eleitorais, mas, também, por conta da deterioração das contas públicas e da explosão da dívida. 

E para completar, a situação judicial de Temer se agrava a olhos vistos, com o avanço das investigações sobre suas relações com o suspeito de ser seu testa-de- -ferro, o coronel Lima. O ministro Luiz Fachin, do STF, negou autorização para a quebra de seu sigilo telefônico mas autorizou a dos ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha. Ruim para os três, que são investigados no inquérito sobre o recebimento de R$ 10 milhões da Odebrecht, que teriam sido acertados num jantar no Jaburu com o então vice-presidente da República. 
Se vier a terceira denúncia, dificilmente será votada, faltando tão pouco tempo para o pleito. Mas, depois do precedente aberto com a prisão de Lula, Temer corre o sério risco de ser preso logo após deixar o Planalto. 
Fernando Henrique entrou na pauta político-judicial com a revelação dos e-mails em que pede à Odebrecht ajuda de campanha para candidatos do PSDB. Ele já era ex-presidente na época, tanto quanto Lula quando visitou o apartamento que lhe foi atribuído por Sérgio Moro, e pelo qual está preso. Mas nada deve lhe acontecer, e não pela blindagem que tem sido garantida ao PSDB. Se houve doação via caixa 2 (como tudo indica, pois, seus protegidos não declararam doações da empreiteira), o crime foi de quem recebeu. Mas saiu chamuscado. 
Assim, a prisão de Lula, além de não ter resolvido o problema eleitoral da centro-direita, criou na sociedade a exigência de uma isonomia no tratamento de ex-presidentes. A situação de Temer tornou-se tão periclitante que gerou boatos sobre a improvável aprovação de um indulto a ex-presidentes acusados. Isso lá adiante, quando a eleição tiver passado e Lula não for mais perigo. 
De todo modo a prisão de Lula, com tudo o que representa de casuísmo político, pela inconsistência das provas, por todo o desgaste que impõe ao sistema de Justiça e à imagem do país, revela-se de uma atroz inutilidade para a centro-direita que nela apostou. O mercado está nervoso porque deduziu que uma vaga do segundo turno será de Bolsonaro. E que a outra será da centro-esquerda, seja com Ciro, seja com o substituto de Lula, ou com ele mesmo, se o PT tiver êxito na batalha judicial que está disposto a travar. 
NO RADAR 
A brigalhada no PSDB faz de Alckmin um sério candidato a ser cristianizado, aquela situação em que os correligionários abandonam o candidato, como fez o PSD com Cristiano Machado em 1950. São fortes as suspeitas de que o primeiro a fazer isso pode ser o candidato tucano a governador João Dória, que tem grande afinidade ideológica com Bolsonaro. Uma aliança branca entre os dois poderia garantir ao tucano a vitória em primeiro turno. 
Ontem Alckmin resolveu provocar Bolsonaro com um convite para debater segurança pública e levou uma canelada: “quando tiver dois dígitos, ele me telefona”. O presidenciável de extrema-direita vem comendo os votos do tucano em São Paulo.

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