Relatório sobre o passamento do pássaro expiatório

por Sergio Saraiva - maio 10, 2018 - Poesia


cancellier
.
Ao reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo
O teu corpo passarinho voa pelos céus da ilha e projeta uma sombra de luto e denúncia sobre teus assassinos. Teu corpo passarinho torna-se um indicador frente a fronte do teu acusador.
Teus assassinos, com as mãos sujas do teu sangue, buscam ocultar as marcas da infâmia, que trazem nas palmas, cerrando os punhos contra ti. Teu sangue, então, mina de entre os dedos dos teus assassinos. Escorre pelos antebraços que eles mantêm erguidos sobre nossas cabeças e pinga em nossas caras.

Trazidos à luz que a sombra do teu corpo passarinho lhes projeta, teus assassinos buscam cegar nossos olhos para que não os vejamos como são revelados – teus assassinos. Com suas canetas, vazam-nos as vistas.
E das nossas órbitas dilaceradas pelas palavras estacas dos teus assassinos, as nossas lágrimas lavam o teu cadáver que velamos todos os dias em câmara ardente – não podemos sepultá-lo. Tua tumba está interditada por um inquérito policial.
Teus assassinos observam-nos de trás de seus véus de imposturas e de suas vigias de poder.
Tomam-nos por sem luz. Lúcidos de dor, vemos o teu corpo passarinho voando sobre a nuca dos teus assassinos – cangando-lhes as calvas.
O clarão que nasce do teu voo passamento nos ilumina e enxergamos na escuridão deste momento.

Comentários